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Publicado a: 31/01/2018

Isaura: “Já não me sinto tão presa a pré-concepções que eu própria tinha”

Publicado a: 31/01/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

“Busy Tone” é o terceiro single de Human, o álbum de estreia de Isaura. Depois de colaborar com PEDRO em “I Need Ya”, a artista convidou Lhast para afinar a sonoridade do novo tema. A influência do produtor não fica por aí e no press-release que apresenta a canção podemos ler que “o arranjo de Lhast define o pop/hip-hop/eighties que delineará o universo Isaura em Human“.

A autora de Serendipity, EP lançado em 2015, encabeça, juntamente com os nomes anteriormente mencionados ou artistas como Slow J, Richie Campbell ou Diogo Piçarra –, uma lista de músicos que estão a moldar a pop nacional do presente e a projectar o futuro, procurando uma renovação que teima em não se concretizar.

O primeiro longa-duração chega a 6 de Abril e inaugura um novo capítulo na discografia de Isaura. Aproveitando o lançamento de “Busy Tone”, o Rimas e Batidas conversou com a cantora e produtora sobre o terceiro single, as mudanças de mindset para construir Human ou o seu papel na música nacional.

 



Acabas de lançar o single “Busy Tone”, uma faixa em que contas com a contribuição do Lhast. Como é que ele aparece no processo de criação desta música?

Olha, eu queria muito trabalhar com o Lhast porque ele para mim é um produtor de referência em Portugal. Eu acho que os trabalhos que ele está a fazer e os projectos em que ele está envolvido são das minhas coisas preferidas que estão a acontecer cá, musicalmente falando. Eu sentia que tinha muito a ver com aquilo que eu também queria trazer para o álbum. Portanto, eu escrevi e compus uma canção, “Busy Tone”, e, à medida que eu fui avançando a minha demo e que fui pré-produzindo a minha maquete, comecei a perceber que realmente queria este tipo de sonoridade para esta canção. Gostando e admirando tanto o trabalho do Lhast, tinha que ser ele. Passámos o convite para produzir esta canção e ele aceitou. Eu acho que ele fez um trabalho belíssimo com a canção. Sente-se aqui completamente a chancela Lhast, mas, ao mesmo tempo, é super engraçado, pelo menos para quem conhece o trabalho dele, ver como ele encaixa aqui e também como ele é um produtor que, apesar deixar sempre o cunho dele, transforma. Conseguiu entrar muito bem naquilo que é o meu trabalho e aquilo que é o meu estilo. E gostei muito de trabalhar com ele, mesmo.

O tema faz parte do teu álbum de estreia, trabalho que sucede a Serendipity, EP lançado em 2015. Qual foi a principal mudança no teu mindset para a criação do novo projecto?

Acho que foi muito diferente porque nestes três anos sinto realmente que amadureci muito em algumas questões. Eu sou, acho que desde que me conheço, songwriter — melhor ou pior –, mas desde miúda que eu gostava. Eu queria aprender a tocar guitarra ou a tocar piano para escrever as minhas canções. Portanto, isso para mim sempre foi muito importante. E quando chego ao EP — nunca tendo editado nada –, eu precisava que ele fosse muito fiel ao que eu imaginava. Tinha que ser muito limpinho, a minha voz tinha que estar limpa, sem muitos adereços… Eu usava muitas camadas vocais, muitas coisas e eu precisava que isso fosse o meu primeiro trabalho. Foi importante para mim para perceber, “ok, faço canções há muito tempo, mas neste momento, se eu vou editar estas canções, elas são para outros e portanto preciso que isto seja feito desta forma”. E o que eu acho que aconteceu desde que o EP foi lançado é que essa minha primeira approach foi respeitada e acho que fui sentindo mais liberdade para agora testar outras coisas. Já não me sinto tão presa a pré-concepções que eu própria tinha, que ninguém me impunha. Era eu que tinha. Acho que me fui descobrindo, apesar das minhas canções continuarem, e possivelmente vão ser sempre, muito emocionais. São quase um diário. É a minha forma de fazer canções. Fui aprendendo a ter o meu tempo para que elas sejam emocionais e depois permito realmente que passem pelo racional, para que as produções evoluam e etc. Eu acho que isso era um processo que eu não teria conseguido fazer [no EP], não estaria pronta para fazer este álbum há três anos porque precisei de ir amadurecendo. Songwriter sempre fui mas depois quando tu queres editar um trabalho passas a fazer canções para os outros e há muitas coisas que também tens que mudar. Tens que te tornar um pouco mais altruísta. Eu acho que foi esse mindset que mudei. Notei uma diferença gigante do EP para o álbum.

Para além do Lhast, o álbum vai contar com mais colaboradores? Precisaste de ajuda para definir o som do projecto ou foi um processo solitário?

