LP / CD / Cassete / Digital

Freddie Gibbs & The Alchemist

Alfredo 2

ESGN & ALC Records / 2025

Texto de Ruben Fernandes

Publicado a: 04/08/2025

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Uma sequela será sempre uma jogada de risco para um artista, mais ainda quando o primeiro disco é dos mais fortes do catálogo. Isto porque uma sequela nunca existe por si só; carregará sempre não só o peso das expectativas de qualquer novo e antecipado disco, como também a fasquia deixada pelo primeiro trabalho. Mesmo que um 2.0 seja sólido, nunca poderá evitar as comparações com o primogénito projeto. Alfredo 2 chegou-nos com este peso. 5 anos depois, The Alchemist e Freddie Gibbs voltam a unir esforços para nos trazer 14 faixas de produção de fino recorte e flows e rimas afiadas.

O mote é dado na primeira faixa, “1995”. Um clássico chop cheio de soul de The Alchemist sofre um switch no instrumental — e na energia também — para nos trazer uma vigorosa guitarra elétrica na parte final desta intro. Não há refrões orelhudos nem melodias contagiantes, apenas os cortes de Alchemist a servirem de suporte aos raps de Freddie Gibbs. E, meus amigos, o tom para o resto do álbum também está dado nesse aspeto. “Gotta comeback with a sequel”, rima o rapper de Gary, reconhecendo que este era um seguimento antecipado ao primeiro disco. Segue-se “Mar-a-Lago”, uma espécie de limpa-palato para esta entrada tão pujante, com um instrumental com cordas mais suaves e um Freddie Gibbs menos mordaz, mas com flows sempre imaculados.

O ritmo volta a subir com duas das faixas que destacamos neste disco: “Lemon Pepper Steppers” e “Ensalada”. A primeira é o primeiro banger do disco; o instrumental tem bounce, tem groove, e Freddie traz-nos uma daquelas performances que nos deixa a questionar o seu posicionamento em hipotéticos top 5 de rappers da atualidade. Já “Ensalada” é o grande destaque do álbum, com um riff de guitarra que não nos sai da cabeça e uma participação irrepreensível de Anderson .Paak no refrão.

O disco mantém uma toada mais descontraída ao longo das três faixas seguintes — “Empanadas”, “Skinny Suge II” e “Feeling”, esta última com uma participação pouco memorável de Larry June. Apesar de serem músicas que não destacaríamos, a química entre rapper e produtor mantém-se. Essa é, aliás, uma constante ao longo do projeto. Toda a prestação de Gibbs é irrepreensível e os instrumentais cortados por Alchemist são sempre, no mínimo, bonitos, apesar de nem sempre memoráveis.

Por esta altura, Alfredo 2 entra numa fase inconsistente: por um lado, “I Still Love H.E.R”, “Shangri La”, “Lavish Habits” e “Gold Feet” são outras das faixas que destacaríamos deste disco; por outro, “Gas Station Sushi”, “Jean Claude” e “A Thousand Mountains” são músicas que, não sendo de todo mal conseguidas, não deverão permanecer na rotação durante muito tempo. Talvez percam destaque por estarem tão próximas de faixas tão fortes. Em “Lavish Habits”, por exemplo, Freddie Gibbs reacende a sua antiga quezília com o controverso DJ Akademiks e aproveita para acrescentar alguns nomes à lista de futuros inimigos, tal como o de Gunna. “Gold Feet” é mais comedida nesse sentido, mas tem um verso de JID que nos deixa, uma vez mais, a fazer matemáticas sobre possíveis tabelas de melhores rappers na atualidade.

Alfredo 2 carregava um legado pesado mesmo antes de se carregar no play. Achamos importante que se perceba que cada álbum é uma experiência irrepetível. Não podemos ouvir dois álbuns ao mesmo tempo e, por isso, as variáveis nunca serão as mesmas e nós próprios nunca estaremos no mesmo lugar aquando da audição de um projeto. Goste-se mais da primeira ou da segunda iteração desta saga, não podemos negar que este é um dos melhores discos do ano e que a fórmula The Alchemist + Freddie Gibbs continua a trazer resultados impecáveis. Tal como a capa deste disco sempre nos indiciou, Alfredo 2 é um prato bem servido que nos deixará sempre de barriga cheia e satisfeitos após cada audição.


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