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Publicado a: 29/11/2016

Gallant: “Inspiro-me nos artistas que não se deixam rotular”

Publicado a: 29/11/2016

[ENTREVISTA/TEXTO] Ricardo Farinha [FOTO] Sara Coelho

O último ano foi o melhor da vida de Christopher Gallant, cantor de 24 anos nascido em Washington D.C., nos EUA. Tinha apenas três anos quando D’Angelo se estreou com Brown Sugar. Desde cedo que se interessou por música e pela escrita, cantou em coros e, mais tarde, dedicou-se a estudar música na universidade, em Nova Iorque. Em 2013, em busca de uma carreira no meio, mudou-se para Los Angeles, onde editou o EP de estreia, Zebra, já no ano seguinte.

O sucesso (ines)esperado chegou com “Weight In Gold”, o magnífico single do primeiro álbum. O tema tornou-o popular o suficiente para que Zane Lowe o descobrisse e passasse a faixa no seu programa na Beats1, rádio da Apple, ou para ser chamado para fazer os concertos de abertura de uma digressão pelos EUA de Sufjan Stevens. O incrível falsete de Gallant percorreu os Estados Unidos da América e tornou-o oficialmente um artista em ascensão vertiginosa. Este ano foi editado o álbum, Ology, que recebeu elogios vindos de todo o lado, da Pitchfork a Elton John, da Billboard a Jimmy Fallon. “Se é isto que é o futuro do R&B, parece mais brilhante do que nunca”, leu-se no The Guardian.

Gallant é uma das maiores promessas da música internacional, mas também já é uma certeza. Mesmo que não saibamos até onde pode ir parar. Só pode negar quem não (ou)viu ao vivo o seu talento — e nós fomos brindados com um concerto arrepiante do músico no Vodafone Mexefest, no Coliseu dos Recreios. Escreve, canta incrivelmente bem, e é um óptimo performer em palco.

Antes de assistir ao concerto, o Rimas e Batidas falou com Gallant, que nos contou sobre o seu percurso e todo o sucesso que tem tido no último ano. Também nos surpreendeu com o seu tom de voz grave a falar — os restantes descobririam horas mais tarde, no concerto.

 



Sabemos que é a tua primeira vez em Portugal. Já tiveste oportunidade para conhecer alguma coisa de Lisboa?

Sim, ontem à noite [sexta-feira, 25 de Novembro], fui àquele sítio onde o chão é cor-de-rosa [no Cais do Sodré] e estive lá durante horas. Comi montes de ostras, que estavam deliciosas, bebi vinho, foi óptimo. Diverti-me muito.

Mergulhando no teu passado, quando é que soubeste que ias fazer música da tua vida?

Acho que nunca fiz aquela decisão: ‘bem, isto vai ser uma carreira’, mas quando tinha — penso eu — treze anos, escrever palavras e juntar melodias era uma coisa natural que usava para tirar tudo o resto da minha cabeça. Eu era um miúdo muito tímido, não falava muito. Por isso [fazer música e escrever letras] era o equivalente a escrever um diário. Nessa altura, nem imaginava que a música iria ser muito terapêutica para mim, ajudar-me a superar problemas e a crescer como pessoa.

Fala-nos do teu processo criativo. Tens alguma fórmula habitual, ou é algo muito espontâneo?

É muito aleatório. Acho que a parte comum é que gosto de estar sozinho. Faço todas as letras e não tento pensar no que a canção vai ser ou como é que vai soar… apenas tento fazer aquilo que é natural. Não estou de forma metódica a tentar juntar várias coisas.

A maior parte da produção do teu disco, Ology, é da autoria de Stint. De onde veio a vossa ligação?

Ele é de Vancouver [Canadá]. E estava em LA a passar algum tempo. Fomos apresentados e nesse primeiro dia fizemos uma canção que foi parar ao álbum. Tornámo-nos melhores amigos. Acabámos por ir juntos à Comic Con, perdi o meu telemóvel, foi uma maluquice… mas somos mesmo bons amigos. E isso levou a um nível de disponibilidade e confiança para poder elevar o meu nível lírico. Conhecemo-nos mesmo por acaso, e ele é extremamente talentoso no que faz.

