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Fotografia: Midnight Madness, Nash Does Work e Vera Marmelo / Iminente
Publicado a: 20/09/2019

Entre o crioulo e o português fazem-se alguns dos maiores (e mais fascinantes) fenómenos da actualidade nacional.

Iminente’19 – Dia 1: quantas línguas tem Portugal?

Fotografia: Midnight Madness, Nash Does Work e Vera Marmelo / Iminente
Publicado a: 20/09/2019

O primeiro dos quatros dias de Iminente começou com vento e ameaça de chuva no Panorâmico de Monsanto. O festival que pode muito bem marcar a rentrée musical de Inverno na cidade de Lisboa cresceu, em 2019, para trazer mais um dia de concertos à cidade. Coube a Vado Mas Ki Ás, que já tinha sido uma das apostas da curadoria de Vhils para a edição londrina do evento, abrir a porta da casa para uma plateia de números ainda tímidos sem que isso fosse, no entanto, motivo para acalmar a entrega e o ímpeto do rapper da Damaia. Humildade e ambição marcam o discurso e a presença em palco de um MC que cresce para se apresentar aqui como um dos porta-estandartes da cultura emergente nacional.

Stamina é, também, o termo que define a apresentação de Deau no Palco Cave. Do mesmo modo, o gaiense começou por sofrer com a escassez de audiência que se dividia entre a actuação do primeiro e o espectáculo no espaço fechado do Panorâmico. Ainda assim, não falta a Deau nem flow nem pulmão para agarrar uma massa singular composta por adolescentes, jovens adultos e alguns já não tão jovens assim, que acabam por definir, em traços leves, a demografia do festival.

E foi com esse quadro que Kappa Jotta teve que trabalhar o Palco Outdoor, naquela que seria a primeira actuação a abrir a noite de Iminente. É na sua versão mais hardcore que o rapper da Linha C ganha o público, em Monsanto, num espectáculo bem oleado de quem, claramente, traz consigo muitas horas de estrada. A chuva que, finalmente, começava a cair não pareceu ser motivo para que o público arredasse pé, mas eram claras as mudanças de vibração entre aquela que é uma versão mais crua, hardcore e sempre cheia de energia do MC — que parecia provocar reacções mais efusivas — e os momentos mais espectaculares, regados com algumas das love songs do músico.

Já no Palco Cave, Rafa G criava um outro ambiente: de telefones em riste e músicas na ponta da língua, o público do rapper do Vale da Amoreira levou o prémio da noite — ou de parte dela — nas categorias de efusividade e entrega. O mérito, claro, vai para o jovem músico que, claramente, tem pela frente um dos caminhos que mais expectativa suscita depois desta primeira ronda de prestações ao vivo. Meia hora depois, no Palco Escada, Maddruga começava a sua “aula” de DJing — que facilmente teria encontrado espaço no Palco Outdoor, onde se irá apresentar com Classe Crua — confirmando o brasileiro, emprestado à equipa lusa, como uma das mais importantes e interessantes figuras atrás dos decks nacionais. A maturidade e os 20 anos de experiência de Maddruga acabam por contribuir para aquele que foi um dos espectáculos mais relevantes deste início de festa.

Seja em que palco for: festa e skill entram em perfeita comunhão quando é Holly Hood quem está ao microfone. O Dread que Matou Golias é um dos mais exímios na arte de criar músicas para as massas sem nunca descurar na complexidade das suas rimas, não esquecendo também o trabalho minucioso de Here’s Johnny na produção, ele que é o artesão por detrás dos panos de fundo instrumentais que recebem as rimas o MC da Linha da Azambuja. A dupla mais temida da Superbad subiu ao palco às 21h40 e conseguiu a proeza de reunir a maior plateia da noite, disparando hit atrás de hit, com “Ignorante”, “Cala a Boca”, “Miúda” ou “Fácil” à cabeça. Pelo meio contam-se ainda as aparições momentâneas de No Money e Kaps, este último um talento emergente de Paço de Arcos a merecer a total confiança de Holly Hood, que descreveu o festival curado por Vhils como o espaço ideal para lançar os talentos emergentes da música urbana nacional. Repetindo a sua primeira actuação do Iminente, o rapper aproveitou ainda o tempo de palco para estrear “Nemesis”, uma faixa inédita repleta de punchlines orelhudas.

No Palco Cave, sensivelmente durante o mesmo horário, estava a decorrer a actuação de Scúru Fitchádu, que ainda tivemos a oportunidade de espreitar. Punk e funaná uniram-se uma vez mais, catalisados por um elevado número de BPMs, com Marcus Veiga a liderar uma banda que contou com Chullage ou Bdjoy enquanto elementos secundários. À primeira escuta pode até soar estranho mas a sonoridade entranhou-se no público de tal forma que ninguém se recusou a dançar.

Foi por volta das 23 horas que regressámos ao Palco Outdoor, com tempo mais do que suficiente para vermos o que se iria passar a seguir. Sendo a Força Suprema o colectivo agendado para aquele slot da programação, foi anormal ver uma bateria, guitarra, baixo e teclas dispostos na plataforma que segura os artistas em cena. Músicos ao seu lugar, o grupo da Linha de Sintra foi entrando no palco um a um à medida que chegava a vez do seu respectivo verso. Não que o DJ tenha deixado de ser um elemento-chave num alinhamento de hip hop direccionado para o live mas é inegável o balanço que a nova roupagem com instrumentos ofereceu às músicas do conjunto composto por NGA, Prodígio, Masta e Don G. Dos temas recentes aos mais clássicos, houve até espaço para que cada um dos MCs brilhasse a solo com faixas dos seus respectivos catálogos pessoais. Na plateia, a sensação foi unânime: este é o formato ideal para a Força Suprema continuar a “atacar” os grandes palcos.

De regresso à Cave, deixámos de conseguir perceber qual seria realmente o alinhamento planeado para aquele local até ao fecho do recinto, com os elementos escolhidos para representar a It’s A Trap Experience a pisar o palco quase duas horas antes do que havia sido inicialmente anunciado. Após um curto DJ set, Fumaxa surgiu em cena e colocou todos em sentido para receber o novo grupo de Mem Martins, ao qual se tem associado nos espectáculos ao vivo. Falamos dos Instinto 26, que têm Julinho KSD como rosto principal e que recentemente estabeleceram uma ligação contratual com a Sony Music Entertainment Portugal, com Trista, Kibow e Yuran a completar o quarteto. “Hoji En Sa Tá Vivi”, o recente “Vivi Good” e o viral “Sentimento Safari” foram os únicos temas apresentados pelo grupo, com esta última faixa a receber aquele que foi, possivelmente, o maior coro da noite vindo por parte da plateia. Minguito e Shocks49 eram os outros dois nomes que estavam escalados para os showcases, mas no tempo de espera entre os actos — Oseias, 20Chatear e Circa Papi já tinham tomado conta do palco — decidimos arriscar em regressar à rua para apanhar o final da actuação da Força Suprema.

Seja em inglês ou em português, Apollo G já nos deu todos os motivos para o termos em conta entre a elite do afro trap criado a partir de território lusitano. Foi ele o responsável por fechar o palco principal no primeiro dia do Iminente, com uma prestação fluída e bastante enérgica, com espaço até para saltos mortais a partir da mesa reservada para o seu DJ. Yohan 258 foi chamado a acompanhá-lo ao microfone por diversas vezes, eles que recentemente uniram esforços em “AFRICA”. Trunfos? Isso é uma expressão que não entra no dicionário daquele que é um dos artistas com mais singles editados nos últimos 12 meses.


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