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Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 10/01/2023

Em cada amigo, um lar.


Iúri Oliveira aborda a “melancolia e o peso da saudade” em “Casa”

Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 10/01/2023

Há muito profissional da indústria musical que se apelida como “invisível”, mas que de invisível nada tem. Com um historial que o liga a vários nomes de peso — como Ana Moura, Criatura, Dino D’Santiago, Branko ou até mesmo Madonna — e após vários anos a contribuir para bandas sonoras de filmes e discos de estúdio, Iúri Oliveira começa, passo a passo, a pegar as rédeas de um merecido protagonismo, lançando uma nova música com letra da sua autoria, desta vez de seu título “Casa”. Com um historial que o liga ao fado, à world music ou ao jazz, sente agora que encontrou um novo propósito em “servir a música”, fazendo ninho nesta afirmação, apesar do seu cariz nómada.

O single chega-nos precisamente um ano após a sua outra faixa, “Habitat” — em colaboração com o guitarrista, cantor e compositor Manuel Rocha —, e desta vez junta-o a Edu Mundo, músico que integra as bandas Cordel e Fogo Fogo, para um tema sobre as variações de significado da palavra ”Casa” e o que fica quando esta se “desmorona”, numa composição nostálgica e romântica, fruto de uma relação de amizade e companheirismo, forte alicerce para a construção de um sítio seguro onde se pode crescer e progredir.

Quando questionado pelo ReB acerca do que significa esta faixa e o porquê de o título envergar uma palavra com esta conotação, algo que se pode adivinhar tão profundo, Oliveira falou-nos sobre a importância das memórias que ficam após a descoberta desse sentimento de lar: “’Casa’ foi o nome mais simples e leve que consegui encontrar para abordar a melancolia e o peso da saudade de alguém que nos deixa. ‘Casa’ pode ter o simbolismo físico, mas, mais que isso, pode ser o espaço dentro do peito ou do pensamento criado pela ausência de outrem.”



Transportando as amenidades de uma forte relação de amizade para a música, a colaboração que surge agora não parece ter sido uma escolha difícil, como sustenta o artista ao elaborar sobre o pensamento por detrás desta eleição familiar:


”Ainda há uns dias comentei em tom de brincadeira que eu e o Edu Mundo temos uma ‘relação’ já de 2 anos. Entre acompanharmos outros artistas, pois tocamos a mesma família de instrumentos, partilharmos quartos de hotel ou ficarmos em casa um do outro e, sobretudo, termos muitas e longas horas de conversas que considero profundas, vamos tomando consciência que temos muito em comum. Mais até do que pensávamos! Procurei, também, no Edu Mundo um pouco dessa ‘casa’ e por isso fez todo o sentido que fosse ele, com o seu timbre, a dar corpo a esta canção. Para mim faz todo o sentido ter pessoas com quem sinto proximidade a darem voz às minhas criações, assim como ter a capacidade de confiar e dar espaço àqueles que colaboram comigo, como quando me convidam para colaborar com alguém, também confiam em mim para que possa abrir o meu coração e dedicação perante as suas criações.”

Mantendo-se neste ambiente amigável, atravessou quilómetros e ultrapassou barreiras, de Lisboa ao Porto, passando pelo peito dos demais, sem nunca prescindir do companheirismo e talento como principais critérios. As participações nesta canção não se esgotam em Edu Mundo, como nos elucidou, aquando da narrativa sobre o processo de criação desta “Casa”; afinal de contas, quantos mais melhor:

“O processo foi genuíno e simples: eu já andava há uns tempos com uma melodia em loop na cabeça, que é a melodia da parte a que chamo a ‘catarse da canção’. No início a melodia estava num compasso simples e, para tornar a mesma mais interessante, mudei-a para um compasso composto. É um dos meus desafios como percussionista! É interessante para mim explorar e dar ênfase aos timbres e aos ritmos. Quando consegui estruturar a música toda na minha cabeça, já sabia também a equipa que queria comigo nesta música. Fui num fim de tarde a casa do Carlos Garcia para pensar na harmonia e gravar as guias dos pianos e sintetizadores. Depois disso combinei com o Edu Mundo e fui até ao Porto, que por sua vez me levou ao lindíssimo estúdio do Nuno Melo, amigo dele, agora muito meu amigo também, gravar o delicioso timbre do Edu Mundo e as nossas back vocals. Por fim, depois de gravadas as vozes, senti necessidade de regravar os pianos e sintetizadores, concluindo na perfeição, logo de seguida, com o bom gosto de baixo fretless do meu amigo e vizinho, Paulo Lourenço. A mistura ficou a cargo do Paulo Lourenço e a Masterização do, nada mais nada menos lendário e conceituado António Pinheiro da Silva! O artwork da capa ficou à responsabilidade do meu amigo Ricardo Corga | RIMA STUDIO.”

Curiosos pelos conceitos similares expressados através dos títulos propostos até agora — “Casa” e “Habitat” — pedimos a Oliveira para se debruçar sobre o propósito desta escolha, em busca de uma corroboração da  interpretação feita. “Habitat” e “Casa” interligam-se pelo sentimento de pertença (ou falta dela) a uma esfera onde se deseja estar incluído.

“É uma boa pergunta! São conceitos similares, porém, o tema ‘Habitat’, o meu 1º single cantado pelo querido Manuel Rocha, remete ao meu estado de solitude, de contemplação e do quão bom pode ser esse sítio. Abraçar a solitude e os ventos que ela traz . Já ‘Casa’ é um desabafo com o espaço físico e emocional do local que esse alguém pode ter deixado no lugar onde realmente habito. E mais uma vez, nesta canção, invoco o elemento ar, neste caso em movimento (vento), esse sábio inspirador, e abordo o Amor e consequentemente o desapego.”

De corpo e alma na sua obra, o futuro é brilhante para quem abre o coração à luz em composições poéticas, que invocam sentimentos tão inerentes ao ser humano e tantas vezes escondidos. Iúri Oliveira partilha agora a nu e em plena luz a sua poesia musicada, disponível em todas as plataformas para o mundo ouvir (e sentir).


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