Záguia Sul, a mais recente proposta de filme-concerto do Space Ensemble, vai poder ser vista e escutada ao vivo numa nova série de datas anunciadas. Depois de, no passado sábado, o espectáculo ter estado em Valença, seguem-se duas apresentações no Centro Cultural do Vale do Mouro (em Tangil, Monção, dias 24 e 25 de Setembro) e outra na Galiza, na Casa da Cultura de Sandiás (em Sandiás, Ourense, dia 26 de Setembro).
Mais do que um simples filme musicado, Záguia Sul é uma cartografia sensível em constante metamorfose. A figura híbrida do Guarda-Rios — metade pessoa, metade pássaro — funciona como uma alegoria do próprio projecto: um ser que não pertence inteiramente a nenhum lugar, mas que existe na fronteira fluida entre a paisagem e a memória. A cada paragem o espectáculo procura incorporar o próprio território, com novas imagens captadas nos rios locais e a integração de participantes da comunidade a transformarem a obra num organismo vivo, que se alimenta das águas, das histórias e dos sons de cada margem que visita. Esta peça torna-se, assim, um rio de narrativas, cujo curso é redesenhado em cada performance, reflectindo a identidade única de cada comunidade ribeirinha.
Esta abordagem estende-se à sua estrutura musical e formativa, onde a fronteira entre o estabelecido e o emergente também se dissolve. A direcção musical colectiva, assinada por cinco músicos, espelha uma sonoridade plural, talvez inspirada pelo cacarejo das águas e dos seres que as habitam. O gesto mais significativo, porém, é a integração de jovens músicos através de um programa de mentoria. Ao trazerem para o palco profissional aqueles que participaram em projectos educativos, o Space Ensemble pratica aquilo que a Záguia prega: a criação de um ecossistema artístico sustentável, onde o conhecimento flui como um rio, alimentando novas gerações e garantindo que a memória cultural, tal como a água, nunca estagna.