Depois de uma curta temporada de Verão no Rio de Janeiro, o Festival Iminente volta a solo nacional. De quinta-feira a domingo, Vhils e a plataforma Underdogs instalam no Panorâmico de Monsanto uma mostra interdisciplinar — a música é o prato forte num cenário de mudanças e choques. O Rimas e Batidas propõe um roteiro por grupos, aprimorado para a melhor gestão de tempo.
Mais do que a parafernália típica de festival, o Iminente faz-se indissociável da disrupção artística. Não fiquem surpreendidos, então, com a linha de artistas programada para domingo: a electrónica acutilante de Odete (Palco Mezzanine, 17h30), o manifesto sexual de Linn da Quebrada (Palco Cave, 20h30) e a subversão sensível dos Fado Bicha (recentes autores da música da campanha para o partido Livre, “O-SEM-PRECEDENTE”) constituem um esquadrão de forte pendor queer, naquele que é o “dia da família” do evento.
A missão não diverge daquela que Common (Palco Outdoor, 21h30, sexta-feira) nos traz. O lendário artista de Chicago, um Soulquarian de gema, aterra no Panorâmico para apresentar o disco Let Love, e não é a única importação norte-americana do Iminente — há várias; a próxima é de Queens, Nova Iorque. Figura nesse mesmo dia o vulto de Large Professor (Palco Cave, 20h30), rapper e produtor que jogou algumas das suas maiores cartas em Illmatic de Nas, para quem serviu de mentor. No sábado, o dardo calhou perto para seleccionar um produtor de Nova Jérsia, cuja experiência atravessa a música (com Kanye West, Beyoncé, Snoop Dogg…), o cinema e os videojogos: Just Blaze (Palco Outdoor, 00h30). É precedido do colega e críptico Jay Electronica (Palco Cave, 22h30)
O rap continua a estar na proa, em duas modalidades principais. Em crioulo: na quinta-feira, actuam Vado Más Ki Ás (Palco Outdoor, 18h30), Rafa G (Palco Cave, 20h30), Julinho KSD/ Minguito (Palco Cave, 23h30) e Apollo G (Palco Outdoor, 00h40); Mynda’Guevara (Palco Cave, 16h30) e Jair MC (Palco Cave, 21h00) surgem no dia seguinte. Mas também em português é uma presença relevante, confrontando diferentes gerações e estilos: na quinta-feira, Deau (19h00, Palco Cave), Kappa Jota (20h00, Palco Outdoor), Holly Hood (21h40, Palco Outdoor) e Força Suprema (23h15, Palco Outdoor); na sexta-feira, Praso (17h30, Palco Cave); no sábado, Dealema (18h30, Palco Outdoor) e L-Ali e Classe Crua no Palco Outdoor, respectivamente às 20h00 e às 23h00, com um concerto de Papillon pelas 21h30 no Palco Outdoor. Julgando pelo seu primeiro EP, TRKZ (17h30, Palco Cave, domingo) quase se poderia enquadrar neste cenário; o protejo que traz na bagagem, contudo, afasta-o para algo mais terapêutico e suave (perfil a sair nos próximos dias no ReB).
A portugalidade decalca-se na sexta-feira, pelo neo-kitsch de Pedro Mafama (18h30, Palco Outdoor) e David Bruno (19h00, Palco Cave) ou pelo trap’n’b ancorado à guitarra portuguesa de Mike11 (22h00, Palco Cave); a periferia transita para os holofotes do Panorâmico em Shaka Lion (00h40, Palco Outdoor, sexta) imediatamente sucedido de DJ Firmeza (01h00, Palco Cave), enquanto DJ Nigga Fox “defronta” DJ Marfox no dia seguinte à meia-noite. Na sua técnica mais pura, estará também a arte do DJing em mostra: vindo de Porto Alegre, Maddruga é residente do PARK e uma pedra-de-toque no rap brasileiro (sexta-feira, 21:00, Palco Escada); os Beatbombers, como quem diz DJ Ride e Stereossauro reunidos, tocam às 21h00. Cabe a Badsista a última performance do Iminente, no Palco Cave, às 22h00.
A expressão cabo-verdiana também se materializa em actuações de Scúru Fitchádu (22h00, Palco Cave, quinta), Mayra Andrade (23h10, Palco Outdoor, sexta) e os icónicos Bulimundo(19h30, Palco Outdoor, domingo).
Bom filho a casa sempre regressa — mesmo, e especialmente, se a casa for ampla e labiríntica.