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Publicado a: 09/02/2016

J Dilla pelo Hip-Hop Photo Museum

Publicado a: 09/02/2016

[TEXTO] Joaquim Meireles [FOTO] Direitos Reservados/Hip-Hop Photo Museum

 

J Dilla foi um génio. De forma irrefragável continua a ser um dos artistas mais talentosos e versáteis dos nossos tempos. Ele foi DJ, cantou, compôs e tocou instrumentos musicais ao longo da sua carreira e a sua contribuição para a cultura fez dele uma lenda e um nome para sempre gravado na história da música. O que destingiu o músico de Detroit dos outros artistas foi o facto de ele estar interessado em explorar a música e não a fatuidade. Qual é o melhor produtor de Hip-Hop de todos os tempos? Não tenho a certeza, mas certamente J Dilla está incluído nessa lista.

O conceito de invenção e de criar algo do nada é o que distingue o Hip-Hop dos outros estilos musicais. Uma das maiores qualidades de J Dilla foi estar constamente a reiventar seu estilo para encontrar novas formas de expressão. Em 2004 mudou-se de Detroit para Los Angeles. Um ano mais tarde quando estava a trabalhar no álbum criticamente aclamado The Shining foi fotografado por Raph Rashid para o livro Behind the Beat: Hip-Hop Home Studios. O estado de saúde de J Dilla era vulnerável e extraordinariamente em nada afectou o processo de criação do músico. As três seguintes imagens representam o lado visual detrás da batida durante este período da vida de Dilla. (©Raph Rashid)

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B+ deslocou-se a Detroit em 2003 a convite da Stones Throw Records. A presença incessante de B+ no seguimento do projecto Jaylib foi fulcral para o registo visual durante a gravação do álbum Champion Sound. B+ captou J Dilla no seu home studio em Detroit e a imagem foi utilizada para a contra capa da obra-prima. (©B+ aka Brian Cross)

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J Dilla era  colecionador de discos e tinha uma sublime cultura musical. Neste retrato datado de 2003,  B+ fotografou Dilla passando em revista vinis numa loja em Detroit chamada Car City Records, apresentando-se com os habituais atributos de um crate digger. (©B+ aka Brian Cross)

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Esta icónica imagem datada de 2003, clicada por B+, mostra J Dilla no lado de fora de sua casa em Detroit. (©B+ aka Brian Cross)

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Em 2005, a convite da CineSesc, B+ e seu parceiro Eric Coleman da Mochilla foram apresentar o documentário Keepintime: Talking Drums and Whispering Vinyl num festival de cinema de Hip-Hop em São Paulo no Brasil.  Na altura a Mochilla estava a finalizar o filme Brasilintime e acharam por bem convidar J Dilla. Naturalmente Madblib, parceiro na aventura Jaylib, não ficou de lado e voaram todos juntos. J Dilla foi um dos primeiros produtores de Hip-Hop a samplar música brasileira e os privilegiados foram os Pharcyde na música “Runnin’“. Esta icónica imagem de J Dilla e Madlib foi clicada por B+ na Discomania em São Paulo. (©B+ aka Brian Cross)

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J Dilla sofria de uma doença sanguínea rara que o debilitou e levou à morte. Ele foi enterrado na manhã de 14 de Fevereiro de 2006 em Los Angeles, na presença de figuras representativas do Hip-Hop & Soul, como Pete Rock, Erykah Badu ou Common, entre outros. Durante a cerimónia fúnebre surgiu um avião no horizonte que começou a desenhar um coração em forma de fumo, sendo o momento registado por B+. Era dia dos namorados nos Estados Unidos e o funeral coincidiu com uma mensagem de amor. Questlove emocionado disse que esta foi imagem mais bonita jamais captada pelo fotógrafo, pois o que estava realmente acontecendo no momento de despedida de Dilla era amor. (©B+ aka Brian Cross)

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J Dilla fez o melhor com a sua carreira, mostrou tudo o que sabia, inclusive tocar bateria. Multiplicou-se em projectos pessoais e colaborações com os melhores artistas da Neo-Soul e Hip-Hop. Roger Erickson captou a autenticidade de Dilla nesta simbólica fotografia rodeado de instrumentos musicais em 2005. (©Roger Erickson)

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Numa fotografia é importante o domínio técnico para servir de meio de comunicação. Johnny Tergo foi eficaz na captação expressiva de J Dilla nesta imagem que pertence ao photo shoot do álbum The Shining. (©Johnny Tergo)

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Todas as músicas de J Dilla são intemporais e tiveram uma influência inconfundível. As 10 faixas que selecionei do produtor/MC foram escolhidas aleatoriamente, sem ordem de preferência.

