No dia 18 de Setembro, o saxofonista finlandês Harri Sjöström e o violoncelista português Guilherme Rodrigues vão dar um workshop de improvisação no O’culto da Ajuda, em Belém, e a ideia principal é “ajudar os músicos a abrirem-se para ouvir e aprender a confiar na sua intuição, particularmente em situações de actuação em grupo”.
Num texto publicado na jazz.pt, Rui Eduardo Paes escreveu sobre The Treasures Are, álbum de 2019 que junta estes dois instrumentistas, e explicou quem são (individualmente e enquanto dupla):
“Há discos assim, e o facto de não haver muitos que assim são valoriza-os ainda mais. Quando dizemos ‘assim’ é porque a música que está lá dentro tem em si mesma – mesmo que não consideremos quem a criou e as histórias que lhe deram realidade – algo que a liberta das leis da gravidade e a torna especial. Não era preciso mais nada para que discos como este se impusessem num circuito, como o da música improvisada, em que as edições se fazem em todo o mundo às centenas, senão milhares. No caso de The Treasures Are há, no entanto, algo de extra a ter em conta, e esse extra está no facto de nele encontrarmos um pioneiro da livre-improvisação europeia, o finlandês Harri Sjöström, há quase quatro décadas radicado em Berlim, a tocar com um dos seus mais jovens valores, o português Guilherme Rodrigues, também ele com casa montada na cidade alemã: é como se nas 20 miniaturas que compõem o álbum, envolvendo nada mais do que um saxofone sopranino (ou soprano, por vezes) e um violoncelo, estivéssemos a assistir a uma passagem de testemunho. Ou melhor: à transmissão de uma herança.
Sjöström foi aluno de Steve Lacy, privou tanto com John Cage, o compositor que demonstrou que o silêncio não existe, que também é música, como com George Russell, o inventor do Lydian Chromatic Concept of Tonal Organization. Este é o mesmo Sjöström que teve durante anos uma colaboração intensa e extensiva com Cecil Taylor, que tocou com luminárias como Bill Dixon, Evan Parker, Derek Bailey e Vinko Globokar e que tem estado sempre presente na nata da chamada improv, em repetidas parcerias com gente como John Russell, Phillip Wachsmann e Lawrence Casserley. Tal figurão da música do instante criada com referências simultâneas nas tradições do jazz e da clássica não teve dúvidas em emparceirar com o miúdo de Lisboa que foi crescendo na música em grupos vários liderados pelo seu pai, o violetista Ernesto Rodrigues: o que ouvimos ambos fazer em conversações espontâneas tão empáticas, apesar de nunca enveredarem por mínimos denominadores comuns, que mais parecem ter sido escritas, chega a ser motivo de espanto. A música dança, eleva-se do chão e fica-lhe uns metros acima, tornada gesto absoluto, escultura móvel, sendo a própria mobilidade que a torna visível. Guilherme Rodrigues fica agora com a responsabilidade de levar para o futuro o legado que Sjöström lhe deu em vida e percebemos nestas peças com toda a clareza que o fará com desvelo…”
30 euros é o preço a pagar por esta aprendizagem (só há 12 vagas!) de quatro horas (das 14h às 18h) com um duo que tem muito para ensinar. Mais informações aqui.