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Fotografia: Tomás Cerveira
Publicado a: 03/10/2025

Outros Dias, um disco essencialmente escuro, é agora desvendado.

GANA: “Trabalhar em banda é um acto de resistência em relação à forma como se produz música hoje”

Fotografia: Tomás Cerveira
Publicado a: 03/10/2025

Seis meses depois de os entrevistarmos quando se apresentavam em Lisboa, já a antecipar o primeiro longa-duração após dois EPs e uma série de singles soltos, eis que nos voltamos a reencontrar com os GANA no momento em que chega, finalmente, esse álbum: Outros Dias já pode ser escutado nas plataformas de streaming e tem disponível, em pré-venda, uma edição em vinil e outra em CD.

Ao todo, são 14 faixas de uma “linguagem própria”, amadurecida e trabalhada ao longo de praticamente três anos, onde a banda cruza a poesia e a acutilância do rap com a energia do rock, as progressões do psicadelismo e os grooves do funk, entre outras texturas e camadas sonoras que vão dando forma a um corpo musical diverso.

Os GANA — compostos por Raffa (voz e letras), Zandré Ramos (piano, sintetizadores e segundas vozes), Sandro Dosha Oliveira (bateria) e Freddy C (baixo) — contaram com participações de A garota não, Maze, NBC e Andrea Verdugo para este disco e estão desejosos de o apresentar ao vivo numa digressão pelo país.

Estão marcados concertos na DRAC, na Figueira da Foz (11 de Outubro); no Ferro Bar, no Porto (25 de Outubro); na AMAL, na Lourinhã (22 de Novembro); na Blackbox CAAA, em Guimarães (30 de Novembro); na Blackbox G.C., em Corroios (7 de Dezembro); e na She, em Évora (13 de Dezembro). Outras performances seguir-se-ão no início de 2026. Por agora, os GANA apresentam e reflectem sobre o disco em entrevista ao Rimas e Batidas.



Na entrevista que fizemos há uns meses, acabámos por falar um pouco sobre o disco, mas agora podemos ser mais concretos acerca do álbum como um todo. Na altura disseram-me que muitas das canções nasceram de experimentações vossas em estúdio, dos instrumentos a criar bases que depois enviavam para o Raffa que, à distância, escrevia as suas letras. E depois aconteciam, certamente, uma série de processos de pós-produção. Mas a vossa abordagem inicial em estúdio, para criar as tais bases, já tinha intenções bastante específicas? Ou estavam mesmo a experimentar e a ver o que saía dali, para depois perceberem se aquilo dizia algo ao Raffa?

[Zandré Ramos] Bem, eu acho que se havia alguém que tinha uma ideia muito, muito concreta sobre aquilo que queria que fosse este álbum era o Rafael. As nossas experimentações sempre foram muito desprendidas e libertas de padrões ou de obrigações, nunca tivemos de fazer um determinado estilo de música ou ir num determinado caminho. Portanto, aproveitávamos as ideias todas que tínhamos com o mesmo abrir de braços. A maioria esmagadora delas foram trabalhadas em sala de ensaios inicialmente por mim, pelo Freddy e pelo Dosha, sendo que há algumas músicas neste álbum que ainda foram trabalhadas e nasceram do conjunto antes da ida do Raffa para Coimbra. Por exemplo, a base da “Dança do Desencontro” foi construída ainda no formato de sala de ensaios com os quatro. Depois, houve outras músicas que nasceram de ideias que cada um de nós teve fora, que depois levámos para a sala de ensaios e oferecemos essa ideia ao colectivo, só para depois vermos essa ideia ser transformada numa coisa completamente diferente. Mas confesso que nunca nos preocupámos muito em compor num determinado sentido ou com um determinado intuito, a não ser quando o Raffa nos pedia. Mas, do que me lembro dessas situações, quase nenhuma foi para a frente. 

