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Fotografia: Khali Ackford
Publicado a: 29/11/2023

Ecletismo musical de Bristol a caminho de Portugal.

Ishmael Ensemble “trata-se de tentar encontrar o lugar perfeito entre a música ao vivo e a música eletrónica”

Fotografia: Khali Ackford
Publicado a: 29/11/2023

Para os interessados no novo jazz britânico, há novidades importantes: os Ishmael Ensemble estão a preparar-se para a sua primeira digressão ibérica. A banda de Bristol atuará no Hard Club, no Porto, a 13 de dezembro, no LAV – Lisboa ao Vivo, a 14 de dezembro, e por fim, no Lau Nau, em Barcelona, a 16 de dezembro.

Jazztronica? Nu jazz? Future jazz? Jazz de fusão? Pouco importa. A música da banda liderada por Pete Cunningham é fresca e cativante, refletindo plenamente o ecletismo sonoro que se respira em Bristol. Nos últimos anos, os Ishmael Ensemble lançaram três álbuns: A State of Flow (2019), Visions of Light (2021) e Versions of Light (2022), sendo este último uma coleção de reworks, remixes e versões reimaginadas por colaboradores próximos. Todos representam trabalhos que estabelecem ligações entre diferentes estéticas musicais, sempre com o objetivo principal de alcançar o ponto de tensão ideal entre a música ao vivo e a música eletrónica.

Além desses álbuns de estúdio, este ano pudemos também ouvir novas misturas em que o dub, reggae, hip hop e o spoken-word enriquecem a musicalidade dos Ishmael Ensemble. Os EPs New Era — criado em colaboração com Rider Shafique — e In A Dub Style — ao qual se juntaram também os icónicos bristolianos DJ Stryda & Digistep aka Dubkasm — testemunham que estamos perante artistas completos e versáteis, capazes de observar o zeitgeist e incorporá-lo no seu trabalho.

Numa entrevista muito franca e direta, ainda que realizada por Zoom, conversámos com o multi-instrumentista e compositor Pete Cunningham acerca das suas expectativas para as datas em Portugal, o desenvolvimento de material para o próximo álbum, dinâmicas de grupo e de composição, a influência do dub na música do Reino Unido, e também sobre a etiqueta Severn Songs, a qual tem lançado a maioria dos trabalhos do grupo e seus associados. O resultado é uma leitura essencial para compreender os talentos de alguém em busca da síntese perfeita.



O que esperam dos vossas próximas datas em Portugal? Que material vão trazer para estes concertos?

É muito entusiasmante para nós porque nunca tocámos em Portugal ou em Espanha. Vamos fazer uma pequena digressão por Lisboa, Porto e depois também por Barcelona. Na verdade, nunca estive em Portugal. Muitos amigos meus costumam ir lá ou até vivem lá. Parece ser um lugar que toda a gente anda a explorar e que deixa toda a gente entusiasmada. Por isso, sim, é altamente para nós! E este é um período muito bom: estamos no final da digressão do álbum Visions of Light. Não conseguimos acreditar o quão bem foi recebido. Lançar este álbum foi um momento muito importante para nós. Têm sido dois anos de digressão e é bom poder levar este espétaculo a um lugar novo, a novos públicos, mesmo que já tenhamos tocado as músicas muitas vezes. Há também esta coisa louca que tem que ver com… agora é que as canções estão melhores, depois de as termos tocado durante dois anos. É neste altura que deviamos gravar o álbum, porque o material está no seu ponto alto. Por isso, sim, estou muito contente com a forma como o álbum ganhou uma nova vida em palco e estamos muito entusiasmados por poder tocá-lo em Portugal.

Agora podiam gravar um segundo Versions of Light, mas desta vez com versões vossas.

Sim, sim, devíamos voltar a estúdio. Embora já esteja a ser suficientemente difícil fazer o novo álbum, por isso temos de o acabar antes de pensar em qualquer outra coisa [risos].

Já estão a escrever música nova?

