Demorei um tempo para ouvir IVYSON. Mesmo com o radar ligado, alguns artistas passam despercebidos. Porém, em algum momento o encontro vai acontecer e você vai se perguntar: “Por que descobri só agora?” Quando fui apresentado ao cantor, compositor e músico de Recife, no Nordeste do Brasil, tive a mesma reação. Sua autenticidade, desenvolvida pela fusão de diferentes elementos da música global com a regional, tem o tornado um dos nomes da música alternativa brasileira que vem ganhando destaque fora do país.
De voz suave, canções sensíveis e uma estética que não segue padrões, o próprio IVYSON não consegue explicar porque suas músicas são mais ouvidas em Portugal do que na cidade em que nasceu. O país é o segundo na lista dos principais ouvintes do artista no Spotify. Por isso, ele desembarca em Lisboa para um concerto intimista e acústico do álbum AFINCO (2024) no dia 30 de maio no Tokyo. Nesta conversa, IVYSON fala dessa primeira incursão na Europa, da vida artística e os desafios que teve de enfrentar para se tornar artista, bem como das suas composições.
Quem é o IVYSON e como você começou na música?
Então, eu começo na música ainda muito pequeno, com oito anos mais ou menos. Eu vim de uma família que é evangélica e todo mundo gostava de se reunir, conversar e ficar cantando, cantando, cantando. E eu lá no meio… Tenho um tio que era maestro e ele sempre estava com violão, tocando piano, teclado, e fazia uns acompanhamentos. Eu já gostava de instrumentos, gostava de tocar flauta, gostava de tocar gaita. Mas com 12 anos, por influência desse tio, que sempre ficava incentivando a aprender violão e teclado, eu mergulhei de vez. Como era criança, só queria brincar, mas do nada peguei um violão velho dele emprestado e comecei a aprender. Eu ouvia muita música na casa da família da minha mãe, mas também ia na casa da família do meu pai. E na família do meu pai eu ouvia um tipo de música e na casa da minha mãe ouvia outro tipo de música. Isso gerou um acervo gigantesco. Peguei o violão com 12 anos, comecei a tocar e já comecei a compor no mesmo tempo. Eu já fazia umas letrinhas, mas só vim começar a trabalhar com música com 18 anos, ali em 2018. Eu não me via me encaixando em nada. Estudava e trabalhava do que dava pra trabalhar, mas o que me puxava sempre era música. Em 2018 mesmo, alguns amigos pediram pra compartilhar minhas músicas porque eram boas e precisavam ser divulgadas. Foi complicado, porque eu queria pôr dentro, mas eu não tinha tanta coragem de botar a cara e dizer: “Sou cantor agora.” Mas fiz o canal lá [no Youtube], comecei a soltar umas músicas e a galera ia ouvindo, se identificando e gerando essa comoção. A partir daí eu fui soltando mais porque a galera estava gostando. Nunca foi por dinheiro, nunca foi por fama. Era só por gostar de fazer música para que as pessoas gostassem. Isso pra mim já estava lindo. Aí, em 2019, um pouco antes da pandemia, foi quando eu decidi soltar no Spotify, porque a galera estava pedindo muito. Eu nem sabia como colocar música lá, mas aprendi, me lasquei muito no começo, mas fui indo e aí nasceu o IVYSON. Foi quando entendi que era artista e tinha que acreditar nisso. Tinha que acreditar em mim primeiramente, porque se eu não acreditar ninguém vai. Eu botei na minha mente que é realmente isso que sei e vou fazer minha vida inteira.
A grande maioria dos músicos brasileiros com quem converso começou a tocar na igreja. Eu também sou nascido e criado na igreja evangélica, onde tive os primeiros contatos e aprendi a tocar música. É quase uma escola, principalmente para quem vive na periferia. Mas queria saber se essas suas primeiras músicas, ainda na igreja, tinham algum teor religioso?
