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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 08/10/2021

Não acreditamos em bruxos, mas que eles existem, existem.

Iminente’21 – Dia 1: o choque desejado com a realidade

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 08/10/2021

Parece estranho dizê-lo, mas ainda chegámos a tempo de ter um festival de Verão a sério em 2021, e em Outubro: e, sim, falamos do Iminente, que está a acontecer na Matinha, em Lisboa. Numa noite em que o frio se evaporou da equação, a liberdade de ideias e de movimentos voltou em força. O Rimas e Batidas andou por lá, de palco em palco, a medir a temperatura ao estado da arte.


[Ikram Bouloum] Palco Gasómetro

Inaugurar um festival é sempre complicado. Não é fácil reunir uma multidão às 19 horas quando o programa se estende até perto das duas da manhã e, por isso, percebe-se que Ikram Bouloum tenha arrancado com pouco mais de uma vintena de pessoas na plateia. De qualquer forma, os tons electrónicos e a língua fluída (canta em três idiomas diferentes: catalão, amazigh e inglês) foram suficientes para atrair cada vez mais público à medida que a actuação se desenrolava.

Mais do que um simples showcase, o concerto da espanhola com ascendência marroquina apresentou um fio-condutor e apoiou-se apenas num elemento atrás dos pads, e foi ele quem fez as transições suaves que, com curtos diálogos da artista, conduziram o espectáculo. Já a voz, carregada de efeitos indecifráveis que lhe davam um tom distorcido e perto de algo divino (ajudado pelo cenário que nos remetia para uma espécie de Jardim do Éden), retratou as “experiências e traumas que merecem ser partilhados”, palavras da própria artista. Enquanto isso, o público batia o pé nalguns temas em que as influências árabes vinham acima, levando até os menos audazes a mexerem a anca.

– João Daniel Marques


[Pongo] Palco Gasómetro

Se o assunto é fazer dançar, chamem a Pongo. Depois da hora de jantar, a sobremesa, que é como quem diz a sua actuação, foi mesmo um prato que se serviu quente, muito quente. A cantora que nasceu em Luanda e cresceu em Lisboa aproveitou o balanço da ida ao A COLORS SHOW para um regresso bastante celebrado à capital portuguesa, mostrando aquilo que todos os que se desligaram dela no pós-“Kalemba (wegue wegue)” andaram a perder.

Em palco, e ladeada por dois músicos, a artista foi performer de corpo inteiro, cantando e dançando em doses igualmente generosas de energia: “Quem Manda No Mic” foi declaração de guerra logo a abrir, mas os momentos altos foram mesmo a nova versão, mais musculada e lenta, do hino que fez com os Buraka Som Sistema e “Bruxos”, uma canção em que o melhor da kudurista vem à tona e que, em termos de produção, poderia muito bem ter saído de um encontro em estúdio dos “enchufadenses” Pedro da Linha e Dotorado Pro.

Para encerrar, a interpretação de “Uwa”, a última do alinhamento, teria de acontecer no meio do público, uma maneira de ir buscar aquilo de que esteve impedida durante tanto tempo. Como canta em “Começa”, o mais recente single que também fez parte da festa, a cantora é mesmo genuína e não falha.

– Alexandre Ribeiro


[Herlander] Palco Choque

À terceira faixa, Herlander já tinha conseguido conquistar totalmente aqueles que se acercavam da pista de carrinhos de choque — e deve ser isso aquilo a que chamam star quality, aquela evidência não-palpável de que estamos perante alguém que nasceu para estar ali, num palco, a ser recebido com o maior dos entusiasmos pelo público.

Com um alinhamento que só teve um momento de abrandamento baladeiro — a única altura em que se assistiu a uma diminuição do número de pessoas naquela pista –, o resto funcionou (quase) sempre com o sistema de som a estoirar — as emoções também, principalmente na linha da frente da plateia –, enquanto apanhávamos os estilhaços de música criada por quem cresceu na Internet a ouvir r&b e rap da viragem do milénio, mas que nos entretantos encontrou algum conforto em cadências techno e outras tipologias de música de dança.

“quem diriaiaia” deu o pontapé-de-saída; e “if you give it to me what’s luv got to do with it?…” e “Gisela” foram dois dos temas que marcaram esta apresentação do autor de 199; a certa altura, e pela primeira vez ao vivo, cantou uma faixa que vamos tentar descrever da seguinte maneira: é uma espécie de “Crazy In Love” caso fosse produzida por SOPHIE.

Passou rápido, demasiado até, mas, ao contrário de Eskama, é tudo com ele a partir daqui.

