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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/03/2020

O tema produzido por AceMo é o primeiro avanço de Ize Cream Man, “uma injecção directa de açúcar” por parte do artista de Bridgeport, Connecticut.

ize mostra quem manda em “This Is Not a Drill”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/03/2020

Há um misto de autoridade e sensualidade nos primeiros segundos do videoclipe de “This Is Not a Drill”, tema de ize que tem estado em forte rotação por aqui desde que surgiu no YouTube há uma semana. Em cima de um introdutório break incompleto em loop, num tom que gera suspense quanto ao futuro da malha, os berros do rapper metem-nos rapidamente em sentido para o que se vai passar a seguir. A postura — e até a voz — fazem lembrar DMX no auge da sua irreverência, só que ize é produto de uma escola diferente. O “vírus porto-riquenho”, uma descrição dada pelo próprio numa troca de impressões com o ReB, tem as suas coordenadas apontadas para a cena electrónica mais hardcore que se faz a partir de Londres, como o jungle, o drum and bass ou o grime, géneros que surgem vincados neste “This Is Not a Drill”.

O produtor certo ajuda. Apesar de ser nova-iorquino, AceMo, creditado na batida e parte da “família” de ize, com quem divide espaço no colectivo Swim Team, é seguidor acérrimo dessa sonoridade post-club que rebentou na capital britânica durante os anos 90, revolução levada a cabo por nomes como Autechre ou Aphex Twin. É dele, aliás, que surgem até as poucas criações inteiramente originais dignas de menção no SoundCloud quase estagnado do rapper. “Double Stack” (de 2018) e “Ghost” (de 2015) são propostas completamente válidas tendo em conta o actual espectro da cena underground, “os clássicos”, como lhes chama ize.

“This Is Not A Drill” é só mais uma prova da intemporalidade das peças que o “water body builder” assina. Edição fresca, o rapper revelou-nos que a faixa já leva dois anos de maturação dentro do seu arquivo, mas a verdade é que o primeiro avanço de Ize Cream Man cheira a brinquedo novo para quem só o está a escutar agora. “Isto começou com um freestyle que eu fiz no quarto do AceMo mas que odiei. Mais tarde gravámo-lo no meu estúdio, bêbados e sob o efeito de óxido nitroso, algumas semanas depois de termos concluído outras quatro faixas”, explicou. Ize Cream Man é o sucessor de Who The Hell Is Me, lançado há quatro anos pela bootleg tapes, e vai ser uma edição de autor, cuja reserva já pode ser feita a partir do Bandcamp, com o disco agendado para aterrar na plataforma que atravessa um óptimo momento no dia 5 de Junho. “Vai ser uma injecção directa de açúcar”, disse-nos acerca das oito faixas que nele estarão compiladas. A julgar pelo primeiro single, este é um daqueles projectos que não nos admiraríamos ver no catálogo da Warp, que até já colocou ize sob o seu radar. Apontado pela Fact como um rapper “anti-drill”, o porto-riquenho esclarece que a única guerrilha que veio incitar mora apenas dentro dos nossos headphones. “Eu adoro a cena drill que está a acontecer, especialmente a de Brooklyn. Eu até gravei um tema de drill logo após ter gravado este. Mas essa faixa não fará parte do álbum.”

A relação de ize com a música começa cedo ao sabor dos DJ sets que o pai lhe tocava durante anos desde bebé, até ter maturidade para decidir o que realmente os seus ouvidos pedem. “Eu ouvia imenso reggaeton durante a minha adolescência, por isso é daí que muita da energia e sensualidade vêm. Ultimamente apenas escuto as minhas coisas, ou ouço salsa quando estou sozinho”. As primeira criações surgem numa fase prematura da adolescência — “é a minha namorada desde então.” Além de Who The Hell Is Me, o artista agora sediado em Brooklyn conta também com três volumes de mixtapes — a série Izeman reside apenas no SoundCloud — que podem explorar livremente enquanto esperam por Ize Cream Man. ize não se despediu de nós sem levantar um pouco mais o véu ao disco que nos está a gerar bastante expectativa: “Este álbum foi mesmo uma cena maradíssima mas consciente. Muito divertido e natural de criar e limar. Há coisas que foram feitas em Nova Iorque, outras em Londres, outras estava fora de mim quando as fiz. Mas é um produto que considero como um filho meu. Toda a produção veio de artistas com quem mantenho uma relação mais próxima, desde a intro, que é toda tocada, sem samples, e uma peça lindíssima do meu mano Pablo (ainda precisa de arranjar um alter-ego), à loucura com que a participação da Eartheater me abençoou. Sem esquecer o psicopata de um produtor que é o Color Plus (lançou recentemente uma compilação que devem ouvir) e, claro, o doido do AceMo. Em suma, a produção do projecto é feita por mim, pelo AceMo, o Color Plus e o Pablo. Estou bastante entusiasmado para ver o que é que isto consegue fazer pela música.”

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