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Fotografia: nezpera
Publicado a: 20/09/2021

Confrontos pesados na pista de dança.

GABBEROLAS: a introdução ao gabber em 10 faixas

Fotografia: nezpera
Publicado a: 20/09/2021

“Tugacore é quando alguém diz guitarra-baixo em vez de baixo”. Quem o diz é João Rochinha, co-fundador da Rotten / Fresh e embaixador-mor desse movimento por vir.

Tal como as variantes hardcore de Itália e França, também o músico e produtor conhecido por unitedstatesof acredita numa resposta portuguesa às expressões mais explosivas da música electrónica de dança. “Sentimos que podíamos fazer um produto verdadeiramente original e menos derivativo do que o que costumamos ouvir de música electrónica pesada feita por cá”, diz-nos sobre o projecto GABBEROLAS, que partilha com Diogo Oliveira, e que nasceu “por volta das duas da manhã”, no Desterro, durante um b2b de DJ Pairico e DJ Privilégio. “Alguém deixou cair gin na mesa de mistura principal”, recorda Oliveira, percalço que levou a que o infame limitador de som deixasse de funcionar. “Foi a uma segunda-feira”, reforça ainda sobre o dia que considera ter sido a génese do tugacore.

Mas recuemos um pouco no tempo. Nos primeiros metros dos anos 90, Roterdão inscreveu a sua assinatura nos manuais da história da electrónica. Depois de Chicago, Detroit e Ibiza (por via do house, techno e balearic beat), era a vez da cidade holandesa rivalizar com o estatuto das grandes mecas da música de dança ao fundar as bases do que entendemos por gabber. Mas a constante cadência dos subs e das batidas, situada entre os 160 e os 220 BPMs, bem como uma infeliz associação ao hooliganismo e aos movimento de extrema-direita e neo-nazi contribuíram para a “vilanização” do género perante o público europeu. A tendência, no entanto, tem vindo a mudar, e há cada vez mais artistas a desafiar a narrativa.



Para os GABBEROLAS, contudo, o apelo parece estar no regresso às raízes. “Esta paixão [pelo gabber] surgiu após termos visto e ouvido milhares de vezes os aftermovies de queimados do Thunderdome ’96. É um tipo de música inegavelmente físico e temos muitos gostos e estilos que explorar. Infelizmente [é um género que] continua a ter pouca expressão em Portugal e a expressão que tem é muito mais do lado moderno do que do lado ‘bring back the 90s‘, mas não há mal nenhum nisso”.

O primeiro lançamento do duo, SUPERTAÇA, é uma referência à Supertaça Europeia e coloca duas forças vitais da nova electrónica portuguesa – GABBEROLAS e o recém-criado duo Hot Dancerzzz, de Bruno Aires (aka Aires) e Mafalda Melim – em confronto pelo titulo de campeões do tugacore. Os finalistas, porém, somos todos nós, “os representantes da Europa unida idealizada por todos no início dos anos 90 e que agora se bate pela vida após a confirmação do Brexit e a subida ao poder de partidos políticos segregadores”.

Em jeito de promoção do disco, editado em cassete numa edição conjunta com o Colectivo Casa Amarela, desafiámos Diogo Oliveira e João Rochinha a situar a atribulada história do gabber em 10 faixas que vão dos clássicos happy hardcore de Dune e Bertocucci Feranzano aos valores emergentes de Lil Texas e Paul Seul. Nas palavras dos GABBEROLAS: “dancemos pelo futuro da Europa e que vençamos este primeiro confronto”.



DIOGO OLIVEIRA

[3 Steps Ahead] “Drop It” (1996)

“Um dos nomes maiores (e quiçá o melhor) da gabber scene original de Roterdão e um dos seus primeiros mártires: Peter-Paul Pigmans inicia-se na música aos 33 anos (1994) e falece nove anos depois vítima de um tumor cerebral. Pelo meio deixa um dos melhores discos do género (Most Wanted & Mad, 1997) e um punhado de temas imortais, sendo este um deles.”

[Bertocucci Feranzano]XTC Love” (1994)

“Bertocucci Feranzano — pseudónimo happy hardcore do mais conhecido DJ Buzz Fuzz — assina pela Pengo Records um tema fulcral e essencial para a vaga de futuros DJs e produtores holandeses que esgotariam a sua agulha de gira-discos ao reproduzi-lo em repeat nas Thunderdome raves que apenas tinham começado dois anos antes. Garrafinha de MD e carrega Benfica!”

[Dune]Can’t Stop Raving” (1995)

“Eterna faixa do projecto de happy hardcore comercialmente mais bem-sucedido da história. Uma das primeiras de sempre que eu ouvi com 15 anos e continuo a ouvir. Passamo-la frequentemente em DJ sets cumprindo a nossa obrigação de perpetuar malhões eternos. Ainda hoje quero um outfit vermelho e azul-marinho como o da vocalista.”

[Inferno Bros]Slave To The Rave (PCP Mix)” (1995)

“Projecto paralelo da proeminente figura do hardcore Marc Acardipane juntamente com Slam Burt. Os layers de synths, os vocais, a letra à defensores do techno numa altura em que o techno era basicamente tudo e não o pretensiosmo em que se tornou, enfim, um azeite de alto gabarito para fritar bem a pipoca e não colar ao tacho. Sempre presente quando me calha a honra de fecho da rave e não há tempo nem vibe suficiente para terminar com a ‘Touch Me’ do DJ Rui da Silva.”

[Paul Seul]Open Up” (2017)

“Talvez a faixa que mais ouço actualmente quando tenho que fazer travessias a pé. Ouvi-a hoje, na semana passada, no mês passado e no ano passado: um temaço capaz de meter qualquer um a dançar no metro ou na passadeira de dia! O produtor contemporâneo de que mais gosto a par do Lil Texas.”



JOÃO ROCHINHA

[Evil Grimace] “Bim Bim” (2017)

“O hino! Incontornável. The start of it all! Grandes reis. Provavelmente não havia Gabberolas sem Casual Gabberz. Escolhi esta por causa daquele mosh fodido no Boiler Room deles quando passam esta. Sonho.”

[GUIRRO]sicko realm” (2019)

“Adoro a puppy tapes! Apesar de serem mais um hardcore tecccchhhhhno do que um gabber não podia deixar de incluir este som/EP/label na minha lista porque foram um dos grandes impulsionadores para começar a explorar nas minhas produções o que ritmo e distorção é capaz. Fun fact: Há para aí dois anos comprei todos os lançamentos da editora da altura em digital para começar a passar nos meus sets mas nunca consigo porque o som está uma merda! <3<3″

[Lil Texas]ACAB” (2019)

“Menção obrigatória a Lil Texas que é um dos grandes do hardcore moderno. Também sentimos muito a mensagem desta música. Só é pena ele produzir tão alto: já matámos muitas colunas com músicas dele.”

[Original Gabber]Pump That Puzzy (Technohead Mix)” (1994)

“Esta foi a música que me fez querer passar gabber com o Diogo. É bué agressiva mas fun e tem aquela vibe de turntablism old-school que um dia os Gabberolas vão dominar.”

[TEYA LOGOS]Beki Bounce” (2020)

“Geralmente o gabber é melhor quando só tem kick no último minuto. Primeira coisa que ouvi da Teya Logos, a adolescente mais pissed de que eu me lembro. Na descrição da música diz que ela nunca esteve num club e eu também não… por isso é que senti.”

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