LP / Digital

FIELDED

Demisexual Lovelace

Backwoodz Studioz

Texto de Rita Matias dos Santos

Publicado a: 30/11/2020

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Entre diversas palavras de recomeços, restauros e outras com “re” cravados como prefixos, a palavra mais adequada para se descrever o novo álbum de FIELDED parece ser “redefinição”. Redefinir, por si só, é um acto que requer coragem, assumir falhas e aceitar limar arestas, melhorar algo que já ocupa um lugar. E acaba, exatamente, por ser o que Lindsay Powell faz em Demisexual Lovelace

Nos seus trabalhos anteriores, a artista americana apostava em sintetizadores histéricos e sonoridades mais associadas a uma certa ideia de “som comercial”, um caminho no qual sentia uma necessidade específica: “escrever de uma certa maneira e apresentar-me como uma artista pop”. E foi com alguma dificuldade que se fez realçar nesse percurso. Se a jogada de mestre foi ou não de FIELDED, não temos a certeza, mas certo é que a intervenção de billy woods na carreira de Powell não passou despercebida. Para além da colaboração em Terror Management, FIELDED juntou-se à Backwoodz Studioz para o lançamento do álbum que, tal como é descrito no press-release, representa um “ponto de viragem” para si. Ao ouvir-se as 10 (+1) faixas que compõem Demisexual Lovelace rapidamente se compreende que esta dita viragem não se trata de uma nova experiência laboratorial na carreira de Powell, mas um olhar sobre o que estava há muito escondido por detrás das melodias dramáticas e as baladas fluorescentes. 



Para este trabalho mais introspectivo e honesto, Lindsay trocou as torres da cidade pela floresta da Geórgia, feito em residência artística e não dentro de moldes industriais. E ao contrário da ansiedade sonora a que nos habituou, Demisexual Lovelace constrói-se num ambiente melódico sólido e coerente, de inspiração bucólica, que fica delineado desde a primeira faixa. “Talking to Myself” torna-se deste modo um prelúdio temático: uma reflexão, uma viagem interior, uma conversa com o self, na qual deixamos de associar a FIELDED e passamos a ver o lado mais vulnerável e sensual de Lindsay. Neste segmento destaca-se “Grasses Sweet”, uma modulação mais rítmica e sintética, na qual a voz lenta e sedutora da artista transmite confiança e um vigor cadente que ganha força com os versos de E L U C I D. Outro nome que se destaca na pequena lista de participações é o do já mencionado billy woods: “Justus” é uma faixa intrigante, tanto pela história que relata, como nas variações rítmicas que produzem um efeito luxurioso que contrastam com os versos do rapper nova-iorquino que terminam a música num lugar frio e rígido. 

Esta longa-duração não só conta uma história concisa de modo harmonioso e lógico como reconhece a FIELDED uma plasticidade musical que a coloca numa posição promissora nos meandros do r&b. Em Demisexual Lovelace, as experiências viscerais serviram para desembaraçar e reorientar a sua musicalidade. Puxar as entranhas cá para fora para se encontrar, no fundo.


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