 



Tiveste um ano incrível, com um enorme crescimento e projecção. Alguma vez paraste para pensar e te perguntaste se não estarias a ir rápido demais?

Ah, não. Acho que é mesmo o nível certo. É como se estivesses a andar na auto-estrada, mas não estás a ir demasiado rápido, nem a ser parado pela polícia, sinto-o como se fosse natural e orgânico. E tudo o que aconteceu neste ano, no total das coisas que fiz, sinto que está exactamente no ponto em que devia estar. Odiava se, de repente, fizesse algo que fosse mesmo gigantesco. Mesmo com as coisas incríveis que pude fazer, sinto como se estivessem bem dentro do meu alcance.

Além de todo o sucesso que tiveste com o álbum, colaboraste com Elton John, Seal ou Sufjan Stevens, que já conhecias da digressão. Como chegaste a trabalhar com estas figuras?

Com o Sufjan Stevens foi óptimo porque foi na minha primeira tour. Eu era um grande fã dele e conhecer o público que ele tinha todas as noites e falar com ele inspirou-me imenso. E depois continuámos essa relação. Com o Seal, tive a oportunidade de o conhecer porque falava muito dele, ‘ele é único, ele é, antes de mais, um indivíduo’, e depois aconteceu que ele ouviu “Weight In Gold”, que é uma canção do meu álbum [bem sabemos, Gallant], e ele estava aberto a colaborar de alguma maneira. Acabámos por fazer uma versão em vídeo daquela canção, com ele a cantar uma parte e eu outra. Desde aí, actuámos juntos em Coachella, ele foi ao meu concerto em LA cantar “Kiss From a Rose”, e há umas semanas encontrámo-nos em Nova Iorque…. tem sido surreal para mim ter qualquer tipo de relação com ele. Com o Elton John, ele tocou “Weight In Gold” no seu programa de rádio [também na Beats1]. E quando ouvi o programa… no início, pensei que seria apenas uma questão de programação, mas ele disse coisas mesmo simpáticas. Por isso fiz tudo o que consegui para entrar em contacto com ele para lhe agradecer, e depois ele convidou-me para ir a [Las] Vegas ver um concerto dele, onde pude conhecê-lo. Um pouco mais tarde, falou-me da cena do Apple Music Festival, uma espécie de versão ao vivo do programa de rádio dele, que ele queria fazer comigo e mais alguns artistas. Por isso não conseguia passar essa oportunidade. Estou muito honrado por ter tido essas experiências. E tê-las todas fez este ano ser mesmo, mesmo, muito bom.

Para além deles, que influências dirias que tens na tua música?

Sinceramente, é em todo o lado. Quando estava a crescer, ia à Internet e sacava tudo. Por isso houve tantos artistas diferentes que me inspiraram de maneiras completamente diferentes. Nem foi necessariamente apenas de um género. Mas, para mim, quando há um artista que simplesmente se recusa a inserir-se em qualquer categoria e soa de uma forma que parece que está a partilhar um segredo — que ninguém é suposto ouvir —, isso é mesmo inspirador. Porque consegues dizer que eles estão a fazê-lo por eles próprios. E, na minha opinião, é a melhor maneira de abordar o processo criativo.

O Frank Ocean é um dos grandes nomes do momento no R&B e na música pop. Ele é uma influência para ti?

Bem, eu adorei mesmo o álbum dele. Acho que ele inspira muita gente, mas não o chamaria uma influência. Acho que fez um grande álbum. Mas acho que [o disco] é demasiado novo para ser uma influência para tudo aquilo que está a sair agora. Talvez daqui a dez anos.

 



Sim, o single é óptimo, seja de que maneira for. Mas há todo um álbum que também merece atenção.

 


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