Ou seja, Rafael, as canções que ouvimos no alinhamento final são muito as tais bases que eles criaram em estúdio na Arruda dos Vinhos, contigo em Coimbra, e que depois tu, inspirado, escreveste letras e levaste a coisa para o teu imaginário e construíste todas essas camadas simbólicas e conceptuais em que as canções se tornaram.

[Raffa] Sim. É interessante porque todas as ideias que tive para as canções partiram das composições que eles apresentaram. Obviamente, nunca eram composições finais. A maior parte das músicas surgiram de trechos muito pequenos, de samples, de coisas com poucos segundos em que eram inicialmente trabalhadas entre eles e depois, quando eu chegava, bebia da atmosfera dessa construção. A partir daí é que eu começava a escrever a letra e começávamos num trabalho de adaptação em relação àquilo que era a minha forma de interpretar e a como eles depois reagiam à construção do instrumental com base naquilo que eu interpretava. Mas, na verdade, sinto que o álbum tem um fio condutor, sinto que se ouve como um álbum, não é um conjunto de singles. Quando se ouve o álbum como um todo, apesar de existirem muitas diferenças de música para música, percebe-se que existe um fio condutor que tem que ver com uma determinada atmosfera. Isso não foi assim tão pensado. É óbvio que, sendo eu que escrevo as letras, eventualmente as canções acabam por ganhar significados que correspondem a uma determinada atmosfera ou maneira de como eu estava a ver o mundo durante o período de composição. Mas na verdade isso também era muito influenciado pelo tipo de malhas que eles iam construindo. Também apresentaram, muitas vezes, propostas mais escuras. Há raios de luz e de esperança, mas é um álbum que tem uma atmosfera essencialmente escura. E teve a ver com a abordagem aos teclados que o Zandré fez, com alguns beats que o Dosha propôs, a forma como o Freddy até reinventou o baixo em algumas canções, com uma abordagem distorcida. E foi por aí que foi feita essa construção. 

[Sandro Dosha Oliveira] Se não foi a totalidade, o processo deu-se muito de composição em conjunto. Houve algumas coisas soltas que foram criadas por alguém, mas depois aquilo transforma-se numa coisa maior do que só uma das partes. Em relação aos beats, o que eu tentava fazer era uma abordagem não muito de baterista só, mas de desconstruir o que é o conceito de um beat ou de um ritmo. Deixar espaço para o resto também. Deixar a voz liderar e definir um pouco a luminosidade da música, por assim dizer. Não digo que fosse sair do caminho, mas deixar espaço para isso tudo. Mas, se for ouvido com atenção, tem lá algumas coisas interessantes. Aliás, acho que em tudo, quer nas teclas, quer no baixo, quer na bateria, tem lá uns easter eggs

[ZR] Deixa-me só acrescentar que o Sandro é genial a fazer aquilo que faz, que é realmente conseguir criar, ocupar o espaço que é ocupável, e deixar o resto para a música respirar. Ele fez um trabalho absolutamente fenomenal. Em virtude de o Sandro estar bastante ocupado, temos tido a necessidade de trazer outros bateristas para tocar connosco ao vivo. E a verdade é que todos eles diziam o mesmo, que isto à partida parece que é um trabalho relativamente simples, mas depois tem ali um trabalho mais complicado pela frente, porque ele conseguiu fazer com que o complexo soasse muito, muito simples. E isso é muito gratificante. 

É uma arte, claro. E como alguns de vocês já disseram, o álbum acaba por ter uma coesão, mas também integra estéticas diferentes em várias faixas. Esse lado já acabou por ser mais intencional, à medida que iam fazendo o processo do disco? Ou foram mesmo os caminhos pelos quais as vossas experimentações, sem pensar muito, vos levaram? 

