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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/10/2020

Por um futuro mais luminoso.

Ikonoklasta sobre “Luena”: “É um pedaço palpável de memória que deixo para a minha filha”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/10/2020

“Luena” é a nova faixa de Luaty Beirão aka Ikonoklasta. O tema solto é produzido por Syn, anteriormente conhecido como Syniko, nome associado ao colectivo Sistema Intravenoso.

O sucessor de canções como “Meio Demónio”, “O Kajinvunda” ou “Ópera Distorcida” é, segundo o próprio, “um pequeno compêndio sonoro de conselhos (ou sugestões) para aumentar as probabilidades de uma vida mais feliz”.

Enviámos quatro perguntas ao rapper e activista, que nos explicou esta sua missão de tentar preparar as gerações vindouras para um futuro melhor.



O novo som que vais lançar, “Luena”, é o teu Between The World And Me, para citar o título do livro que o Ta-Nehisi Coates escreveu como uma espécie de guia para o futuro endereçado ao seu filho?

Yoooooo, questão um logo a rebentar, senti-me instantaneamente inculto [risos]. Não sei bem dizer porque nunca li o livro, mas tentei fazer da música um pequeno compêndio sonoro de conselhos (ou sugestões) para o que considero aumentar as probabilidades de uma vida mais feliz, tentando o meu melhor para não soar pretensioso ou categórico. Tantas sugestões tiveram de ser sacrificadas para não prolongar ad nauseam a obra, tornando-a aborrecida para a destinatária que já é de uma geração onde o attention span é muito curto. “Ignora tudo o que eu disser se te está a aborrecer, vai e erra”.

Este som é “solto” ou faz parte de algum projecto maior?

Na falta de um projeto maior, vou fazendo sons soltos (“Meio Demónio“, “O Kajinvunda“, “Ópera Distorcida“), porque ya, apesar de por algumas vezes ter começado a esboçar um álbum no sentido mais convencional que lhe atribuímos, qualquer coisa acontecia no processo, ainda na fase embrionária, que me fazia “abortar a missão”, ou relegá-la para um “futuro próximo” que acabou por nunca chegar. Não quero juntar só músicas e chamar esse corpo de trabalho de álbum. Acho que o momento em que mais me aproximei disso foi com o meu segundo mp3chos, o As melhores coisas da vida são de graça, onde, apesar de ter gravado em instrus biznados, construí os temas com intenção de conviverem naquela hora de música, por oposição aos outros em que junto temas soltos para facilitar a vida a quem queira explorá-los.

Quem produz?

O som é produzido pelo Syn, um produtor português que conheci há muitos anos quando rolava bwé com a malta do Sistema Intravenoso (VRZ, Pródigo, DJ Sims), com quem me dava (e dou) muito bem. Recentemente, não me lembro bem como, cruzámo-nos e, como sempre acontece com aficcionados musicais, fomos trocando ideias e mostrando um ao outro os nossos trabalhos dos últimos tempos. Eu fiquei com uma pasta de instrumentais suculentos e o “Luena” vem daí. Assim que ouvi esse instrumental, há mais de um ano e meio, decidi que aquele seria o invólucro sonoro ideal para embrulhar a minha mensagem de amor incondicional pela minha filha, sem que nunca antes tivesse pensado em fazer-lhe uma dedicatória nesse formato pois, desde que aprendeu a falar me diz: “não gosto das tuas músicas de falar!” O Syn produziu também o “Meio Demónio” e o “O Kajinvunda” e ainda havemos de ter outros sons, pelo menos enquanto se mantiver este recém readquirido ânimo pela criação artística que esteve no pause durante os anos em que foi preciso criar espaço para respirar no meu país.

Estamos todos tão enredados neste presente estranho que parecemos esquecer-nos do futuro, mas “Luena” és tu já a pensar nas próximas gerações, é isso?

A minha vida adulta tem sido dedicada a preparar o terreno para as vindouras, ainda antes de sequer sonhar ser pai (“eu não queria ser pai, contribuir com mais uma alma atormentada neste mundo sem paz”). Quanto mais envelheço, mais urgente se torna essa missão e, enquanto houver força e ânimo, continuarei a dedicar-me a ela, pelas gerações no geral, pela minha descendência em particular. O “Luena” é um pedaço palpável de memória que deixo para a minha filha na eventualidade do (im)previsível acontecer prematuramente.


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