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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 13/11/2025

Saiu o álbum de estreia da dupla luso-francesa.

IBSXJAUR sobre SANITY: “Os BPMs rápidos são a representação mais real do que se passa nas nossas cabeças”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 13/11/2025

O nome é difícil de ler e ainda mais desafiante de pronunciar, mas tudo se torna mais simples quando se parte para a desconstrução: os IBSXJAUR são a dupla formada pelo produtor e DJ francês INFRABASSESATURE (IBS) e pela cantautora portuguesa JAUR.

Conheceram-se em França, vivem em Vila Real há três anos e após uma série de EPs em conjunto WE ARE PROTECTED BY GOD (2022), RAW (2023) e NOBODY IS HAVING FUN (2024) decidiram avançar para um álbum de estreia. 

SANITY foi editado pela Cuca Monga a 17 de Outubro e é um disco de múltiplas referências electrónicas — da bass music ao hyperpop, passando pelo drum and bass — que aborda, acima de tudo, as questões da saúde mental no mundo contemporâneo, sobretudo para as gerações mais jovens. 

O duo tem estado a apresentar o novo trabalho ao vivo, sendo que o palco tem sido encarado pelos IBSXJAUR como o sítio em que o seu projecto artístico de facto se concretiza em pleno. Até ao final do ano, vão tocar em Loulé, Lisboa, Évora, Braga, Vila Real, Coimbra e Cadima as datas podem ser consultadas na página de Instagram da banda. Em nome da dupla, JAUR conversa sobre SANITY com o Rimas e Batidas.



Vocês já tinham alguns EPs, mas desta vez apostaram num álbum, um formato mais longo e com mais faixas. Por causa disso, encararam este disco de maneira diferente? Ou pensaram nele simplesmente como mais um passo, sem estarem demasiado preocupados com esse formato de longa-duração ou com o peso que o conceito de álbum por vezes carrega?

É uma pequena pressão. Por acaso, tínhamos previsto continuar a fazer EPs, mas foi a nossa booker que nos desafiou: “Vocês têm tanto material, tanta música, tantas ideias e vontade, ‘bora fazer um álbum”. Estivemos a pensar e de facto era óbvio fazermos um álbum completo, foi muito natural. Claro que existe uma pressão, é o primeiro álbum de sempre que fazemos, é a primeira vez, são mais músicas e tentar torná-lo algo mais composto foi desafiante, mas super fixe.

E, até em termos musicais, abordaram este disco como os anteriores? Já tinham muita coisa composta e escrita antes de decidirem que iriam fazer um álbum? Como foi o processo?

Nós estávamos a imaginar uma continuidade nos EPs, uma linha que os ligasse uns aos outros. Portanto, em termos de música, queríamos um álbum que tivesse uma estética sonora óbvia, que tivesse uma recorrência que fosse clara. Uma identidade própria para este disco, mas ao mesmo tempo que não se repetisse muito. Que cada tema pudesse ter a sua cor e o seu universo, o seu shine e particularidades, mesmo que estivessem ligados uns aos outros.

E o facto de chamarem SANITY ao disco, e tendo em conta que é um trabalho que aborda muito as questões em torno da saúde mental nas gerações mais jovens… Tinham uma série de canções em que naturalmente foram por aí e acabaram por perceber que era o caminho que fazia sentido?

Sim, foi mesmo assim. Quando escrevemos a “ECHO”, há uma frase que diz: “O que é a sanidade? Como definir algo que eu não tenho?” E era uma palavra que aparecia muito, essa ideia de insano ou de sanidade. Então, foi óbvio dar este título ao álbum. Acho que é a palavra que mais sobressai das letras de todo o disco.

E o que é que te fez querer explorar sobretudo esta temática neste álbum?

Foi muito por experiências da minha vida, sobre aquilo que sinto. Por exemplo, a “ECHO” é de quando eu estava a trabalhar num call center. Todos os dias atender chamadas e repetir a mesma coisa, sempre, sempre, over and over again. Estava a ficar maluca por fazer a mesma coisa durante tantos anos e a repetir as mesmas frases. E muitas vezes sinto que existe esse problema de identificação, de representatividade. Não é que seja muito especial, mas sou especial e onde é que eu encaixo? Parece que não há lugar em lado nenhum para eu me sentir bem, mas afinal sim… E como é que eu consigo aturar os meus demónios internos quando os exteriores também são tão fortes? Pronto, é muito sobre isso.

E o próprio processo de escrever, compor e cantar em torno disso é uma forma de lidar com essas experiências?

Completamente. É como se estas experiências já estivessem libertadas. Já não me pertencem só a mim, estão fora, está resolvido.

Musicalmente, vocês cruzam uma série de ingredientes sonoros distintos para os vossos temas. Como disseste, tentaram que cada música tivesse uma cor, mas também existe uma coesão entre as diferentes faixas. Sentes que a maior parte das músicas também acabam por reflectir as temáticas? Por exemplo, há canções que parecem evocar a sensação de confusão ou de overthinking, com muita coisa a acontecer ao mesmo tempo.