Sim, tenho escrito muito e acho que o facto de estarmos a fazer um espetáculo ao vivo influenciou muito o som do novo disco. O Visions of Light foi feito naquele período de confinamento em que não se pensou em actuações ao vivo durante quase dois anos. Então, acho que o novo álbum explora muito o que temos vindo a fazer em palco. Tem sido um período interessante… Na verdade, vamos fazer uma pausa por altura do Ano Novo para voltarmos com um espetáculo totalmente novo, em vez de apenas tocarmos uma música nova e tentarmos inseri-la no alinhamento. Queremos que esta seja a última oportunidade para ver este espetáculo e depois vamos voltar com algo novo e diferente. Estamos a sentir-nos muito entusiasmados, e a nova música é definitivamente muito inspirada pelo que temos feito em palco. Portanto, é mais ou menos aí que estamos. 

O núcleo do Ishmael Ensemble é um quarteto [Pete Cunningham, Jake Spurgeon, Stephen Mullins e Rory O’Gorman]. vão trazer algum colaborador para os espectáculos em Portugal?

Somos quatro instrumentistas e a Holly Wellington ou Holysseus Fly, a vocalista, que agora é a nossa principal colaboradora. Ela está à frente da banda em palco. Então, sim, este novo álbum, na verdade, vai ser feito por nós os cinco, porque tem sido isso o que temos feito nos últimos 2 ou 3 anos, quando tocamos ao vivo. Desde o confinamento, é mais ou menos assim que o Visions of Light tem sido apresentado. Por isso, sim, é como uma banda de 5 elementos, acho que é a melhor maneira de a descrever. Bem… isso foi outra cena: no confinamento era muito fácil escrever um disco com 20 pessoas envolvidas. E depois, assim que se tenta fazer uma digressão, a realidade cai-nos em cima: “Oh, não podemos dar-nos ao luxo de trazer toda a gente”. Por isso, sim, sinto que a banda somos nós os cinco. E é isso que vamos levar para Portugal e é assim que o nosso novo álbum vai ser gravado.

Muitos ouvintes em Portugal descobriram Ishmael Ensemble através da compilação New Horizons: A Bristol Jazz Sound, editada pela Worm Discs. Qual foi a importância desta compilação para vocês?

Sim, tem sido muito interessante ter feito parte dessa compilação — essa malta é fantástica. Nós conhecemos a Worm Discs, são bons amigos. Essa foi uma altura muito especial em Bristol, com todas as bandas a fazerem coisas em conjunto. É engraçado viajar pelo mundo e vermos esse disco nas lojas e as pessoas a falarem dele. Além disso, penso que o facto de pessoas como Gilles Peterson o terem tocado ajudou a fazer a diferença. É realmente uma honra fazer parte dessa família de artistas, porque muitas vezes podemos sentir-nos um pouco sozinhos, e é muito bom sentir que se faz parte de algo e que as pessoas reconhecem isso — é uma honra, sem dúvida.

E como é que achas que a cena de jazz de Bristol tem evoluido desde esse momento?

É interessante, porque agora há uma nova geração. Muitos de nós estamos a ficar mais velhos. Temos todos mais de 30 anos. E claro que agora há jovens a fazer música porventura inspirados pelo que nós andámos a fazer. Penso que essa compilação foi feita há 4 ou 5 anos e, obviamente, nós fazemos música há mais tempo do que isso. Agora já não sei quem são as “pessoas fixes”. Acontece-me sempre chegar a um bar e estar uma banda nova a tocar. “Uau, quem são estes? De onde é que eles são?” “São de Bristol!” [risos] Por isso, sim, há coisas espetaculares e entusiasmantes a acontecer. É bom saber que talvez tenhamos participado e inspirado isso, e também é muito inspirador para nós vermos vários artistas novos a fazerem o seu trabalho.

A música dos Ishmael Ensemble sempre foi uma fusão muito moldável de jazz e música eletrónica, mas, este ano, vocês têm estado a lançar EPs que incorporam novos elementos nesta mistura. Por exemplo, New Era é um disco que exala profundidade e escuridão, com o spoken word e o hip-hop a surgirem como novos sabores que adensam o número de camadas da vossa música. Como é que surgiu esta colaboração com o Rider Shafique?

