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Publicado a: 13/02/2017

Fios Bem Ligados: Uma série para mostrar como esta geração musical ultrapassa barreiras

Publicado a: 13/02/2017

[ENTREVISTA] Bruno Martins [FOTO] Direitos Reservados

 

O segundo episódio da série documental Fios Bem Ligados, realizada por Eduardo Morais numa co-produção entre a Antena 3 e a RTP2, vai amanhã para o ar, terça-feira (dia 14 de Fevereiro). A estreia aconteceu na passada segunda-feira e, de acordo com o seu autor, “retrata alguns desafios da música independente em Portugal”.

Eduardo Morais fez percorreu o país de Norte a Sul para descobrir a forma como trabalha esta geração de músicos e bandas nacionais, numa altura em que é comum dizer-se que a música portuguesa nunca esteve tão viva. Se esta é uma afirmação que pode estar carregada de uma grande dose de verdade, também não é mentira que muitos dos que fazem andar esta cultura fazem-no com muito trabalho e luta constante. As conversas com cerca de cinco dezenas de artistas nacionais – dos mais variados géneros, onde estão incluídos, naturalmente, muitos nomes do hip hop e da electrónica – são o fio condutor deste Fios Bem Ligados, que vai tentar pôr a nu, em quatro episódios, as lutas, as motivações e também a forma como são ultrapassadas as barreiras comuns nesta vasta comunidade.

O Rimas e Batidas conversou com Eduardo Morais, autor de muitos outros trabalhos documentais ligados à música portuguesa (Uivo, Meio Metro de Pedra, Tecla Tónica entre outras mini-séries feitas para a Antena 3, como Casa das Máquinas, feito a meias com Rui Miguel Abreu) que nos conta os objectivos desta série documental.

 



Conta-nos o que são estes Fios Bem Ligados.

É o primeiro projecto que faço que não consigo definir em apenas uma frase. A série retrata alguns desafios da música independente em Portugal: aquilo que está por trás de um músico, promotor ou editor quando este leva a sua criação ao público. Não se trata apenas de mostrar motivações, e “dificuldades” acaba por ser um pouco uma palavra de conotação negativa, pois remete a uma luta constante. A verdadeira intenção desta série é mostrar ao espectador como são ultrapassadas algumas barreiras comuns nesta nova geração musical. Obviamente, limitar esta série a 50 entrevistados é uma tarefa bastante ingrata, mas tentei ser o mais ecléctico possível dentro do universo da [rádio] Antena 3.

O que te motivou fazer este documentário?

A precariedade da área, sem dúvida. Regendo-me muito mais pela área da música do que pela do cinema, e sendo a minha namorada baterista há duas décadas, um dos tópicos mais habituais das conversas cá em casa nos últimos meses era: “Caraças, mas como é um gajo consegue viver da música em Portugal?”. Por um lado, a liberdade que se tem para se estar focado apenas na própria arte é essencial para o desenvolvimento, mas por outro a instabilidade financeira que isso a maior parte das vezes acarreta é muito tramada. No meu caso, eu não tenho background financeiro nenhum e quase todos os meses me vejo “à rasca” para pagar a renda e as contas, assim como nunca consigo fazer planos para mais do que poucos meses, e isto por vezes é absolutamente desmotivante. E esse é o dilema de vários músicos também.

 


“Sendo a minha namorada baterista há duas décadas, um dos tópicos mais habituais das conversas cá em casa nos últimos meses era: ‘Caraças, mas como é um gajo consegue viver da música em Portugal?’”


Queres explicar-nos os diferentes capítulos da série?

É natural que ao magicar o projecto sobre a subsistência nesta área, as questões primárias de circuito de concertos, cachets, promoção, direitos de autor, etc. sejam levantadas, pois a primeira é uma consequência das segundas. Assim sendo, decidi dividir estes tópicos por episódios:

O primeiro episódio serve como introdução aos tópicos seguintes, até porque tenho consciência de que muitas pessoas que vão ver esta série não conhecem muitos dos entrevistados que lá estão, por isso acaba por ser uma forma simpática de os apresentar.