Eu fazia música sobre amor, desde o começo. Eu ficava apaixonado por uma menininha, escrevia sobre aquilo. Me encontrava com alguma pessoa, também escrevia. Depois, teve um tempo que eu comecei a escrever algumas músicas mais religiosas. Mas era mais falando que Deus é amor… era tudo relacionado ao amor de alguma forma. Eu tentava sempre ir pra esse lado. Mas também, antes disso, eu escrevia pagodão, escrevia brega funk, escrevia brega romântico lá de Recife. Ah, escrevi de tudo, pô. Eu ficava brincando com meus amigos e o que a gente ouvia na rua, a gente queria fazer igual. Pegava os beats da Internet e ia fazendo… Mas no violão mesmo, canção, fazia mais sobre amor.
Quando você decidiu ser artista, já tinha uma linha pra seguir musicalmente?
Tinha. Nesse meio tempo eu já tinha escrito muita música. Eu lembro que eu tinha um caderno cheio de letras, que eu perdi em algum momento da minha vida. Eu me sinto tão triste quando eu lembro disso (risadas). Mas eu escrevia muito, muito, muito mesmo. Aí, eu meio que tinha uma identidade, uma forma de falar… Eu gosto de falar de uma forma poética, também de uma forma direta sobre alguns assuntos. Eu não tenho aquele jeito que deixa a mensagem subentendida, sabe? Eu falo poético, mas falo de um jeito mais direto pra você pegar a pescar rápido o que quero dizer. Nunca me vi diferente. Tipo, precisava falar de outra forma pra galera entender, sabe?
É interessante porque geralmente as músicas ficam muito naquela coisa de você tentar decifrar o que o artista está querendo dizer. Aí fica aquela dúvida: “Será que ele está falando sobre isso? Não, ele está falando sobre aquilo.”
(Risadas) Tem essa confusão o tempo todo, mas eu sou bem direto. Às vezes eu acho que a letra está fácil de entender. Tem vários casos assim de músicas que são hiper mega tristes, que eu escrevo com um sentimento muito triste e a galera dedica pro outro, tipo: “Eu te amo, toma essa música.” Aí, eu fico: “É com vocês, não tenho nada a ver com isso” (risadas).
Não tem como explicar a arte. Então, a partir do momento que eu me entendo como artista, eu tento ir com tudo e nem é pra alcançar monetização, sabe? É alcançar algo, algo que eu sempre sonhei e até hoje não alcancei ainda. Eu sou bem ganancioso nesse sentido, mas também eu já estou num lugar que eu nunca imaginei estar.
Mas de onde vêm essas inspirações? Tanto músicas de amor ou músicas tristes, é verdade que as melhores nascem nos momentos mais complicados da vida do artista?
Poxa, por um tempo eu acreditei muito nisso, velho. Muito, muito. E realmente, as minhas melhores músicas, por algum tempo, nasceram em momentos que eu escutava bem mal, bem solitário. Eu sempre fui uma pessoa bem independente, de tentar sempre correr atrás do meu sozinho, sem precisar da ajuda de muitas pessoas. Desde antes, né? Depois desaprendi a ser assim. Hoje em dia eu sou mais coletivo. E essa solidão que eu tinha de ficar muito só, dentro do meu quarto… desse momento de ficar na sala da minha casa escrevendo música, assistindo filme… essa solidão me trazia muita inspiração porque eu estava naquele momento meu, tá ligado? Aí, escrevia e saía uma [música], aí outro dia, escrevia outra, saía outra… mas também ia pesando, né? Tipo: “Ah, eu escrevi já sobre isso, eu não vou escrever mais sobre isso”, tá ligado? Mas hoje em dia, eu sou muito assim: tive uma ideia, escrevi. Pronto. Sou muito mais direto e mais rápido com minhas músicas. Eu lembro que eu estava produzindo meu último álbum do ano passado, que se chama AFINCO, e na produção levei 7 músicas para o estúdio e eu queria fazer 12. Pensei comigo: “Vou levar 7 e o que aparecer lá, se lembrar de alguma, eu coloco. Se não aparecer, escrevo na hora.” Escrevi três músicas na hora e elas são as três que eu mais gosto do álbum, assim, de longe. Então não é mais sobre: “Ah, tô triste, eu vou escrever.” É sobre: “Está aqui dentro [do peito] carregado, e botei pra fora e pronto.”