Isso começou quando ainda andávamos a fazer espectáculos ao vivo. Conhecemo-nos através de um amigo comum, e o Rider começou a juntar-se a nós para atuar antes sequer de gravarmos alguma cena. Ele era uma espécie de novo elemento para o espetáculo ao vivo. Eu sempre adorei hip hop, dub, spoken word e esse tipo de coisas. Sempre foi uma ambição minha fazer um disco com alguém como ele. Acho que ele é um poeta fantástico, com uma voz é fantástica — é um artista único. Se não fosse isto, um álbum de Ishmael Ensemble talvez não existisse com rap não sei. Não vejo a banda toda a ir nessa direção para sempre. Por isso, senti como se fosse um projeto especial, um trabalho em conjunto, em vez de o Rider apenas aparecer numa canção. Começou assim: decidimos fazer uma música, e depois apercebi-me: “Uau! Ele é mesmo bom. Vamos tirar o máximo partido disto, vamos fazer disto mais do que apenas uma canção!” E daí surgiu o EP. Mesmo agora, há muitas pessoas que dizem: “Oh, gostava que o EP fosse mais longo.” Se calhar devíamos ter feito um álbum completo juntos — talvez o façamos um dia. New Era foi uma coisa fixe de se fazer depois do Visions of Light, porque parecia que não havia pressão para necessariamente fazer um novo álbum. Foi um projeto muito divertido. E é também uma forma diferente de escrever, com poesia e rap. Então, sim, foi um exercício criativo muito divertido. Desde então, temos feito espétaculos juntos, e isso ajudou-me reacender o amor pelo dub. O Rider está muito envolvido na cultura sound system do Reino Unido. Na verdade, fizemos recentemente versões dub de duas das faixas com o Rider e os Dubkasm. Falando sobre os Dubkasm, eles têm sido uma grande influência. Estar perto deles e fazer coisas em conjunto tem sido uma coisa muito divertida e algo um pouco diferente. Em vez de nos concentrarmos apenas no próximo álbum dos Ishmael Ensemble, tem sido uma boa transição criativa para os próximos trabalhos. 

O dub é tão importante para o tecido musical do Reino Unido que penso que é tão natural como bem-vindo que alguns músicos de jazz comecem a reinterpretar esta música de novas formas. Penso que esta é uma abordagem ao dub muito interessante, uma música que é parte fundamental do som do Reino Unido.

Sem dúvida. O Joe Armon-Jones e a Nubya Garcia, por exemplo, também têm usado muitos desses elementos. É uma parte tão grande da música aqui no Reino Unido…. Se cresceste em Inglaterra, há uma grande cultura caribenha em todo o lado. As minhas primeiras saídas foram para festas de dub, reggae… e também havia o dubstep, porque o dubstep era a grande novidade quando eu era adolescente. Mas a segunda sala era sempre um sound system de dub — dub original! Portanto, esta música esteve sempre lá. Em locais como Bristol, é uma parte muito importante da cultura da cidade. Está lá, enraizado na cultura, por isso é difícil evitar ser influenciado ou inspirado musicalmente por ele.

E este ano perdemos um dos maiores… Jah Shaka.

Sim… Tive a honra de ir a muitos dances do Jah Shaka — quer em Bristol quer em Londres, na verdade. Foi uma perda muito trágica. Uma das coisas que tem sido interessante no trabalho com a malta dos Dubkasm, é que eles estão mesmo envolvidos na cena, e é muito bonito ver como esta é respeitosa e unida. Toda a gente se conhece pessoalmente. Mas é interessante… agora há uma geração que está a ficar muito velha e, talvez, vejamos muitos desses originators a falecer. É uma altura muito triste para isso — para mim, apenas até um certo ponto, mas para as pessoas que iam às noites do Jah Shaka nos anos oitenta e noventa… era mesmo como uma igreja. O Jah Shaka era o líder espiritual delas. Por isso, sim, é uma perda muito, muito triste. Mas a influência dele é, como sabes, tão abrangente. Muitas vezes, quando falo com algumas pessoas, o elo de ligação entre nós é o dub ou a cultura sound system. Até pessoas de todo o mundo olham para a música dub do Reino Unido como algo realmente especial e único. E é uma cena enorme – eu estou menos envolvido nela, mas em toda a Europa há grandes festivais de dub e de sound systems. É enorme a dimensão e influência da cena dub.

Talvez In a Dub Style se torne um dubplate clássico! [risos]

Vamos ver, vamos ver [risos]! Já está esgotado e é muito difícil de arranjar. Muito disso deve-se aos Dubkasm — eles têm um público muito fiel. É muito especial quando me enviam vídeos de um sound system na Alemanha ou na América a tocar estas músicas. Para mim, é como um sonho de adolescente ter tido os Dubkasm a remisturar o nosso material.