No segundo episódio fala-se sobre as questões básicas que envolvem a actuação, desde a mais que importante descentralização e as novas promotoras, até aos cachets.

No terceiro é a edição que toma conta da conversa: desde as novas formas de promoção até aos afamados direitos de autor – e este é um tema que irei explorar mais detalhadamente nos próximos meses.

Finalmente, o quarto episódio é, para mim, o mais importante: considero-o o nervo de todo o projecto. A intenção não é de todo ter uma coscuvilhice sobre como cada um vive, mas sim entender quais as decisões que estes agentes criativos tomaram ou tomam para se tentar sustentar na sua área.

O que é que aprendeste sobre a música portuguesa dos dias de hoje ao fazer este documentário?

Felizmente, é um universo que conheço muito bem, pois o facto de andar na estrada pelo país com os documentários, com muitas bandas e programar vários concertos e DJ sets fez com que tenha trabalhado com muito pessoal da música actual. Acho que é o projecto que comecei mais bem preparado e integrado.

No teu trabalho de realizador tens feito vários documentários muito ligados ao passado e à história da música em Portugal. Este Fios Bem Ligados vem com uma marca grande do presente, de actualidade. Foi um desafio maior fazer este trabalho?

Sem dúvida. Estava habituado a ter um certo tipo de perguntas básicas sobre o passado, como por exemplo “como era viver na altura X?”, ou “onde conheceste a banda Y?”. De repente tinha alguém em frente à câmara que era, praticamente, da minha idade e que eu queria que me falasse sobre alguns detalhes mais pessoais da sua vida. Ou então editar um documentário sempre numa linha cronológica e de repente estar livre disso. Este Fios Bem Ligados acabou por ser uma quebra no meu “modus operandi” e perdi muitas horas de sono à conta disso. Mas no final de contas, obviamente que o gozo de o fazer é o mesmo. Há detalhes de produção extremamente nerds que tive de contornar e aprender – além da carga de ser uma série documental que está a ser transmitida na televisão pública.

 


“Percebe-se, felizmente, que a nova música deixou de ser elitista nas últimas décadas graças à evolução tecnológica. E isso é fantástico. Talvez até à década de 80”


Olhando em retrospetiva para o trabalho documental que fizeste à volta da música portuguesa, quais são as principais diferenças que encontras entre a forma de os músicos trabalharem hoje e a forma como se trabalhou nas últimas décadas?

Acho que isto poderia ser uma longa conversa que dificilmente se resume a um par de frases. Ainda assim, começando pelo acesso aos instrumentos (a relação preço vs. qualidade de vida) e aos discos (importação/novidade) que agora há, percebe-se, felizmente, que a nova música deixou de ser elitista nas últimas décadas graças à evolução tecnológica. E isso é fantástico. Talvez até à década de 80, os instrumentos eram extremamente caros para o salário médio; assim como a música importada e a novidade de fora estavam confinadas às rádios, editoras, jornalistas e a quem tinha posses financeiras. Hoje isso desapareceu: os músicos mais novos aparecem muito mais bem preparados e cientes do que os rodeia, o que para os “velhos do Restelo” e “lobos do mar” presos ao passado é um autêntico sacrilégio. E essa chapada na cara é necessária, pois esse discurso frustrado está demasiado presente, por exemplo, nas redes sociais e é triste. Por outro lado, os espaços estão muito mais abertos aos novos projectos e começa a não ser raro encontrar exemplos de um artista ou banda que faz a sua primeira actuação numa ZDB, num Musicbox, ou num Maus Hábitos, ou até com que sem agente consiga marcar 30 concertos num ano por todo o País. E isto não absolutamente nada a ver com lobbies, mas sim com um papel de fisga que um promotor de espectáculos deve ter.

Falaste ali em cima de que estás a trabalhar em algo relacionado sobre direitos de autor. Queres adiantar o que é?

Sim, ainda não está 100% definido, mas será um mini-documentário sobre os direitos autorais e conexos. Irei lançar ali por Abril.

[RECORDA AQUI O PRIMEIRO EPISÓDIO DE FIOS BEM LIGADOS]

 


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