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Publicado a: 04/09/2017

Genes: “Eu faço música independente que serve para um público alternativo ao rap”

Publicado a: 04/09/2017

[FOTO] Inês Sousa Vieira

Nos últimos meses Genes tem andado pela estrada a apresentar o seu álbum de estreia, Pessoas. Daqui para a frente, 5 datas, de Setembro a Dezembro, fazem a sua agenda.

Lisboa, Portalegre, Évora, Barreiro e Braga são as cidades escolhidas para receber Genes, que tem estado a espalhar Pessoas pelo país fora. Os momentos mais altos desta sua caminhada foram o concerto de apresentação no Damas Bar, em Lisboa, e, claro, aquele dia 5 de Julho que o colocou a abrir o concerto de Gizzle, na Galeria Zé dos Bois – foto-reportagem aqui.

 


genes tour


Editado a 5 de Junho pela Cachupa Records, o álbum de estreia de Genes confirma toda a excentricidade que era perceptível nos primeiros lançamentos ou nos visuais que foi divulgando. O artista da Margem Sul tem estado a desenhar um percurso bastante singular em que combina as tendências da música indie com o rap, servindo temas de baixa fidelidade, uma das suas principais características. É desta junção de dois mundos tão distintos que nasce a frescura que a sua música nos transmite, que já recebeu aplausos de gente como B Fachada ou Sequin, artista que teve um papel activo em Pessoas, álbum para que contribuiu com a gravação de “Estrangeiras” e “Notívaga”.

Mean Will é outro dos nomes que se destaca nos créditos do álbum de estreia de Genes. O mestre de cerimónias que dá apoio ao rapper nos seus concertos ficou encarregue da gravação das restantes faixas, bem como de toda a mistura de Pessoas. No plano das batidas, o próprio Luís D’Alva Teixeira (nome verdadeiro de Genes) assina 4 instrumentais, contando ainda com Rlv, Filipe Acates e Rabu Mazda na produção.

O Rimas e Batidas esteve à conversa com o artista, que dá a conhecer Pessoas pelas suas próprias palavras. Durante a troca de impressões, houve ainda tempo para falar do concerto que o colocou ao lado de Gizzle, bem como das próximas apresentações que arrancam já durante este mês:

 



Quem são estas Pessoas que descreves no teu álbum?

Para este disco escrevi uma lista de seres humanos que se cruzaram comigo ao longo da vida. Separei as pessoas que gosto e as pessoas que gosto menos. Não odeio ninguém mas há pessoas que insistem em libertar gases negativos para o meu sistema, essas tiveram o que mereceram, dediquei-lhes versos e canções menos bonitas. Para as pessoas de que gosto mesmo decidi escrever canções pessoais e vulneráveis. A “June Nash” por exemplo, acho que foi das primeiras pessoas a saber sobre o tumor (benigno mas incomodativo e susceptível) que tenho na garganta, tudo o que escrevi na canção podia ser facilmente uma conversa entre nós….

Trabalhaste com muitos artistas para arquitectar o teu álbum de estreia. Como foi essa experiência?

Em termos de gravação, foi muito fixe ter conhecido a Sequin, uma lenda da cultura indie. Cresci a ouvi-la na rádio e para a Ana ter esta facilidade em envolver-se e pouco se esforçar para desenvolver uma amizade comigo foi incrível, gostava mesmo de ter gravado o disco inteiro na casa dela… Em termos de produção, ainda sinto que posso melhorar ao nível da atmosfera, mesmo que tenha recebido beats muito bons, nomeadamente o do Rabu Mazda (Bindilatti), talvez produza na totalidade o próximo disco, talvez apareça artilharia nova, vamos ver…

Fala-nos do lado feminino com que te apresentas em Pessoas.

Não é forçado. Eu vivo mesmo rodeado de mulheres que foram influenciando as minhas feições e personalidade. Esse lado sensível pode aparecer pouco no disco mas no dia-a-dia esse lado transparece muito no meu diálogo, postura e abordagem para com as pessoas. Não era mesmo capaz de fazer mal a uma mosca e tento ser o mais solidário possível com toda a gente que estiver disposto a dialogar correctamente comigo. Embora tenha calhado bem em termos de caracterização, estética e discurso de disco, esse lado feminino poderá influenciar trabalhos futuros, não é só algo efémero…

Já levas várias edições no teu Bandcamp, entre projectos mais dilatados e singles. Que balanço fazes desta, ainda curta, experiência no hip hop nacional?

Eu não me sinto de todo parte do “hip hop nacional” ou “rap tuga” ou “rap”. Eu faço música independente que serve para um público alternativo ao rap, um público mais alienado e menos chunga. O “rat rap”, o desígnio que inventei não passa disso mesmo, alguém sem qualquer influência de rap a fazê-lo! É um sub-género alternativo ao rap.

O “rato” também simboliza muito o mantra da minha música, não é só um mamífero que uso nos cartazes: vamos olhar para um rato, à partida vemos um animal rápido, esperto, astuto… Mas quando te referes a alguém como um “rato” estás a pensar nela como? Como um ser desprezível, nojento… Conclusão: embora seja confiante, destemido, a música que faço não passa de um rato sujo, mal gravado, de baixa fidelidade e feito para o underground. Talvez pelas minhas influências da música de garagem, sempre gostei muito daquelas cassetes cheias de ruído e gravados numa 4 Play – Dum Dum Girls, Cloud Nothings, No Joy… E isto são só alguns nomes da cena indie contemporânea, se falar de século XX não saímos daqui (risos).

Abriste para Gizzle na Galeria Zé dos Bpis. Como foi partilhar o palco com uma artista tão singular? Achas que faziam uma boa dupla?

Acho que é uma artista incrível, ficámos buddies no Twitter (risos). Aliás quando toquei com a Tommy Genesis ficámos logo buddies no Twitter, essa cena que eu tenho de ser 100% para toda a gente não é só para malta que conheço, eu preciso que toda a gente seja assim comigo mas isso não tem acontecido… Acho que a Gizzle faria melhor dupla com o meu mano Mean Will, ficaram amigos no Instagram, por isso façam uma ganza juntos, acho que ia ficar uma track incrivel.

Agora não tens a Gizzle, mas vais certamente continuar a apresentar-te em grande nível, mesmo a solo.

Os concertos eram para ser ao lado do Lourenço Crespo, mas infelizmente foram cancelados. Vou continuar a tour do disco a solo, os gigs têm sido loucos, tenho recebido muito apoio, crowdsurf e mosh. Shot-out para a Cafetra e para o B Fachada por terem rockado comigo no Barreiro, mais real que isto acho que não existe! Próximo concerto é em Lisboa no Estrela, e depois em finais de Setembro em Portalegre no CAE.

Fala-nos um pouco destes concertos. O que vamos poder esperar das tuas actuações?

Aquilo que aprendi com o meu primo (Alex D’Alva Teixeira) foi a não submeter-me ao público, se estou ali em cima do palco é por alguma razão. Eu sinto mesmo aquilo que escrevo, por isso preciso de tocar cada verso com a máxima convicção, entrar em palco com energia, puxar pelo público e quebrar logo qualquer barreira que possa existir entre artista e audiência. No fundo fazer o que tenho feito, dar vida às canções (risos). Hey, shotout para o Damas Bar, essas miúdas andam mesmo a ser bosses da cidade, niggas mesmo andam a prestar respeito a essas miúdas.

 


https://www.youtube.com/watch?v=ZvEr286y6AI

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