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Publicado a: 28/04/2017

Gorillaz: muros no caminho? Derrubo todos, um dia…

Publicado a: 28/04/2017

[TEXTO] Diogo Santos [FOTO] Direitos Reservados

…não haverá fronteiras. Damon Albarn e a bonecada criada pelo comparsa Jamie Hewlett estão de volta com o quinto longa duração – Humanz. Embora não pareça, já que a estreia Gorillaz surge somente em 2001, a banda virtual anda em riscos e rabiscos desde 1998. Ou 1997, uma vez que a “On Your Own” dos Blur é, segundo Albarn, umas das primeiras composições do seu universo virtual. No imaginário, eles são 2-D, Murdoc Niccals, Russel Hobbs e Noodle. Na catalogação, eles são rock, electrónica, trip-hop, hip hop, indie, dub, pop… São, em resumo, o resultado da utilização de métodos de criação e de partilha sem fronteiras.

Dada a parafernália de ideias atiradas para a mesa de desenho, é mesmo difícil balizar o que raio fazem os Gorillaz. Mas é indiscutível que o hip hop lhes está pela coluna vertebral acima. Ora vejamos: no ano 2000, o EP Tomorrow Comes Today vem de mão dada com o single “Clint Eastwood”, malha com um beat viciante onde desponta o produtor de hip-hop Dan the Automator. No longa duração, em 2001, é o rapper americano Del the Funky Homosapien quem recebe os créditos. Neste mesmo ano, os Gorillaz colaboram com os D12, uma malta mais ou menos ilustre de Detroit. Não, o Eminem não participou na construção da “911”, tema com foco nos ataques do 11 de Setembro.

 



Em 2005, Demon Days é ainda menos desenvergonhado no que toca ao usar e abraçar tudo o que anda à volta do hip-hop. A “Kids with guns” acolhe as vozes de Neneh Cherry. “Dirty Harry” desencanta o rapper californiano Bootie Brown, um dos membros fundadores dos The Pharcyde, grupo em que J Dilla também chegou a rodar uns pratos. Claro, há De La Soul em “Feel Good inc.”, talvez umas das faixas dos Gorillaz mais fáceis de colocar nas prateleiras. Não por ser descartável, mas por ser claramente um dos maiores e melhores abraços jamais dados pelo hip hop à cultura pop. Chamem-lhe mainstream, se vos ajudar a perceber que há faixas, discos e artistas que são cruciais para derrubar muros e estabelecer pontes entre coisas. Ah, neste álbum ainda há MF Doom, Roots Manuva ou a brilhante Martina Topley-Bird, uma das vozes principais no disco de estreia de Tricky.

Cinco anos mais tarde, e já não falta tudo para chegarmos ao longa duração mais recente, Plastic Beach surge à boleia de nomes como o insuspeito Snoop Dogg. Ou Kano. Ou Mos Def, que coloca mãos em duas faixas. Ou os De La Soul, claro. Em 2011, é lançado o trabalho menos inspirado dos Gorillaz – The Fall. Ou, para sermos menos injustos, o disco com menos ideias, vozes e mãos externas. Afinal, foi totalmente cozinhado no iPad por Damon Albarn aquando da digressão pelos EUA. Neste, as experiências e os testes sobrevoam quase sempre o infindável universo de sintetizadores e aplicações que se conseguem instalar num tablet.

 



E já estamos em Abril de 2017. Depois de avanços e recuos, aqui está Humanz, o quinto registo de estúdio dos Gorillaz. É, às primeiras audições e ritmicamente falando, o irmão mais festivo do às vezes melancólico Everyday Robots, álbum que Damon Albarn assinou com o próprio nome em 2014. Sim, em Humanz, os Gorillaz voltam a jorrar hip-hop e seus derivados por todo o lado. Meio que arranca com um dos rappers mais surpreendentes dos últimos tempos, Vince Staples. Volta, quase que naturalmente, a ter Posdnuos, Dave e Maseo. Mas não ficamos por aqui: há o rapper de Detroit, Danny Brown. E há Pusha T.

Existe brit-pop, pop, rock, indie, electrónica, hip hop, trip-hop, dub, reggae, afro-beat, música clássica em Humanz, e, à semelhança da maioria dos registos onde surgem as assinaturas dos bonecos 2-D, Murcod, Hobbs e Noodle, não há fronteiras intransponíveis.

Para além das fortes raízes da música negra – vamos chamar-lhe assim para não voltar a enumerar estilos e culturas já supracitados umas duas vezes – o Damon Albarn dos biscates fora dos Blur é um dos melhores diplomatas que há. Ao colo dos Gorillaz, ele é a mistura de um geek, com um zombie inspirado no Keith Richards, com uma reencarnação de rappers mortos no corpo de Questlove, e com uma miúda asiática. No fundo, é o que nos acontece quando levamos muito a sério um Role-Playing Game. Joguem muito. E derrubem esses muros todos, até os virtuais.

 


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