 

[ERYKAH BADU] “Didn’t Cha Know” (Produtor – J Dilla)
(Mama’s Gun, Motown, 2000)

A interação rítmica e interferências estáticas minuciosamente construídas colocaram J Dilla no escalão dos melhores produtores. Ele samplou “Dreamflower” dos Tarika Blue como base da batida e nesta inquietação criativa construiu uma das grandes faixas da neo-soul.

 


[RAEKWON, INSPECTAH DECK, GHOSTFACE KILLAH] “House of Flying Daggers” (Produtor – J Dilla)
(House Of Flying Daggers, Lexington, 2009)

A quantidade de material que J Dilla gravou ao longo de sua carreira foi inumerável, as suas eternas batidas continuam a expandir-se para MCs lendários.

 


https://www.youtube.com/watch?v=1IzLoix5s4Q

[PHAT KAT feat. ELZHI] “Cold Steel” (Produtor – J Dilla)
(Carte Blanche, Look Records, 2007)

É impressionante a entrega de J Dilla neste acto modernizado do clássico Hip-Hop. Durante anos apurou os ouvidos de Phat Kat e Elzhi para escolherem instrumentais que complementassem as rimas de ambos. “Cold Steel” foi criado nesta empatia em que as combinações providenciaram um clássico intemporal.

 


https://www.youtube.com/watch?v=JMoHezlA0a0

[DE LA SOUL] “Stakes is High” (Produtor – J Dilla)
(Stakes Is High, Tommy Boy, 1996)

Os samples de Ahmad Jamal contribuíram para alguns dos maiores registos de hip hop de todos os tempos. O mestre da MPC serviu o testemunho samplando o lendário pianista, acrescentando uns tambores fluídos e prolíficos que originaram uma música sem data de validade.


[JAYLIB] “The Heist” (Produtor – J Dilla)
(Champion Sound, Stones Throw Records, 2003)

“The Heist” é inquestionavelmente uma das produções mais inovadoras de hip hop. J Dilla esculpiu pormenorizadamente a batida para construir um monumento musical.


[SLUM VILLAGE] “Raise it Up” (Produtor – J Dilla)
(Fantastic, Vol. 2, GoodVibe, 2000)

O sample de “Raise It Up” foi retirado da música “Extra Dry” de Tom Bangalter dos Daft Punk. J Dilla usou o sample sem permissão mas devido a genialidade do produtor, a forma de pagamento pedida a J Dilla e ao seu grupo Slum Village foi misturarem uma das músicas de Daft Punk. O poder criativo de Dilla não deixou ninguém indiferente.


[J DILLA] “Won’t Do” (Produtor – J Dilla)
(The Shining, BBE Records, 2006)

Rendido ao boom bap, as músicas de J Dilla são facilmente reconhecíveis pelos tambores agudos e pormenores de teclado minimalistas. Dilla é na maioria das vezes relembrado como produtor, nesta música comprovou que também tem proficiência no microfone.


[PHARCYDE] “Runnin’” (Produtor – J Dilla)
(Labcabincalifornia, Delicious Vinyl, 1995)

J Dilla era uma enciclopédia musical. No seu estúdio tinha milhares de discos incluindo música Brasileira, Bossa Nova e Samba e foi nesta liberdade musical que samplou a música “Saudade Vem Correndo” de Stan Getz que se tornou numa das músicas mais importantes de hip hop.


[J DILLA] “Last Donut of the Night” (Produtor – J Dilla)
(Donuts, Stones Throw Records, 2006)

A capacidade de experimentar do produtor era emocional e intimista. J Dilla não precisava de cantar porque sua poesia era sónica e transmitida através das batidas.


[RAEKWON and HAVOC] “24K Rap” (Produtor – J Dilla)
(Jay Stay Paid, Nature Sounds, 2009)

J Dilla tinha um apetite ávido para construir batidas que ficaram como testamento para os melhores MC’s manterem sua memória viva.

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