[Freddy C] Sim, houve vários momentos de construção e queríamos, obviamente, fazer um álbum e ter aqui uma estrutura. Nesse sentido, as músicas tiveram que ir aparecendo. Nós fomos sempre atrás das ideias que nos iam surgindo nos ensaios. Obviamente que gravámos horas e horas de áudio para depois ir analisar aqueles ensaios e perceber: “Ok, isto pode funcionar, esta malha vai resultar aqui, esta não serve para nada.” Estávamos só a divagar na maionese, não é? Portanto, houve um trabalho inicial de… vamos escrever muita coisa, vamos gravar muita coisa, vamos tocar aquilo que nos apetecer para depois mais tarde, com alguma distância, poder ir construindo aquilo que é o som que a gente queria tirar, o som que queríamos para este álbum. 

Rafael, obviamente este é um projecto com grande foco na palavra, na poesia, na escrita, mas para este álbum também exploraste mais a forma, a maneira como usaste a tua voz. Foi aquilo que as canções pediam ou já era uma vontade tua? 

[R] Houve um esforço muito grande de todos os elementos da banda para procurarmos zonas e criarmos música que não fosse o que faríamos habitualmente. Ou seja, aquela ideia de sair da zona de conforto, de não aceitarmos aquilo que seria natural e imediato à primeira. Isso aconteceu com todos os elementos da banda. Sinto que, neste álbum de GANA, encontrámos uma linguagem que já me parece muito nossa, de banda, muito difícil de se conseguir, que tem a ver com o tempo em que estamos a trabalhar juntos. O som de GANA não é o som do Raffa, não é o som do Zandré, não é o som do Freddy nem o do Dosha. Se todos nós fizéssemos um projecto a solo, duvido que algum soasse ao que a banda soa. Isso tem a ver com uma vida própria que isto ganha. E não há nada que me faça mais feliz do que chegar ao fim, ouvir o álbum e perceber isso. Tem muito a ver com a forma orgânica em que fomos trabalhando, adaptando-nos a cada um e conhecendo o espaço de cada um nas músicas. E depois percebíamos o que é que elas pediam. E foi isso que também senti na abordagem de voz. Eu geralmente não experimentava muito fazer linhas melódicas, até porque não sou um gajo muito afinado por natureza, mas senti que existiam momentos criados pelos instrumentais, pela dinâmica da banda, em que se eu tentasse fazer uma abordagem melódica, a frase que eu tinha escrito também iria ter mais impacto no ouvinte do que se estivesse a fazer um rap mais técnico e malabarista. E, da mesma forma como o Dosha falava que tentou deixar espaço para as outras coisas, apesar de eu sentir que ocupo muito espaço, porque a voz está sempre muito presente, tentei também retirar-me em alguns momentos para que a voz pudesse navegar na atmosfera. E isso faz com que exista esta linguagem comum que é GANA.



E houve versos que eram para ser mais rappados ou cantados e que, de repente, por exemplo, ficaram num registo de spoken-word? Houve esse tipo de trocas e experimentações?

[R] Sim, aconteceu. Há uma música que é a “Demónios”, lembro-me que cortei meio verso de rap para pôr uma cena cantada. Até já tinha gravado, mas depois pensei: “Pá, já não estou aqui a dizer nada”. Decidi retirá-lo e coloquei só uma coisa entoada, quase como uma bridge, mas deixou a música respirar e deixou-se sentir o groove todo da banda, que se calhar eu estava a matar com essa abordagem de rap mais clássico. Portanto, sim, teve que ver com uma leitura e existiram muitas músicas em que eu deitei letras fora, já com tudo gravado. E às vezes virava-me para o pessoal e dizia: “Não, vai-se gravar outra vez, que isso que eu fiz não está”. 

Ou seja, há canções no disco que não têm as letras originais que escreveste para elas?

[R] Sim, sei lá, por exemplo, a música com A garota não, a “Cartas ao Vento”, acho que escrevi umas três letras para essa música. 

[ZR] A primeira nós chumbámos, não sei se te lembras [risos]. Foi, para aí, a única letra que chumbámos com unanimidade, em cinco anos ou seis anos de banda. E o Raffa arranjou outra coisa. E eu até achava piada àquilo que tinhas arranjado na altura. Mas depois o caminho mudou e ainda bem, porque foi para melhor. 

