LP / Digital

George Silver

Santo André

Linha Amarela- Produções / 2020

Texto de Vasco Completo

Publicado a: 03/11/2020

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Uma exploração estereofónica apalpa os primeiros terrenos desta localização de Santo André. Há gravações de campo que nos deitam numa praia fluvial qualquer, uma brisa que conforta o piano melancólico e slides de guitarra altamente ecoados que respondem aos sintetizadores.

Falar nesses instrumentos remete-nos para uma relação com o trabalho de design sonoro de Montanhas Azuis ou Sensible Soccers (em particular em “Lagoa” e “Mutismo”, respectivamente), e a algumas explorações mais experimentais que timbricamente lembram trabalhos da Fungo ou até da Holuzam. No entanto, este primeiro álbum do artista barreirense importa, por via dos elementos rítmicos, o experimentalismo electroacústico para uma pista de dança atenta eclecticamente a diferentes tendências da música actual. Ademais, há um folclorismo onírico que é polvilhado nas doses certas para que saibamos situar este Santo André em solo português: “Meninas Vamos ao Vira”, tema tradicional do Minho, sofre um arranjo ao piano (instrumento que várias vezes aparece na sua discografia) e sintetizador, na qual o popular se junta ao electrónico mais etéreo.


https://www.youtube.com/watch?v=ic_0FThmdMI&fbclid=IwAR1414oVV_G4tU8ml8d1kbuVQfZtldho_mbbiJiC-tBHhdoKgvKJNp5lwas

Não só no ritmo figuram influências populares do país, ou nas percussões ou samples que dão uma dimensão bucólica ao disco (“Batucada Low-Cost” ou “Aqua Ruim”), mas também nas melodias contagiantes que, além disso, chegam a apontar para horizontes além-fronteiras –- especialmente trabalhadas, obviamente, na contida e meditativa “Goma Arábica”.

Se a exploração emocional e artística de George Silver em Santo André é introspectiva, a sua produção é em grande parte, e paradoxalmente, expansiva e dinâmica. Seja nos arpejos que progressivamente crescem no campo sonoro de “Aqua Ruim”, nas batidas dançantes, ou nos samples que surgem sem aviso prévio, inesperada e irregularmente. Mas, tal como “Solstício” — que nos espera no final do álbum – nos demonstra, este trabalho é amplo o suficiente para se tornar difícil falar dele em poucas palavras, por ter tanto de extrovertido como de introvertido. Se o mutismo de Silver o impede de se expressar vocalmente quando precisa, Santo André fala por ele. E bem alto.


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