É difícil não lhe reconhecer o nome, tantas vezes presente nos créditos das nossas músicas favoritas. Ice Burz já produziu para YUZI, Mike El Nite e Sippinpurpp, mas também é habitual vê-lo ao lado de algumas das promessas mais entusiasmantes do game — Gangarve e YVNG CIRIUS serão apenas alguns exemplos.
Em Medo Da Morte, o produtor do Porto voltou a juntar forças com CIRIUS e Uzzy (“Fama” ésingle e o vídeo já está disponível no YouTube), sem nunca esquecer quem lhe é próximo, como PNG, Rico Gabanna ou Minguito (produziu “Money & Beef“, o mais recente single do rapper do Barreiro).
A afirmação está cada vez mais perto e o álbum de estreia parece ser apenas o primeiro passo de Burz, que esteve à conversa com o Rimas e Batidas sobre o seu papel enquanto artista, o título do longa-duração ou a relação Lisboa-Porto.
O rótulo de hip hop ainda te chega ou preferes ser mais específico? Fazes drill, trap ou és, acima de tudo, produtor?
Bem, eu não considero que me possa rotular como inserido no mundo do hip hop a 100% porque também crio música noutros géneros, não só trabalho em trap e drill (estilo que comecei por produzir), mas também ando a fazer colaborações de techno no que toca a mistura e masterização das faixas do Quizak. Eu considero-me um artista.
As novas sonoridades encurtaram as distâncias entre Porto e Lisboa ou ainda há características assumidamente distintas?
O Porto só ultimamente começou a ter algum reconhecimento merecido, nós aqui respeitamos muito o trabalho do pessoal do Sul e Centro e criamos conexão com eles todos porque ao fim do dia estamos todos a fazer música. Ultimamente, o Porto anda com umas sonoridades características e tem-me agradado a evolução.
A geografia não condicionou este teu trabalho: convidaste o Uzzy, o Baqui e o Anker, por exemplo, mas também o Rico Gabanna ou o PNG, teus conterrâneos. Como é que construíste essas pontes?
Apesar da distância ser longa entre nós, as redes sociais facilitam nesse problema. Pedi aos artistas que não são do Porto que gravassem e enviassem as faixas de voz e tratei do resto. No caso do Rico Gabanna, $tag One e PNG, que são de perto, gravei eu, e também gravei o Minguito quando ele esteve no Porto.
Parece haver uma ligação especial entre ti e o YVNG CIRIUS — e o tema que partilharam acabou por dar título ao álbum. Há uma química diferente na hora de criar ou gravar com ele?
O que eu acho é que o YVNG CIRIUS é um artista que encaixa muito bem nos meus instrumentais, sai sempre algo com que nós os dois nos identificamos.
E porquê Medo Da Morte?
O título do disco está relacionado com a morte da figura artística e não da pessoa. É como se alguém eliminasse outra pessoa da cabeça e morresse para ela, ou seja, o falhanço do artista. Essa pessoa vai estar viva, mas o seu nome não.
Tens mais projectos na gaveta?
Tenho muitos projectos a vir até ao fim do ano, com vários artistas de vários pontos do país.
Produzir para rappers tão populares como o YUZI ou o Sippinpurpp é o mesmo que trabalhar com novos valores ainda sem nome na praça?
Para mim, o processo é igual com todos os artistas. É simplesmente fazer o instrumental, em alguns casos é só enviar o beat, noutros preciso de gravar, misturar e masterizar, vai tudo em volta do mesmo. Desde que sinta a música e o artista, eu gosto de fazer.
Uma vez que o produtor fica quase sempre na retaguarda, onde a palavra não chega, há alguma mensagem que queiras aproveitar para passar?
Acho que as pessoas não têm dado valor a certas coisas com que lidam todos os dias, mas isso é normal. Só tenho de continuar a fazer aquilo de que gosto.