Foi um equilíbrio delicado e difícil conjugar a palavra, que tem muita força neste álbum, com a música, com a sonoridade, com o som?

[SDO] Olha, em termos de beat, de bateria, pouco mudou. Acrescentou-se uma porçãozinha ou outra. Quando as coisas pareciam que estavam encaminhadas, acabou por não ficar nada fechado, definitivo, pelo menos a parte instrumental. E à medida que as letras iam evoluindo, iam-se acrescentando ou retirando elementos. Ou seja, no fundo, acabou por se traduzir em mudanças bastante grandes. Principalmente nas últimas coisas a serem gravadas, quer fossem guitarras, teclas ou arranjos de cordas. E isso foi ditado pela letra, ou pela intenção com que o Raffa estava a dizer as palavras. 

[ZR] Isso aconteceu em “n” temas. Aconteceu no “Vida de Putaria”, no “Dança do Desencontro”. Lembro-me perfeitamente de o Raffa ter gravado o “Dança do Desencontro” e nós, no ensaio seguinte, já de pré-produção, sentámo-nos e reconstruímos o acompanhamento. Foi aí que nasceu aquela malha com efeitos, com tudo. Criámos, metemos filtros na bateria, cortámos. Ou seja, íamos criando moods à volta daquilo que ele gravava. E isso aconteceu noutros temas, como o “Flautista Pt. 2”. Ele já tinha colocado voz, mas precisava ali de umas nuances e nós criámos uma fritaria do caraças. É a definição de fritaria, aquilo é hip hop sinfónico. 

[R] Isto que o Zandré está a dizer de hip hop sinfónico, ganha significado porque tem que ver com o que já tínhamos falado na outra entrevista, que é o facto de nos juntarmos os quatro sem partirmos de uma ideia pré-concebida e que vamos fazer algo num determinado género. Nós não partimos daí. Então, o facto de haver alguém que gosta mais de progressão de acordes, alguém que é mais rítmico, alguém que gosta de trabalhar a palavra… Vai tudo para o mesmo pote. E agora, como é que se encontra o espaço de cada um? E, como as pessoas podem perceber, isto foi um trabalho muito demorado. Porque é muito complexo chegar aqui a uma forma em que juntas todas estas influências e em que a canção continua a ser inteligível. E eu acho que nós conseguimos isso, que as canções continuem a ser inteligíveis. Mas estão lá todas estas influências, da progressão de acordes, das letras, do hip hop, do rock, da cena mais agressiva, as abordagens de bateria em que há ali um break que é claramente rock mas depois ele nunca finaliza e não cai num espaço de chavão desse género… E quem diz isto, diz todos os outros elementos. Então é um trabalho quase de artesanato. E, ao mesmo tempo, acho que isto também só é possível porque a banda está num certo nível de maturidade. Por isso é que é tão complexo, hoje em dia, existirem projectos de bandas em que todos compõem. E isso é mesmo um grande acto de resistência, que vai contra a maré, em relação à maneira como se produz música hoje em dia. Porque é uma trabalhada dos diabos. Mas quando percebes que a tua banda ganha uma linguagem própria, é muito satisfatório. 

Já abordámos a forma, mas em relação ao conteúdo das letras, este é um disco escuro e sombrio, como o descreveste, mas que tanto vai para um espectro mais introspectivo como cantas sobre assuntos do mundo. Mais uma vez, suponho que tenha sido aquilo por onde a música naturalmente te tenha levado. 

