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Fotografia: Pedro Pina / Fundação Calouste Gulbenkian
Publicado a: 30/03/2023

Celebração de uma vida e obra sem paralelo.

Iánnis Xenákis: uma longa tangente de 25 séculos

Fotografia: Pedro Pina / Fundação Calouste Gulbenkian
Publicado a: 30/03/2023

O sol da Córsega. Uma vida intensa. Nascido em Brăila, Roménia, cidadão grego. Da Grécia do seu tempo e da Grécia antiga. Iánnis Xenákis, nome maior da música, da arquitectura, do espaço e sobretudo de uma vontade em estabelecer outros valores para uma sociedade em construção. Um dos que acredita(va) na “revolução em letra maiúscula”. Homem que combateu o regime nazi e perseguido, mais tarde, pelo exército britânico por ser comunista. Encarna todas as contradições políticas da sociedade contemporânea. Será somente da contemporânea? Vida intensa e obra maior. Como arquitecto, matemático, professor, músico — por esta ordem ou por sequência outra, pois somos devedores de uma visão e legado que perdura e deve ser recordada. O sol da Córsega. A casa circular. O poder ver o horizonte, horizonte-infinito de todos os ângulos possíveis.

Uma sociedade fechada, cuja circunferência não ultrapassa o seu umbigo. Redondo é certo, mas não maior que esse. Auto-justificativa, num esplendor reproduzido no mantra dos novos mundos ao mundo. A “bravura” que permite manter um status quo ancestral. Sociedade de meia dúzia de famílias. Felizmente, Madalena de Azeredo Perdigão e Luís Pereira Leal, ambos directores do Serviço de Música da F.C. Gulbenkian, construíram a seu devido e no tempo exacto uma relação profícua com Xénakis. Organização de conferências, encomendas directas de obras musicais, cursos e eventos em que participou, tudo rigorosamente documentado e apresentado na exposição – Xenákis e a Fundação Calouste Gulbenkian, no Átrio da Biblioteca e complementar à Révolutions Xenákis, na Galeria de Exposições Temporárias, ambas patentes até ao passado dia 27 de Março.

Dois parágrafos, mais ou menos introdutórios, para fazer menção a Arquitetura dos Sons – Obras de Iannis Xenakis, Ângela Lopes, Cândido Lima e Diogo Alvim, apresentada em sessão dupla na Sala do Foyer, com curadoria do Ensemble DME. Um público heterogéneo na idade pelo menos, com um número de crianças em exercício de concentração assinável, mas igualmente por conhecedores e curiosos da obra de Xenákis. Assistimos a uma comunicação invisível (haverá melhor forma?) entre o legado e a suas diversas interpretações, nomeadamente de Cândido Lima, que privou com o autor. Todavia, seria curto e injusto não mencionar que todas elas foram apresentadas de forma rigorosa, não no seu sentido literal, mas sobretudo nos conceitos tão marcadamente associados à obra do autor grego. A referência a circularidades sonoras, a elementos naturais, nomeadamente à água, o convite para o espectador “residir” no meio da peça em octonofonia — evitaremos o uso do termo “imersivo” por tão gasto que está —, o uso de instrumentos clássicos, mas nunca o sendo. Referência, ainda, para a última peça “Posição Relativa”, de Diogo Alvim, em que cada músico se dispunha em posições diferentes ao longo da sala, durante o concerto. 

Uma celebração que termina, pelo menos na F.C. Gulbenkian, com pontos a destacar – as exposições, os concertos, as parcerias que se estabeleceram com o sempre activo e assertivo Essemble DME. Alguns outros aspectos a melhorar e quem sabe outros pequenos caminhos a seguir. A ilusão de querer ser grego e ter nascido vinte e cinco séculos antes, tivemos. E já é tanto.


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