Não é exatamente sobre o sentimento que você está vivenciando…
… é sobre o acúmulo de coisas que eu tô vivendo ao mesmo tempo, assim, sabe?
E como colocar isso no papel?
Eu não sou muito da demanda alta. Eu faço no meu tempo (risadas). Mas, por exemplo, tem uma música em específico que se chama “Amar Até Morrer”. Eu quis falar sobre amar a arte até morrer. É primeiro a arte, e ponto. Esse era um pensamento que eu tinha há muito tempo, porque nela eu falo sobre todas as palavras, todas as frases, todas as conversas que eu tive com pessoas que falavam o contrário sobre eu trabalhar com música, por exemplo. E eu tinha isso em mim há muito tempo. Precisava falar, só que eu nunca parei pra escrever sobre isso, sabe? E quando chegou o momento exato… “Ah, tem essa melodia aqui que a gente poderia fazer uma letra.” É isso. Vou falar sobre aquele assunto que eu precisava falar há muito tempo e nunca tive coragem, nunca tive um momento exato. Pronto, escrevi a música. Tudo estava na memória. Já estava carregado aqui na cabeça. Eu precisava só parar, pensar e botar pra fora. Então, eu já tenho minha linha, e sei como vou escrever.
Mas nesse processo de tornar-se artista tiveram pessoas que falaram que não ia dar certo essa vida artística?
Demais! O álbum AFINCO é exatamente sobre isso. “Afinco” significa perseverança, ter força. E eu precisei ter muita força e acreditar muito na palavra de pessoas boas que estavam ao meu redor e diziam: “Não, você é bom, tem que continuar.” E não ouvir essas pessoas más que falavam: “Vai estudar, vai trabalhar, vai carregar um cimento, vai levantar uma laje.” Até hoje eu ouço isso. Quase ninguém entende como é trabalhar com música, sabe? Muita gente quer alcançar, quando vê que você conquistou algo, mas não entende o processo de passinho de formiga. Ninguém vê quando você tá no início tentando fazer vaquinha [pra arrecadar um dinheiro], tentando fazer alguma coisa, uma correria diferente, pra poder alcançar um mínimo… Todo mundo só consegue enxergar quando é algo grande, não consegue enxergar quando é uma conquista pequena. Eu ouvi muito “não”, ouvi muita palavra de repreensão, fiz trabalhos pra ninguém, não fui remunerado… Ah, aconteceu várias coisas, mas isso pra mim não é um empecilho, é uma coisa que realmente acontece — “poxa que triste que acontece” —, mas eu pego isso e transforme em gás pra continuar. Eu tento ser assim hoje em dia.
E querendo ou não, esse seu processo foi curto, porque já conquistou muito em 6 anos de carreira, né? Olhando para trás, de que forma você observa as conquistas que teve?