[R] Sim, teve que ver com essa equação, da atmosfera que foi criada pelos meus colegas de banda, e, conforme o sentimento que o instrumental me passava, eu colocava esses óculos em cima dos óculos com que vejo o mundo e começava a construir as letras a partir daí. A verdade é que a maneira como escrevo está muito relacionada com a maneira como me sinto naquele momento. E se calhar o álbum também ganhou essa dinâmica escura porque estava numa altura em que tinha mudado de cidade, estava a entrar no Inverno, e ao mesmo tempo acho que o mundo também está com uma certa atmosfera escura. Nalguns temas, existe uma coisa mais sentimental virada para dentro, relacionada com perda. Acho que o álbum fala de morte, muitas das vezes, ao longo das canções. Apesar de falar de morte de formas diferentes. Acho que isso teve a ver com… Alguma coisa dentro de mim morreu naquele período em que eu estava a escrever. E teve que ver, provavelmente, com as transformações que tive na minha vida. A nível profissional, a nível da cidade em que fui viver, mas por outro lado existe um renascimento, do encontro de uma linguagem nova. E depois também existe uma crítica social, que tem que ver com o sítio onde vivo, com aquilo que eu via. Fala muito de uma dinâmica contemporânea política e social. Que tem que ver com uma espécie de encantador. A “Ratos”, que depois se funde com a “Flautista”, fala na ideia de um encantador. E parece que encontramos soluções rápidas para problemas complexos. E tentei agarrar nessa ideia e fazer uma crítica social quase por intermédio de um spoken-word, que é um storytelling. Sem tentar ser muito óbvio, mas percebe-se sobre o que é que estamos a falar. 

Na outra entrevista abordámos como é que o Maze e a Andreia Verdugo chegaram ao disco. E no caso d’A garota não e do NBC, os outros convidados?

[ZR] Acho que as participações foram discutidas e obviamente concertadas entre todos. Mas acho que eram malta com quem tu tinhas contactado algures no tempo, Raffa, e que aproveitaste para trazer. 

[R] Sim, A garota não por acaso aconteceu numa situação muito engraçada. Porque as duas participações que ela faz nos nossos temas — no tema em que está o Maze, em que ela coloca umas vozes no refrão, e depois no “Cartas ao Vento”, composto por ela e por nós — aconteceram sempre por acaso. Nós temos uma relação de amizade e, durante o processo de composição do disco, íamos trocando algumas ideias sobre o que estava a ser feito. Às vezes ela mostrava-me coisas do Ferry Gold, e eu mostrava-lhe algumas coisas de GANA. Também sempre fui partilhando para pedir a opinião dela, porque confio muito no sentido estético dela e na sua capacidade de produção. Mas não iria pedir para fazer nenhuma participação, porque não queria aproveitar o facto de sermos amigos e de ela estar num momento muito positivo da carreira dela, para não parecer que nos estávamos a aproveitar dessa situação. E na verdade tínhamos outra participação para a “Cartas ao Vento”, uma outra vocalista. Mas entretanto a vida dela levou-a para outro sítio, ela teve que sair do país, e por acaso estava a falar por mensagens com a Cátia sobre isso, que essa outra artista não poderia fazer o tema. E ela pediu-me: “Mas manda-me o tema para eu ouvir”. E surgiu assim. Ela ouviu e disse: “Eu participo nesse tema”.

E no caso do NBC, ainda por cima num registo mais rappado do que temos ouvido dele nos últimos anos?

[R] O NBC é um rapper e um músico que é referência na zona Oeste. E nós, como somos de Arruda dos Vinhos e quando estávamos a pensar a hipótese de participações, pensámos, por um lado, em pessoas que fossem sempre acrescentar aos temas, mas que, por outro, de alguma forma tivessem algum significado para nós. E deixa-nos felizes poder contar com um pioneiro do rap no Oeste. E foi muito fixe o NBC poder rimar porque, nos últimos tempos, as participações dele têm sido mais a cantar e foi fixe desafiá-lo para pôr uma rima naquele tema. 

Vocês já me tinham dito na outra conversa que são muito uma banda de palco. Agora também estão, certamente, desejosos de fazer esta tour, das datas que já anunciaram por vários sítios do país, de apresentar o disco por aí. Suponho que já tenham tocado várias destas canções nos concertos que fizeram há uns meses, mas agora com o álbum cá fora é diferente. Estão desejosos de fazer esse circuito e era importante que ele circulasse por várias cidades?