Sim, adoro os dois EPs, são altamente! Voltando ao A New Era, parece-me um trabalho que tem uma atmosfera, de certa forma, profética… porventura por causa das letras. Que “nova era” ou “novo tempo” é este a que vocês se referem na música?

Bem, acho que, mais uma vez, muito dele foi escrito na altura do confinamento. Por isso, há neste EP muito daquele sentimento de que alguma coisa está a acontecer, que estamos a entrar numa nova era. Na altura, sentimo-nos muito perdidos e as pessoas estavam muito isoladas. Toda a gente se sentia em conflito e estava no limite, ansiando por um período em que pudéssemos ligar-nos uns aos outros de forma real, não apenas através das redes sociais. Senti que o lado das redes sociais foi realmente exagerado durante o confinamento. A única forma de falarmos uns com os outros era online. Gostaria de pensar que, depois essa altura, talvez nos possamos tentar ligar de forma mais genuína. Mas acho que muito disso que dizes também é por causa das letras — não posso falar por ele. O Rider está muito interessado em questionar a sociedade em que vivemos. Ele é um grande defensor de muitas questões relacionadas com os direitos humanos — é uma grande parte do seu mundo fora da música. Ele trabalha como fotógrafo e está envolvido em muitos projectos comunitários. E, sim, ele é um tipo fantástico. Foi mesmo muito inspirador para mim trabalhar com ele!

Relativamente à Severn Songs, que lança toda a vossa música, és tu a pessoa que gere e supervisiona todas as operações da editora?

Sim, originalmente a editora começou com a ideia de lançar os discos que fazia, porque achei que era a opção mais fácil, em vez de andar para trás e para a frente a falar com editoras. Era do género: “podemos fazer por nós mesmo, ao nosso ritmo”. Quando se trabalha para uma editora, temos de nos adaptar à sua agenda ou calendário. Por isso, começar a editora pareceu-me a coisa mais simples a fazer. E, graças ao Bandcamp, isso foi possível! Diria que 99% de tudo isto é possível graças ao Bandcamp, que permite vender sem intermediários, tornando tudo mais fácil. A partir daí, também lançámos música da Holysseus Fly e de outros amigos da cena de Bristol. A editora também me pareceu uma forma simples de divulgar a música de outras pessoas de uma forma muito descontraída. É tudo muito DIY e feito entre amigos. Não é do género: “Vamos lançar 10 álbuns por ano e todos têm direito a um período de quatro semanas…” Precisamente aquilo que eu não gostava na ideia de trabalhar com outras editoras, era aquilo que eu não queria oferecer às outras pessoas. Mas, na verdade, no próximo ano, estamos a planear melhorar um pouco a forma como a editora funciona e oferecer mais coisas. Estamos a trabalhar com um estúdio nos arredores de Bristol e vamos começar a oferecer gravações. Estou muito interessado em saber quais são as novidades que estão a acontecer por Bristol, e talvez possamos trabalhar com pessoas que não têm acesso a estúdios ou que não sabem como fazer um disco ou lançar um disco. Por isso, sim, no próximo ano acho que a editora se vai tornar um pouco mais “legítima” ou “mais séria”. E, claro, parte desse processo também envolverá o nosso próximo álbum. Pessoalmente, já não quero ter de levar todos os discos aos correios e fazer tudo isso [risos]. Já está na hora! Temos grandes planos para o próximo ano, e haverá, com certeza, mais informações sobre isso.

Já têm alguma data prevista para lançar o vosso novo álbum? 

Sim, provavelmente será lançado no próximo verão. Este é também o perigo da edição em nome próprio — pode sempre ser um pouco mais tarde, porque os prazos não são tão fixos. Mas acho que, para nós, o próximo verão seria a melhor altura, para depois partirmos em digressão nesta altura do próximo ano. Como disse, quero preparar um novo espetáculo especial. Estamos sempre a evoluir, sabes como é! Quero ter a certeza de que, se alguém nos vem ver pela segunda ou terceira vez, não está a ver o mesmo espetáculo ao vivo. Para mim, isso é algo importante, porque já vi muitas das minhas bandas favoritas mais do que uma vez, e acabamos sempre por comparar os espectáculos, porque são basicamente os mesmos. “Oh, eles tocaram um pouco melhor há dois anos atrás” ou algo do género… Eu não quero cair nessa armadilha. Ainda há muito trabalho a fazer. 

