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Fotografia: Romany Francesca
Publicado a: 12/04/2024

Diana de Brito está de regresso a Lisboa.

IAMDDB: “O meu próximo passo é fazer canções em português”

Fotografia: Romany Francesca
Publicado a: 12/04/2024

IAMDDB está de volta a Lisboa, uma cidade onde já foi feliz mais do que uma vez, agora para se apresentar no B.Leza, no Cais do Sodré, a 23 de Outubro. A rapper luso-angolana, nascida na capital portuguesa mas radicada desde a infância no Reino Unido, traz na manga o seu mais recente trabalho, LOVE is WAR, Volume 6, o sexto projecto do seu percurso. Os bilhetes estão disponíveis online, pelo valor de 25€, sendo que as portas abrem às 21 horas.

O concerto e o disco foram o pretexto para uma entrevista via videochamada com o Rimas e Batidas, onde Diana de Brito revelou querer trabalhar com músicos de expressão portuguesa, com letras em português, tendo adiantado ainda que já assinou uma colaboração com Mayra Andrade. A artista reflectiu também sobre o seu novo projecto, o processo criativo e os objectivos artísticos que tem.



Estás de volta a Portugal para apresentar o LOVE is WAR. Como é que este projecto surgiu? Foste fazendo canções que acabaram por fazer sentido num todo? Tinhas um objectivo específico em mente desde o início?

O LOVE is WAR foi muito importante para mostrar o meu som multidimensional e para não me cingir aos beats de onde venho. Foi um processo de fazer muita música diferente, sentir emoções muito distintas, e perceber o que me fazia sentir bem. Foram quatro anos de trabalho, por isso foi muito tempo… Mas, sim, o Volume 6 foi fazer canções e juntá-las num corpo de trabalho. 

Porque é que sempre optaste por usar esta sequência de volumes para interligar os teus discos? É algo que planeias continuar a fazer?

Quando penso num álbum, começo a pensar que um “álbum” é algo muito sério. É um momento definidor e, na minha vida, nunca posso dizer que esta é a melhor ou a pior versão de mim. É um flow contínuo, um crescimento continuado, é evolução, é fazer, desfazer, tornar-me, desconstruir-me. Por isso, prefiro chamar-lhes volumes, porque são como capítulos diferentes da minha vida. Em vez de afirmar “eu sou a artista que quero ser”, é assumir que estou sempre a descobrir quem sou enquanto pessoa e a trazer essa energia para a música. Por isso, vou definitivamente continuar a fazer volumes, essa é a minha cena.

O que é que sentes que este capítulo, este volume, tem de diferente?

Acho que voltar às edições independentes é algo muito importante para mim enquanto artista, porque nos últimos três projectos trabalhava com um management, colaborava com editoras major, mas essa nunca fora a minha intenção. Nunca quis estar com uma editora major, porque não penso que seja esse tipo de artista. Sei como o quero fazer e é bom ter essa liberdade criativa, para fazer, dizer e ser quem quer que eu queira ser. E acho que o Volume 6 é uma boa conclusão de todos os volumes juntos, só que muito mais refinado e aprimorado. Acho que, do primeiro ao quinto, estava ainda a tentar perceber como queria soar, que géneros queria explorar, mas agora, ao seguir em frente, acho que entendo o que quero fazer e como usar o meu instrumento de maneira muito melhor. 

E porque é que o amor é uma guerra?

Essa é literalmente a minha vida [risos]. Eu queria mesmo mostrar às pessoas que tudo aquilo que valorizas nesta vida… Vais ter de ir à guerra por tudo. E a minha munição é sempre o amor. Não interessa quão más as coisas se tornem, mantenho o amor no centro de tudo aquilo que faço. E até agora tudo bem, manteve-me sã e com os pés na terra. Mas foi mesmo uma conclusão a que cheguei em 2019, até o tenho tatuado na minha pele. E apercebi-me: “Diana, vais mesmo ter de ir à guerra todos os dias.” Eu vou à guerra comigo própria, com a minha mente, com deixar ir versões de mim mesma que eu já não sou e tornar-me uma nova versão, e é difícil para uma jovem artista nesta indústria manter um equilíbrio, ter chão firme no espírito e também ter um ego equilibrado. Por isso, LOVE is WAR é literalmente a vida. Os artistas independentes têm de ir à guerra para conseguir suportar a sua música, para construir a equipa que construí até agora, e tem sido mesmo um cenário de guerra da vida real… Mas não o mudava por nada.

E suponho que, neste caso, vejas o “amor” num sentido lato.

100%, é completamente lato. Pode ser ires para a guerra com a tua família e teres uma reconciliação através do amor. Ter conversas honestas com os membros da tua equipa, atraíres pessoas que de facto te querem proteger em vez de trabalhar contra ti. Por isso, sem dúvida. Estou grata por toda a energia masculina que tenho na minha vida, trabalho com homens incríveis que produzem ou fazem conteúdos para mim, e o amor é muito além do romântico. É amor próprio, amor fraternal, amor comunitário… Ter amor suficiente para criar grande arte e também espalhar amor pelo público, porque é disso que o mundo mais precisa. Mais amor. 

E está sempre presente aquela lógica de que nada é garantido.