[FC] É onde nos sentimos melhor, é estarmos a tocar uns com os outros em cima do palco. Parece que todo o trabalho que tivemos, ou toda a dificuldade que houve na construção de tudo isto, desaparece naquele momento em que começamos. Portanto, é obviamente um dos spots onde nós mais gostamos de nos apresentar. E ir apresentar o trabalho que fizemos já com a possibilidade de as pessoas conhecerem alguma coisa, vai ser especial. Portanto, temos aí seis datas até ao final do ano e já estamos a começar a alinhar algumas coisas para o início do próximo.

[R] E acrescento que vai ser bom porque vamos partilhar palco com alguns amigos e com outros projectos. Também posso adiantar que vai acontecer aqui uma coincidência bem interessante. O TNT dos M.A.C. vai lançar álbum este ano, também em Outubro, e vai tocar connosco no concerto dele em Corroios, na Margem Sul, zona que ele domina. E em Guimarães também vai tocar connosco. E no Porto tocamos com o Riça, no Ferro Bar. E isso também é um percurso fixe, de pessoas com as quais nos identificamos pelos projectos que estão a fazer. Acho que vamos criar aqui bons concertos. E acima de tudo é sentir ao longo do processo da criação deste álbum que nós somos pessoas de tocar ao vivo. Porque demorámos quase três anos a completar o processo de criação, mas acho que no segundo mês já toda a gente queria pôr tudo cá fora. Isto foi sempre estar a segurar, estar a segurar. Porque queria tudo ir tocar e fazer logo acontecer. 

E agora chegou a hora de não segurar. Imagino que no vosso caso, e não é o caso de todos os projectos, a experiência de vos ver ao vivo é um cartão de visita que pode valer a pena para um público que não vos conhece ou que não ouviu o álbum ainda. Acho que também tem esse apelo de vocês conseguirem conquistar alguém pela experiência de concerto, não é? Também existe essa dimensão no vosso projecto. 

[ZR] Sim, sem dúvida, pelo menos o que sentimos sempre é que conseguimos até quase que impressionar mais ao vivo do que quando alguém ouve aquilo que gravámos. Julgo que também conseguimos aproximar um bocado… Essa foi uma das procuras também neste álbum, que conseguíssemos soar em disco de uma forma mais próxima à qual soamos ao vivo do ponto de vista da energia, da dinâmica e até do poder do som propriamente dito. Mas acho que, de quase todas as experiências que tivemos, quem possa não ter ficado muito impressionado ao ouvir-nos em plataformas de streaming, normalmente quando nos vê ao vivo fica fã e partilha isso connosco. Acho que é sempre interessante ser-se diferente ao vivo e se pudermos ser diferentes até, quem sabe, um bocadinho para melhor, não tem mal nenhum. 

[R] Acho que tem a ver com a dinâmica de sermos uma banda e de haver esta construção a partir dos instrumentos base… O facto de haver uma dinâmica de banda que está habituada a tocar, a ensaiar em estúdio, é diferente de projectos que nascem apenas na construção de estúdio e não tanto na sala de ensaio. Portanto, trazemos essa força de um projecto que tem essa parte orgânica.

E antevêem um 2026 também focado no maior número de concertos possível? É o plano para GANA?

[R] Estamos muito empenhados em mostrar este trabalho ao maior número de pessoas possível. O álbum vai ser editado em vinil e CD, que vai estar disponível muito em breve. E a nossa missão de colocar a máquina a rodar é exactamente convidar as pessoas a ouvir este trabalho, a perceber que as músicas têm mais para dizer à segunda, à terceira ou à quarta audição e que eventualmente ao ouvirem o trabalho todo desde a primeira à última faixa, com os interlúdios e com as várias abordagens que o álbum tem… É mesmo um convite para uma viagem e de facto há aqui um trabalho que, sem uma intenção inicial de ser conceptual, houve uma intenção de ser um trabalho coeso e não um conjunto de singles. E queremos levar as pessoas connosco nesta viagem.


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