Podes falar-nos um pouco mais sobre a linha estética que vão seguir neste trabalho? Será semelhante ao que têm feito ou vão abordar a música de uma perspetiva diferente?

Para mim, o mais importante sempre foi fazer bem música eletrónica ao vivo. Muitas vezes ouvimos um álbum eletrónico fantástico e, quando o ouvimos ao vivo, ou é demasiado alguém no computador a carregar no play, ou é demasiado o contrário, e acaba por não soar nada como na gravação. Para mim, trata-se de tentar encontrar o lugar perfeito entre a música ao vivo e a música eletrónica. Por isso, os novos discos têm elementos muito semelhantes. Há coisas inspiradas na música do Reino Unido: house, techno, dubstep… não apresentados de forma óbvia, mas os elementos que cresci a ouvir estão lá, mas com instrumentação ao vivo. Além disso, acho que também se trata de fazer com que cada instrumento tenha verdadeiramente o seu lugar. Por exemplo, o nosso baterista é muito heavy e loud. Ele costumava tocar em bandas de heavy metal e bandas de rock, por isso tem uma forma de tocar muito própria. Durante anos tentámos sempre enquadrar-nos na música jazz: “Oh, vamos tocar mais suavemente, temos de ser realmente cool.” E agora, na verdade, é simplesmente não! Somos apenas os músicos que somos — e isso no sentido da melhor das possibilidades. Por isso, sinto que a direção da banda é ser a melhor versão possível dela própria, o que as pessoas parecem gostar.

Sem dúvida! Todos vocês participam na composição das músicas ou és sobretudo tu que as escreve?

A maior parte do tempo tenho sido eu. Mas, mais uma vez, neste novo disco, quero mesmo que pareça que somos os cinco a fazer um disco. Em Visions of Light houve muitos colaboradores diferentes, por isso era muito mais eu a trabalhar com a vocalista — foi assim que a “alma” do disco foi feita no geral — e depois os músicos acrescentavam as suas partes. Mas agora está a funcionar ao contrário, construimos as faixas e depois adicionamos as vozes. Tem sido assim, com muito mais colaboração dentro da banda para este novo disco. Mas eu diria que escrevo a maioria das ideias e normalmente também decido se os temas finais serão incluidos ou não no álbum [risos]. Mas trabalhar em colaboração é bom. É uma forma muito divertida de trabalhar, porque as pessoas trazem ideias para a mesa que talvez eu não tenha considerado. Ainda assim, tudo tem de soar coeso e talvez esse seja o meu papel agora — certificar-me de que tudo funciona bem em conjunto. Comecei por me auto-denominar saxofonista, mas agora sinto que o meu papel é mesmo o de produtor e uma espécie de “diretor” do projeto. E toco um pouco de saxofone, para além de outros instrumentos.

Parece-me fantástico! Estou realmente ansioso por ouvir o vosso novo álbum.

Também eu, quando estiver terminado! [risos] Mas sim, estou muito entusiasmado por ir a Portugal e passar algum tempo lá. É um sítio onde quero ir há muito tempo e é sempre muito interessante para mim conhecer culturas diferentes, ir a países diferentes. Sabes, países diferentes reagem de forma diferente a diferentes influências dos nossos sets. Se formos à Alemanha — ou a Berlim, em particular — há algumas partes mais techno do set que funcionam muito bem por lá. Depois, há outros países a que vamos em que o lado do jazz bate mais forte. É interessante ir a cidades diferentes e a países diferentes e ver que parte do espetáculo as pessoas gostam mais. Por isso, vai ser muito interessante — na verdade, não sei nada sobre a cultura portuguesa.

Em Portugal, há uma nova cena de jazz em ebulição… e há também cenas muito fortes de “eletrónica pura” e “jazz puro”. Vamos ver qual será o público que irá aos vossos concertos [risos].

Sim, claro, vamos ver. Às vezes são todos estudantes, outras vezes são pessoas de 60 anos que costumavam ouvir jazz e Pink Floyd. Há tantos elementos no som… Estou ansioso pelos concertos.


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