Então… seis anos atrás, mais ou menos, eu tive que aprender a entender que sou artista, eu faço arte, que não é uma coisa palpável. Não tem como explicar a arte. Então, a partir do momento que eu me entendo como artista, eu tento ir com tudo, e nem é pra alcançar monetização, sabe? É alcançar algo que sempre sonhei e até hoje não alcancei ainda. Eu sou bem ganancioso nesse sentido, mas também já estou num lugar que nunca imaginei estar. A partir do momento que eu observo que consigo chegar a um determinado local, vou com tudo. Por isso, junto com minha esposa, comecei a observar quem estava fazendo trabalhos de uma forma legal pra pegarmos o máximo de referências possíveis e fazer com o que a gente tem. Por exemplo, os meus dois primeiros álbuns, que são os mais ouvidos, que mais tem play nas plataformas, eu gravei todinho no telefone celular, mano. Eu gravei aqui ó: pegava um fonezinho, botava a batida aqui e gravava a minha voz no telefone. Quase ninguém sabe disso. Eu fazia com o que dava mesmo. Na pandemia, quando a gente viu que não tinha como trabalhar com outra coisa, começámos a fazer live. A gente fazia live todos os dias, todos os dias, todos os dias. Botava um pix lá, quem pudesse ajudar, ajudava com 1 real, 50 centavos… e a gente foi se mantendo. Eu tenho muito orgulho de dizer que o que sustentou a gente durante a pandemia foi a música. Sustentou 100%. Tipo, a comida que a gente comprava… Nesse tempo eu fui morar junto com minha esposa e a gente não tinha televisão… aí, conseguimos comprar uma televisão. Foi tudo com música, música, música, música, música. A gente botou na mente que aquele era o único caminho que a gente tinha para seguir. Foi durante dois anos da pandemia que eu vi meus números crescer. Então, se está crescendo significa que a gente está fazendo certo. Eu pensava: “Não sei se a gente vai alcançar o grande prêmio ou se vamos alcançar o que a gente precisa.” E a gente alcançou o que precisávamos. E eu estou até hoje fazendo a mesma coisa, tentando alcançar o que eu preciso todos os dias. Isso é o que me dá energia para seguir.
“Não tem como você ser de um lugar e não pegar a cultura de lá”
É a coisa de acreditar em você primeiro para depois compartilhar com o mundo a sua verdade. Quando tem verdade, sua arte chega e bate nas pessoas de uma maneira autêntica. A autenticidade faz a diferença. Você falou de referências… quais artistas te inspiram?
É um quebra-cabeça, porque eu sou muito eclético. A partir desse momento que deixei essa bagagem de igreja de lado, sabe? Eu parei para analisar. Qual tipo de música eu já ouvia antes. E eu ouvia muita música brega, tipo Reginaldo Rossi. Eu ouvia muito Fernando Mendes, Diana… o samba de Bezerra da Silva. Eu ouvia muito isso. Meu avô botava pra tocar o disco de vinil em casa e ficava tomando uma cervejinha. Já na casa da família da minha mãe, eu ouvia muita música gospel. Mas não esse gospel de hoje, era aqueles bem antigos que flertavam com MPB também. Eram cheios de poesia. Falava de Deus em um segundo só. Mas era cheia de poesia, cheia de lírica. E eu percebi que já estava carregado do que precisava. Eu só peguei as junções de coisas que realmente eu me identifiquei de cara. Por exemplo, eu tinha uma tia que ouvia Racionais o tempo todo dentro de casa. Pronto, ouvia muito Racionais quando era criança. Aí depois fui aprendendo a ouvir rock. Eu juro que eu não gostava de rock de jeito nenhum. Comecei pelo mais levezinho, depois fui para os pesados. E ali na adolescência, tentando consumir o máximo que eu conseguia, comecei a mergulhar na MPB e juro que ainda estou tentando mergulhar na MPB porque é uma coletânea muito louca com muita gente boa. Eu compro disco de vinil para poder ouvir direitinho e pegar referências legais. Mas nesse acúmulo de ideias, de referências que eu peguei nos últimos tempos, as coisas que eu mais ouço e trago para o meu trabalho é o rap, é MPB, é o rock e trago muito de música regional também, pernambucana, porque não tem como você ser de um lugar e não pegar a cultura de lá. Eu nasci ouvindo forró, escutava brega romântico, escutava brega funk, ouvia maracatu, ouvia ciranda, ouvia coco, tudo, tudo que você imaginar que existe lá no Nordeste a gente ouvia. Então, minha música hoje em dia tem essas referências. É MPB, pela poesia e a forma de cantar. É o rap, porque eu gosto de fazer uns flowzinhos dentro das músicas pra deixar um pouco mais dinâmica. É o rock também, porque eu gosto muito de pressão no palco. Se você ouvir minhas músicas e assistir meu show, é muito diferente das músicas, por exemplo, porque é uma experiência única, que eu tento trazer sempre. E tem algum outro que eu não falei, mas a gente tenta trazer. E todas as regionais. Tento fazer um pouco de tudo.