Sim! O drum and bass e os BPMs rápidos são mesmo a representação mais real do que se pode passar nas nossas cabeças. E mesmo da representação da nossa geração, da nossa adição às redes sociais, de ser tudo muito rápido… Parece que o mundo está a correr cada vez mais rápido e nós não temos tempo de apanhar nada. Não nos lembramos do que vimos há cinco minutos nos nossos telefones.

O disco e a vossa música reflectem isso, mas também fazem uma certa crítica a essa realidade.

Não me sinto confortável a dizer que é uma crítica porque é muito sobre a nossa experiência e, portanto, não tenho a capacidade de dizer que é isso que está a acontecer no geral. Acho que precisamos de saber muito mais sobre estas complexidades todas antes de fazermos uma crítica. Mas sim… Por exemplo, a música “NOBODY IS HAVING FUN” tem um beat rápido e nós estamos sozinhos, fechados em casa, e ninguém sai, ninguém está contente e ninguém faz nada. Estamos todos com pensamentos muito maus e como é que vamos lidar com isso? É deixar a vida correr? Sim, é…

E como é que funciona o vosso processo criativo? Para este álbum foi igual aos outros discos? 

Por acaso, foi. O IBS faz a produção e depois ouvimos o que ele fez. Quando sinto que tenho uma sugestão a fazer, faço e fazemos ali uns apontamentos e depois ele manda-me. E eu começo a escrever a letra e a melodia. E ele também aponta coisas. Não muito sobre a letra, mais sobre as melodias, vai propondo algumas alterações. É um processo em que temos as nossas partes divididas, mas temos interacções um com o outro sobre a parte de cada um.

É um trabalho de equipa mesmo. E depois imagino que, no fim, ainda haja mais pós-produção.

Quando já está finalizado, há sempre uma coisinha ou outra. Depois gravo as vozes e quando ele faz a mistura continuamos sempre a produzir coisas: “Se calhar fazemos isto aqui, se calhar acrescentávamos aquilo”.

Falando de outra vertente do vosso projecto, que é a performance nos concertos, também sentes que é aí que a coisa se materializa de facto? Ou seja, quando podes apresentar as canções ao vivo com toda a energia?

Completamente. É aquilo que eu prefiro, é aquilo que nós preferimos. Se eu pudesse só fazer concertos, fazia só concertos — talvez quatro vezes por semana ou mais. É mesmo a concretização de IBSXJAUR. É o momento em que a música tem mais vida, porque é ao vivo, parece mesmo que estou a libertar tudo. É um momento em que não vamos estar a pensar em coisas más ou em que não vamos estar nos nossos telefones, em que vamos poder estar com pessoas e partilhar o momento com elas. Porque, para mim, o nosso concerto não é um espectáculo que se vê, é uma coisa em que se participa, onde as pessoas estão a comunicar alguma coisa. É uma pista de dança e não é um concerto nosso, é um concerto de toda a gente.

E até imagino, por causa dessa importância para vocês, que já pensam na experiência ao vivo quando estão a criar as canções. Se vai soar bem ou não, ou como é que as vão apresentar…

Completamente. Cada vez mais criamos as músicas a pensar no live

E como é que encaram este disco, perspectivando a vossa carreira? Sentem que pode ser um passo importante para darem um salto e terem mais concertos, para chegarem a mais pessoas?

Claro, completamente. Até agora, estávamos a tocar e não tínhamos as músicas cá fora. Agora já há disco e as pessoas podem ter uma ligação mais forte com as músicas, podem ligar-se directamente a elas e depois continuar a viver o disco através do concerto. Nós estamos muito satisfeitos com o disco. Acho que podemos sempre fazer melhor, mas este… Acho que não se podia fazer mais do que fizemos [risos]. Ele desenhou a capa, é mesmo tudo desenhado e ficou fantástico. E claro que queremos dar o alcance ao álbum que achamos que ele merece. Estamos aqui para o partilhar e acreditamos muito nele.

Claro. Tendo em conta a vossa ligação a França, também é um mercado em que gostariam de tentar furar?

Sim, claro que é lógico para nós, sendo também franceses. Está nos nossos objectivos, tal como ir para Espanha ou Itália, temos algumas ideias e estamos a trabalhar sobre isso. 

Só para terminar, editaram o disco pela Cuca Monga. Como é que se deu essa ligação à editora? 

Foi mesmo à última hora. E foi engraçado porque nós fizemos um concerto em Caldas das Taipas, abrimos para os Ganso e gostámos imenso deles. Uma malta muito, muito fixe, que fazem parte da Cuca Monga. Também conhecemos a emmy Curl, de quem também gostamos imenso e que também está na editora. E, quando recebemos a proposta, achámos que fazia sentido, porque tem artistas de que gostamos. Mesmo sendo um estilo completamente diferente, let’s go, vamos a isso.


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