Está a chegar o projecto GRIOT 3000, um sexteto inédito que reúne músicos de diferentes latitudes, para uma série de concertos em Portugal.
O grupo acolhe seis nomes da música improvisada e multicultural que extravasa os conceitos mais tradicionais do jazz, colocando assim o género musical nascido em New Orleans num diálogo directo com a sua herança africana, homenageando os griots, cronistas da história do continente africano, através de uma parceria entre instrumentistas que pouco (ou nenhum) contacto prévio tiveram entre si.
O artista de spoken word brasileiro Rodrigo Brandão dá voz ao grupo no qual vão ainda militar Luís Vicente (trompete), Braima Galissá (kora), Carla Santana (electrónica), Dudù Kouate (percussão) e Thiago Leiros Costa (guitarra). A jornada deste colectivo é inspirada pelo lendário disco de Don Cherry, Organic Music Society, e pretende estabelecer pontes entre a África Ocidental, o Nordeste Brasileiro e o Sul Europeu sem quaisquer barreiras ao nível da criatividade sonora.
A digressão de três concertos de GRIOT 3000 começa no Centro Cultural de Belém (Lisboa, dia 15 de Fevereiro), passando depois pelo Salão Brazil (Coimbra, 21 de Fevereiro) e gnration (Braga, 22 de Fevereiro). Durante a estadia que antecede a segunda apresentação ao vivo, o sexteto ficará em residência criativa por Coimbra a magicar aquele que será o seu álbum de estreia, que merecerá o selo da JACC Records numa edição cuja data está ainda por revelar.
Sobre o ADN que dá identidade a este colectivo, Rodrigo Brandão assume a função de porta-voz e tece uma introdução ao projecto:
“É importante assumirmos de uma vez por todas que estamos existindo no período pós-verdade. Se, por exemplo, Alicia Keys erra feio uma nota na transmissão em direto do Superbowl, certamente isso será ‘corrigido’ imediatamente e todas as mídias, no dia seguinte, exibirão a ‘verdade maquiada’, higienizando a história e perpetuando realidades-placebo.
Num momento assim, formas ancestrais de manter vivas e passar adiante as histórias reais de uma família, de um povo, de uma cultura, se tornam essenciais.
A tradição de oralidade é um superpoder muito útil na luta para fazer prevalecer a realidade dos fatos, frente às fake news e ‘narrativas’ de extrema direita empurradas goela abaixo da malta, ainda que em modo David versus Golias.
A real é que o zeitgeist contemporâneo convoca uma manifestação artística como GRIOT 3000.
O fato de termos dois integrantes que descendem de linhagens griot genuínas é fator determinante nesse direcionamento também. Dudù Kouate e Braima Galissá são forças da Natureza…
Quanto a mim, sou instintivamente inclinado a carregar as histórias de entes encantados, gente que amo nesse ou no próximo plano existencial.
Assim, acabo por configurar um ‘griot vira-lata’, sem pedigree, como bem disse o Thiago Leiros Costa, o outro brasileiro desse bonde! Porém, o que falta em tradição, busco equilibrar com emoção e entrega. Visto a camisa dos meus mortos!
Thiago é forte na composição como também na improvisação, como atesta Ubi Sunt, o mais recente LP do seu Onça Combo.
O mesmo pode ser dito sem dúvida alguma acerca da dupla de integrantes portugueses. Tanto Luís Vicente quanto Carla Santana notoriamente tem ambos os campos da prática musical sob seu domínio.
Sem falar que a triangulação de África, Portugal e Brasil do grupo espelha, espontaneamente, muito das dinâmicas de relações humanascaracterísticas da Lisboa de agora.”