Pegando todas essas referências você cria uma identidade própria e conquista pessoas por conta disso. Se você fosse se colocar numa caixa de estilos, qual seria ou não estaria nem uma caixa?
Eu não consigo. Eu tento dizer que eu sou um MPB alternativo. Só que em contrapartida, quando você vai lá e espera um MPB, que eu tô falando logo de primeira, você não encontra com facilidade. Aí eu tento sempre trazer pro meu show, por exemplo, um momento acústico. Pro show completo eu tenho uma banda. E dentro do show, em algum momento, eu toco só voz e violão, e a gente diz que é o ápice do show, porque no início eu fazia só voz e violão e a galera tem muito esse sentimento de que aquele momento é o auge. Mas o show por completo, como me apresento nos lugares, não tem como se encaixar num padrão, sabe? Eu não posso dizer que é MPB porque a galera vai esperar o MPB e não tem 100%. Aí vai esperar o rap, eu não sou rapper. Vai esperar o rock, eu não sou do rock também. Então eu sou um acúmulo de coisas. Eu tento chamar de MPB alternativo pra ser mais simples de entender, mas também não sou.
Tenho sempre batido na tecla de que é necessário criar outra nomenclatura para encaixar artistas dessa geração atual que não cabem mais na tradicional Música Popular Brasileira. Não dá pra definir porque tem uma variedade de elementos… E esse concerto que você tem feito vai levar também para Portugal também?
Queria muito… É o mesmo concerto, mas só que com voz e violão apenas. A gente pensou em algo novo pra rodar esse ano. Todo ano a gente tenta trocar de show pra ficar bem dinâmico, né? Mas em Portugal o que eu quero trazer é realmente essa essência do início, porque é a primeira vez que me apresento lá também.
E a sua música é ouvida mais em Portugal do que no Recife. Por que isso tem acontecido?
Essa resposta é difícil. Mas por exemplo, eu comecei lá em Recife, mas ao mesmo tempo eu não me encaixava na coisa recifense, por exemplo. Não por não ter orgulho da minha cidade, nem por nada disso. Mas eu sempre achei que a minha música era muito ampla pra dizer “eu sou cantor recifense, faço música recifense”, sabe? Eu quero o mundo, eu não quero um rótulo regional. Então, desde o início tinha esse lance que não era lá em Recife que a galera ouvia mais, sabe? Mas lá também tem bastante fã, tem bastante público. Mas sempre era bem espalhado. Eu não entendia. Mas é uma doideira, tipo, se no Brasil eu já não entendo, imagina fora. Portugal, quando eu vi disse: “Meu Deus, tenho 40 mil ouvintes em Portugal.” Eu não entendi, tá ligado? É uma doideira. A galera de Portugal, Angola, dos Estados Unidos falando comigo, meu Deus do céu. Isso é doido. Não consigo explicar porquê.
Às vezes a língua ajuda também e a música brasileira tem uma diversidade gigantesca que também consegue entrar em vários lugares, consegue chegar em determinados ambientes porque tem essa diversidade e riqueza… Obviamente que alguns gêneros entram mais fácil que outros, mas eu vejo que também tem uma pesquisa muito grande lá fora da nossa música. Até conversando com alguns amigos, a gente sempre diz que a música do Brasil, os vinis, serão a nova commodity porque tem muito selo gringo investindo em artistas brasileiros, principalmente artistas que estão começando, e ganham um destaque, e também os clássicos perdidos que estão relançando. Essa brasilidade ainda vai dominar o mundo em algum momento. Não só gêneros como bossa nova, mas alguns outros como funk e os modernos alternativos. Em Portugal vais ser apenas um show?
