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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/12/2025

Género ancestral que moldou a música popular na África Ocidental recebe reconhecimento internacional.

Highlife de Gana entra para a lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/12/2025

A UNESCO oficializou ontem, dia 10 de Dezembro, durante a 20.ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, em Nova Deli (Índia), a inscrição da música e dança highlife na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. O feito representa um marco histórico para a música popular africana e celebra um estilo que nasceu no final do século XIX e se tornou um dos sons mais influentes da África Ocidental, moldando identidades culturais e inspirando músicos de várias gerações.

O highlife começou a ganhar forma nas zonas costeiras do que hoje é Gana, então conhecida como Costa do Ouro, num contexto de intensas trocas culturais, comércio marítimo e presença colonial europeia. A génese do estilo está na fusão entre ritmos tradicionais africanos, como os instrumentos e padrões rítmicos das comunidades Akan e a música palm-wine, com elementos melódicos e instrumentais ocidentais, incluindo secções de metais, jazz e formação de bandas que se apresentavam em clubes sociais urbanos. Nas décadas seguintes, o género evoluiu e diversificou-se em variantes como o dance band highlife e o guitar band highlife, reflectindo a complexidade e vivacidade das comunidades que o abraçaram.

Entre as figuras que ajudaram a consolidar o highlife como forma musical de primeira grandeza está Charles Kofi Amankwaa Mann, mais conhecido como C. K. Mann, um dos músicos e produtores mais reverenciados na história do género. Nascido em 1936 em Cape Coast, Mann começou a sua carreira musical na década de 1960 e rapidamente se destacou por combinar os ritmos tradicionais dos pescadores da costa ganesa com instrumentos modernos de banda, como guitarras elétricas, baixo e metais, criando uma sonoridade rica e acessível que levou o highlife a públicos mais amplos.

Mann (que faleceu em 2018) explicou, em várias entrevistas e arquivos orais, que a sua abordagem foi preservar o espírito original dos vocais puros de Osode — uma música tradicional interpretada por comunidades de pescadores — mantendo a sua estrutura de chamada e resposta enquanto adicionava novos instrumentos para ampliar o alcance e o impacto do som. “O vocal bruto e puro do ensemble Osode é único e não pode ser igualado por ninguém além dos próprios pescadores”, recordou Mann, indicando ao mesmo tempo que pretendia “fazer com que isso apelasse a um público muito mais vasto” através de uma instrumentação alargada que incluía guitarras e saxofones.

O próprio percurso de C. K. Mann ilustra a evolução do highlife: depois de liderar a banda Ocean Strings e de alcançar notoriedade com o seu single “Edina Benya” em 1969, Mann integrou a recém-formada The Carousel 7, onde acabou por introduzir elementos modernos ao estilo e incentivar a inclusão de talentosos músicos como Paapa Yankson. A sua música atravessou décadas e influenciou não apenas o cenário musical ganês, mas também músicos de outras regiões da África Ocidental, em particular na Nigéria e em comunidades da diáspora.

A dança associada ao highlife é tão vital quanto a música. Integrada em celebrações comunitárias, festivais, eventos sociais e rituais de passagem, ela expressa alegria, identidade e coesão social. A UNESCO destacou, ao anunciar a inscrição, que a música e a dança highlife representam “formas vivas de património cultural imaterial que continuam a ser transmitidas através de gerações”, reforçando o papel essencial destas práticas na vida social das comunidades ganesas e além-fronteiras.

O reconhecimento da UNESCO também coloca o highlife no mesmo patamar de outras tradições musicais que figuram na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade, como o fado e o cante alentejano, ambos de Portugal, e a morna de Cabo Verde — géneros que, embora distintos nas suas culturas de origem, partilham uma profunda ligação à identidade, história e memória colectiva das suas comunidades. A inscrição do highlife celebra não apenas a riqueza sonora deste estilo, mas também o seu papel como veículo de expressão cultural que continua a inspirar artistas e ouvintes em todo o mundo.

O feito traz consigo a promessa de iniciativas reforçadas de salvaguarda, documentação e educação cultural, garantindo que o highlife — com as suas raízes na vida quotidiana, nas festas comunitárias e nas narrativas sociais — continue a ser valorizado como património vivo. Ao juntar-se a outras expressões musicais de grande significado global, o highlife assume o seu lugar merecido no panteão das tradições culturais que enriquecem a tapeçaria sonora da humanidade.


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