[TEXTO] Hugo Jorge [FOTO] Direitos Reservados
Há amizades que valem a pena e os Ikopongo são prova disso. O projecto que junta MCK e Ikonoklasta é a celebração de um percurso de vida e a partilha de uma ideia: lutar por uma Angola de justiça, paz e humanidade.
A estreia ao vivo está marcada para este Sábado, 3 de Dezembro, no Musicbox, naquele que será o primeiro concerto ao vivo da dupla de rappers. Em palco vão assumir um formato minimalista – acompanhados apenas por um DJ e sem a banda Jazzmática, que criou de raiz a sonoridade do projecto – mas mantendo o microfone político sempre no “on”.
Promessa deixada por MCK em conversa com o ReB: “Estamos a celebrar uma amizade de 20 anos e a expor o sonho de transformar Angola”, disse, estendendo depois o convite ao “pessoal que tem interesse em conhecer as outras versões de Angola, principalmente aqueles que têm uma ligação de irmandade com o país”.
É a mesma força de irmãos que une MCK a Ikonoklasta, mais conhecido por Luaty Beirão. Os dois conheceram-se na rádio, onde Luaty tinha um programa de rap, e MCK dava os primeiros passos no hip-hop. A amizade redobrou forças com o caso dos 15+2 e hoje a admiração é evidente. “Temos muita cumplicidade e equilibramo-nos muito. Vivemos num espírito de inter-ajuda: quando ele está em baixo eu puxo-lhe, quando sou em baixo ele puxa-me. Isso faz com que estejamos juntos até agora”.
A actuação de sábado é a primeira ao vivo, mas chega depois de duas tentativas falhadas. Os Ikopongo – um jogo de palavras com os nomes dos MCs Ikonoklasta e Katrogipolongopongo – tiveram dois espectáculos barrados em Luanda. Mas seguindo a máxima do fruto proibido é o mais apetecido, a dupla recebeu uma exposição mediática enorme, aproveitaram-na e, com recurso a uma ligação à Internet, conseguiram improvisar um espectáculo num local secreto transmitido em stream para quem quisesse ver.
Resistir tornou-se assim no mote dos Ikopongo, verbo que Luaty Beirão está tão habituado a conjugar. Em Portugal para o lançamento do seu livro “Sou eu mais livre, então”, o activista deixou ao ReB uma espécie de agradecimento irónico àqueles que o censuraram.
“Eles [autoridades] deviam saber que ao proibirem um concerto estão a dar-nos uma atenção que vai despertar curiosidade junto de pessoas que, até então, nunca haveriam de nos ligar. Agora, vão estar curiosas para saberem o que se passa, para conhecerem esta música que é assim tão proibida. Já nós, vamos continuar a insistir, a provocar. Quantas mais barras existirem maior será a exposição”.
Qual alimento, a censura acabou por fazer de um projecto de ocasião uma coisa muito maior e a possibilidade dos Ikopongo crescerem até um álbum é agora uma realidade. “O projecto musical nasceu de um desafio feito por amigo nosso em França e era para ser um concerto só. Mas, é claro, com as barras em Angola e este show em Lisboa, uma coisa alimenta a outra e não quero que o projecto acabe aqui. Estou mesmo a retirar muito prazer de tudo isto. O K é um companheiro de percurso de há muitos anos e esta adição de um elemento acústico e orgânico faz-me sentir que vale a pena continuar. Sempre tivemos a ideia de gravar um álbum e pode ser que isso aconteça”.
Os Ikopongo são convidados do décimo aniversário do Musicbox, a 3 de Dezembro, actuando a partir das 22h30. A noite continua com actuações de Rui Miguel Abreu, director do Rimas e Batidas, e Irmãos Makossa.