Não não. Se calhar, este álbum é até muito ambicioso. O meu processo de songwriting é muito solitário — só tenho uma canção em que fiz songwriting com outra pessoa ou seja, foi a base harmónica e a estrutura da canção que fiz com outra pessoa. O resto para mim é muito solitário: as letras e todas as outras composições foram 100% minhas. Depois, como isso é muito solitário, chega ao momento da produção e não quero estar sozinha. Eu sinto que preciso de ir buscar outras pessoas que tragam o que eu preciso. E neste álbum estão o PEDRO, Lhast, Fred Ferreira, Cut Slack, Karetus e Diogo Piçarra.

O disco terá algum conceito transversal ou é um conjunto de singles desconexos? 

Isso era uma parte muito importante para mim. Um EP é um conjunto de canções, é quase uma experiência que tu fazes, mas o álbum tem que ter uma história e a razão inclusive pelo qual se chama Human… Eu tinha uma ideia pré-concebida de querer fazer uma coisa — o EP tinha sido tão emocionalmente desgastante para mim porque dediquei-me muito àquilo e as canções saíram-me todas do coração e da alma. Não é que eu não quisesse fazer o mesmo neste álbum, mas queria descansar um bocadinho disso e queria falar de coisas um bocadinho mais, não diria superficiais, mas que as coisas não tivessem que ser tão profundas. Quis falar da gestão do meu tempo — a “Busy Tone” e a “I Need Ya” falam sobre isso. É uma questão que para mim é muito pessoal: quando tens os teus minutos contados, mas há tantas pessoas que são importantes para ti, com quem tu queres estar, e há tantas coisas que queres fazer…  Esse é um assunto com que eu me debatia muito. Mas depois, como a vida é assim, a meio deste processo acontece uma coisa que me faz realmente deixar de estar neste mood um bocadinho mais superficial e me faz outra vez mergulhar em questões um bocadinho mais profundas, que foi o facto de ter perdido a minha avó há um ano. Foi mesmo a meio do processo. E então o que aconteceu foi que tive de repensar e tive que aceitar que o álbum não ia ser aquilo que eu quisesse. O álbum ia ser aquilo que era verdade. Ia ser aquilo que acontecesse porque as minhas canções são o relato da realidade, do que eu sou, do que vejo, do que sinto, do que vejo os outros sentir. Então acabei por fazer um álbum que está dividido em duas partes. A “I Need Ya” e a “Busy Tone” fazem parte do lado de lá, que é esse lado em que eu estava fazer canções sobre o tempo, a gestão das coisas e das expectativas, e depois tens a “Crossover”, que foi uma “passagem” que eu lancei há pouquinho tempo e que o vídeo foi filmado em Macau, que é o que separa o Lado A do Lado B. Depois tenho esse Lado B em que volto a mergulhar em canções um bocadinho mais introspectivas e com uma carga emocional diferente. Essas canções ainda estão escondidas. Não lancei nada desse lado.

És uma peça rara no panorama pop português. Como é que olhas para o que se passa à tua volta? Achas que fazes parte de uma nova geração que está a renovar a pop nacional? 

Pá, eu não sinto que tenha esse papel de estar a renovar nada porque nós consumimos muita música de fora. Ou seja, eu compreendo o que dizes sobre não existir um artista em Portugal que esteja a fazer coisas parecidas comigo. Eu se calhar também concordo com isso, mas ao mesmo tempo acho que isto é o resultado de nós hoje em dia podermos ouvir música sem limites, de qualquer parte do mundo. Nós podemos inspirar-nos em coisas que estão literalmente do outro lado do mundo. Eu debato-me muito com isso, é verdade. Eu sou pop, mas não sou bem pop. Eu sou alternativa, mas não sou tão alternativa assim. É como se eu morasse entre a pop e o alternativo e parece que isso às vezes até baralha as pessoas. Parece que não sou nem carne nem peixe. Mas a verdade é que eu acho que a música que eu faço… em Los Angeles ou no Reino Unido, por exemplo, isto é pop. Isto é a pop mainstream que se faz. Aqui em Portugal ainda não há a pop que passa nas rádios grandes, aliás, passa mas encontrarmos essas coisas feitas em Portugal nessas rádios é muito difícil. Estamos a competir com o estilo que lá fora açambarca tudo e realmente eu tento estar aí, mas não é uma coisa pensada, ou seja, eu faço essa música porque realmente é o que eu gosto de fazer. O Serendipity era muito eighties, mas um eighties talvez mais naive, mais cru, mais minimal. Eu acho que este álbum vai trazer uns eighties mais escuros, com sintentizadores mais fechados, mais dark e com umas batidas que vão oscilar entre os anos 80 e o hip hop, sendo que o trabalho é pop. Para mim é pop. Talvez em Portugal seja discutível.

 


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