É apenas um show, e bem especial. É único. Por isso que eu tô dizendo para todo mundo que tá querendo ir, que vá, porque vai ser especial até demais. Vai ser um show único sem previsão de volta. Quero muito ir e voltar de novo.
Você falou que escreve muito e tinha muita letra escrita. Muitas você guardou e falou “não vou lançar essas, vou deixar aqui”? Ou você dá uma revisitada nessas letras guardadas?
Sim, eu acho que cada música tem esse momento de ser mostrada, tipo uma obra de arte mesmo assim. Por exemplo, em “AFINCO”, a música-título resume o álbum. Eu escrevi ela no começo de 2019, numa manhã, que eu acordei cedinho, não sei porquê — eu não acordo muito cedo não. Acordei cedinho e fiquei olhando pro céu e, poxa, dava pra ouvir os pássaros cantando, dava pra ouvir uma brisa fresca assim, que estava de manhã, e comecei a escrever essa música. Escrevi a primeira parte, que é o refrão da música: “Como manhã / Canto de passagem / Lembrança queima / Eu sou a luz do sol.” Fiz essa parte e guardei. Tipo, nunca consegui encaixar, tentei passar para outros artistas, para alguns amigos, ninguém queria. Tipo, achava lindo, mas ninguém queria. “Ah, tá bom”, deixei. Aí, quando foi na produção do álbum, estava lá no estúdio com o produtor. Ele disse: “Seria bom ter uma música-título”. Aí eu respondi: “Deixa eu pensar aqui.” Na sequência botei no meu bloco de notas a palavra “afinco”. Tinha várias músicas com o mesmo significado. É uma coisa doida porque quando eu vou reparar nos conceitos dos meus álbuns… Por exemplo, no primeiro que eu lancei, que se chama O Outro Lado do Rio, eu falei muito sobre esperança porque a gente tava na pandemia, eu tava sem saber o fazer, eu queria sair da pandemia de alguma forma. Só que eu já tinha várias músicas que falavam sobre esperança. Eu já tinha tudo pronto… O massa de escrever bastante é que você sempre vai ter um acervo e não necessariamente você tem que ter aquela pressa para escrever, porque eu sou muito imediato. Por exemplo, eu preciso fazer um negócio agora, preciso fazer algo, então eu paro qualquer coisa que eu esteja fazendo, por mais que seja muito importante e quero fazer, só que não é sobre isso, às vezes você já tem alguma coisa no controle. E com “AFINCO” foi exatamente isso, foi uma música bem antiga que eu revisitei do nada e trouxe para o álbum. Eu tenho esse costume de fazer isso.
Seu último disco foi lançado no ano passado, o outro foi de 2022. Tem planos para um disco novo? O que tem preparado para 2025?
Eu já estou compondo para o meu próximo álbum. Ainda sem conceito, sem nada. Tipo, só estou fazendo músicas mesmo. Para esse ano, eu já confesso que vai ter vários shows. A gente está preparando os próximos shows da turnê que a gente estava rodando no ano passado, que é a turnê AFINCO, meu segundo álbum. E a gente vai passear por algumas cidades que a gente ainda não chegou. E também tem muito feat esse ano para sair. Gravei vários já agora no começo do ano com a galera que eu acredito muito e uma galera que acredita em mim também, que tem essa dualidade. É muito show, muita música nova, muito trabalho que tô orgulhoso de fazer, e a ideia é expandir o máximo que eu posso, assim, tentar chegar no máximo de pessoas possíveis, espalhar arte por aí… O meu terceiro álbum vai vir, mas agora não. Deixa eu trabalhar meu segundo, que tá fresquinho ainda. Faz nem um ano, tem muita água ainda pra rolar.