Exactamente, LOVE is WAR é literalmente a polaridade da vida que levamos. Nada nesta vida te vai ser entregue, por isso tens de acordar todos os dias e lutar por aquilo que é teu por direito.

Houve alguma diferença significativa no processo criativo deste volume?

Gosto de manter as coisas muito simples em relação àquilo que crio. Não tenho muitas pessoas no estúdio. Sou só eu e o produtor. Acho que, neste volume, permiti-me a preocupar-me menos com o resultado e deixei-me sentir mais: “Como é que isto me faz sentir? Qual é a mensagem que quero transmitir? E como é que vou a interpretar ao vivo?” Levei-me a pensar de forma profunda sobre isto: “Tu tens de fazer música de que vais gostar de cantar ao vivo. E também ter música que vai puxar as pessoas para baixo e depois trazer a energia para cima.” Foi com isso que lidámos neste projecto: as mellow jazz vibes, o drum and bass, o reggae… E também temos trap music para quando quisermos abrir o moshpit e ficarmos malucos [risos].

Normalmente, escreves a pensar num beat específico?

Na maior parte dos casos, oiço a melodia e assim que tivermos uma pequena estrutura melódica e os drums, começo a sentir, a canalizar melodias e a escrever. Mas por vezes também simplesmente escrevo, e deixo fluir, e o journaling pode ser uma óptima maneira de escrever experiências de vida. Às vezes passo por algo, escrevo sobre isso e depois volto lá. E por vezes vou ouvir melodias, e gravo-me só para o caso de querer voltar àquilo. Há muitas formas, depende sempre muito da canção que estou a tentar fazer. E as frequências das melodias também me levam para diferentes estados de espírito. 

Houve muitas canções que ficaram de fora?

Sim! Tantas. Na minha mente, já estou no oitavo volume. Tenho de desacelerar e fazer uma coisa de cada vez. 

E é especial para ti quando actuas perante o público português?

Adoro mesmo, só o facto de poder falar português e sentir-me tão em casa, porque tenho família em Portugal… Faz com que seja mesmo pessoal, e como vivi aí nos meus primeiros anos de vida, ir ao CascaiShopping e ver tudo aquilo que eu via quando era criança, é mesmo um mimo voltar enquanto artista estabelecida e espalhar a música como se fosse fogo.

Obviamente, o mercado português é muito reduzido comparado com o britânico. Mas vês-te a colaborar com artistas sediados em Portugal ou mesmo noutros países de expressão portuguesa?

Completamente, esse é o meu próximo passo. O meu pai é um grande músico e ele tem-me dito há imenso tempo: “Diana, tens de fazer música e cantar em português.” Tenho brincado com algumas ideias e tem sido incrível. Também tenho algumas canções com pessoas como a Mayra Andrade e outros nomes. Por isso, definitivamente vou querer entrar pelos aspectos portugueses da minha arte porque nós, portugueses, angolanos ou cabo-verdianos fazemos grande música! Estou entusiasmada por me aproximar da cultura e ver o que podemos criar. 

Poderá haver então um volume inteiro cantado em português? Ou serão apenas algumas pequenas experiências que poderão aparecer pelo caminho?

Tem mesmo que acontecer a sério! Até com a influência do baile funk, da bossa nova, da kizomba, do kuduro. Há tantos géneros tão diferentes com os quais posso brincar. E isso está definitivamente a ser trabalhado.  

Sentes que escrever em português é muito diferente para ti?

É muito diferente. Porque eu penso em português e depois falo em inglês, e outras vezes é ao contrário, então as palavras estão por todo o lado [risos]. Mas vai ser interessante, será uma abordagem muito distinta à escrita e vou definitivamente estar em Portugal para trabalhar com alguns letristas, só para garantir que a essência daquilo que quero comunicar para o público está escrito da maneira mais autêntica. Por isso, estou entusiasmada com esse processo, vai ser muito diferente.

Desta vez vais actuar no B.Leza, um clube importante para a música africana da cidade, que é também um espaço intimista. Gostas mais deste tipo de concertos, que permitem uma maior proximidade com o público?

Eu adoro-os, acho que os concertos mais pequenos são experiências mais pessoais para mim. E na verdade até fico mais nervosa para esses, só porque estamos muito próximos. Nos grandes espectáculos há um certo distanciamento. E em Portugal quero proporcionar essa experiência pessoal, estou muito entusiasmada e acho que vai ser uma vibe

Como disseste há pouco, não gostas do peso que certos marcos na tua carreira podem ter, mas quais é que são as tuas grandes ambições, as coisas que queres mesmo concretizar?

Eu adoraria ter um papel principal no mundo da representação. Acho que teria mesmo sucesso nessa indústria. E continuar a ter digressões esgotadas, isso é mesmo o principal para mim, garantir que nas minhas performances a forma como apresento a minha energia é sempre autêntica… É muito por aí. Tenho algumas coisas a caminho, mas vou manter segredo por agora [risos]. Mas quero manter as coisas simples e só apreciar aquilo que faço. Acho que por vezes ficamos tão presos no futuro, na ideia daquilo que queremos ser, que nos esquecemos de apreciar o momento em que estamos. Por isso, levo um dia de cada vez, e estou a focar-me na minha tour e a querer aperfeiçoar o meu ofício. É para isso que estou a trabalhar.


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