– Alexandre Ribeiro


[Plutonio] Palco Gasómetro

Antes de Plutonio entrar em palco, já um trio de cordas clássico se destacava no lado esquerdo do palco daquele que seria um dos poucos concertos dados após o lançamento de Sacrifício: Sangue, Lágrimas, Suor. E quem já viu concertos do rapper do Bairro da Cruz Vermelha sabe melhor do ninguém que se pode esperar mais do que um microfone e um DJ em palco. Em vez disso, o MC apresentou-se com vários instrumentistas, destacando-se o guitarrista João Lourenço – que com os seus solos de guitarra nos transporta para algo mais do que um simples concerto clássico de rap.

A multidão fez-se sentir e a temperatura convidava ao que ali se passava: um espectáculo a lembrar os grandes festivais “do antigamente”. Com a entrada ao som de “3AM”, e num cenário que recriava o seu bairro, o rapper desfilou os maiores êxitos: “Lucy Lucy”, “1 de Abril”, “Dramas e Dilemas”, “Lisabona” e “Cafeína”, com a participação especial de DJ Dadda aos comandos. Mas o DJ e produtor da Bridgetown foi apenas o último de três convidados, a quem foi atribuída a missão de encerrar a actuação. Antes dele, Plutonio partilhou o palco com Lord XIV – que nos trouxe o seu charme francês em “Paycheck”– e Richie Campbell, que participou na interpretação ao vivo da trilogia Pão na Mesa.

– João Daniel Marques


[Scúru Fitchádu] Palco Cine-Estúdio

Houve tempo para passar num dos sítios mais acolhedores, chamemos-lhe assim, do festival e sentir o cheiro, literalmente, de uma sala cheia de gente a dançar. A transpiração de grupo foi o resultado de uma imparável locomotiva conduzida por Scúru Fitchádu e companhia, que fizeram o que sabem melhor: baralhar as contas a quem pensa que já sabia tudo sobre metal, punk e funaná. E deu para avistar violentos abanares de cabeça e vislumbres de movimentos mais sensuais, tudo na mesma sala.

– Alexandre Ribeiro


[DJ Glue] Palco Choque

Aos primeiros ruídos emitidos pelo cunho de DJ Glue, o público encheu rapidamente o chão da pista de carrinhos de choque mais electrizante do país durante a noite passada. Este foi, para muitos, o primeiro avistamento de uma pista de dança desde que, em Março de 2020, as discotecas foram obrigadas a fechar. E foi ali, à frente daquele pequeno palco, que se sentiu, mais uma vez, o calor humano que um evento destes deve ter.

Do outro lado, o público reagiu da melhor forma ao arranhar dos pratos e às batidas que, de quando em vez e de forma deliberada – mesmo cómica até –, iam sido interrompidas por alguma eventual “ferrugem” nas mãos de quem há muito não animava as pistas de dança desta maneira. Era isso mesmo que faziam ali todas aquelas pessoas: dançavam ao som de temas que foram do reggae ao o rap mais clássico, entre outras coisas, numa selecção cuidada de um dos DJs mais acarinhados da nossa praça. E qual é a melhor forma de confirmar esse mesmo carinho? Com rodas de break.

– João Daniel Marques


[Shaka Lion] Palco Gasómetro

Dos três DJs que ficaram encarregues de encerrar o primeiro dia da edição deste ano do Iminente, Shaka Lion foi o único que teve direito a ocupar o palco principal, aceitando essa missão com o bom gosto e a agilidade nas transições e misturas que lhe é reconhecida. Para ele, Deejay Telio, Wizkid, T-Rex, Nelly, Nuno Beats, MD Chefe e funk carioca fazem todos parte do mesmo continuum — e não se coibiu de mostrá-lo com o maior dos entusiasmos. Um carrossel do qual ainda fizeram parte, em carne e osso, dois bailarinos, Jimi Jah e Fred Mineiro.

– Alexandre Ribeiro


[DJ Ride] Palco Cine-Estúdio

Foi uma das actuações mais intensas da noite. Aqui, o levantamento das restrições notou-se de forma mais óbvia. As paredes do Cine-Estúdio não pararam de vibrar, o calor humano era forte e o cheiro a fumo e cerveja derramada também, numa área que, sem máscaras, lembrou os concertos longínquos de 2019 e inícios de 2020. Nesta sala, se não fosse o sinal que dizia “usa a tua máscara”, dificilmente nos lembraríamos que este é, para muitos, o primeiro festival desde que o COVID-19 entrou no país.

Em cima do palco, DJ Ride cumpria a sua missão ao comando dos pratos, tendo uma prestação em que não faltaram ritmos acelerados num cenário nunca constante onde foram invocados temas assinados pelos Beatbombers, para além do reportório a solo do próprio. Na pista, o público deixou pequenas clareiras, mas essas foram rapidamente preenchidas assim que acabaram os restantes concertos.

– João Daniel Marques


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