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Fotografia: Simon Trel / Mínima
Publicado a: 03/02/2023

O sabor artístico mantém-se.

Festival Porta Jazz’23 – Dia 1: Odisseia num novo espaço

Fotografia: Simon Trel / Mínima
Publicado a: 03/02/2023

Escreve o sempre certeiro, bem humorado e inteligente Rui Teixeira na apresentação da 13ª edição do Festival Porta-Jazz – que ontem mesmo teve o seu preâmbulo com a celebração do seu novo espaço na Praça da República, no Porto, pois claro – que este evento é um verdadeiro caldeirão e que os 70 músicos que se vão cruzar em 17 concertos são os ingredientes que, uma vez submetidos à efervescência da ocasião, irão, certamente, proporcionar a quem quiser marcar presença um saboroso repasto artístico. Não temos dúvidas e a celebração da noite de ontem, numa casa nova recheada de amigos – velhos e novos também – é claríssima prova disso mesmo.

A militância e a continua prova de fé da equipa da Porta-Jazz é sempre contagiante e possui suficiente intensidade para ter contaminado toda uma cidade e mais além. E ontem, num espaço que além do Ensemble Porta-Jazz – Robalo recebeu também uma exposição contendo obras de Nuno Trocado, Susana Santos Silva e Sofia Sá, esse benigno contágio surtiu, uma vez mais, amplo efeito.

No palco mostrou-se uma muito jovem versão do ensemble que celebra a sintonia de vontades de duas associações – uma do Porto e outra de Lisboa – que têm sido abrigo e trampolim para muitos músicos e projectos musicais. Uma forma de deixar claro que estes agitadores estão empenhados em passar o testemunho para quem possa continuar este trabalho no futuro.

O saxofonista Gil Silva, o contrabaixista Pedro Molina e o baterista Eduardo Dias foram ontem os representantes no palco da Porta-Jazz, ao passo que Nazaré da Silva na voz, Duarte Ventura no vibrafone e Bernardo Tinoco no saxofone desempenharam idêntico papel para a Robalo. Mas não se tratava de um jogo de forças opostas, antes da construção de algo novo, fruto de uma residência artística em que os seis músicos procuraram explorar diferenças e afinidades, erguendo de forma natural um edifício novo a partir de composições individuais. O jazz, a música livre e improvisada, mas também subtis tangentes a modos mais eruditos serviram de coordenadas para a apresentação que decorreu perante sala cheia. Todos os músicos tiveram a oportunidade de exibir dotes, sem que tal alguma vez tenha soado indulgente, mas a voz de Nazaré da Silva ocupou de forma lógica um lugar central: ela canta de forma ultra segura, com timbre distinto, e evoca por vezes as nuances melódicas que associamos ao denominado canto livre ou de intervenção, fruto, seguramente, da educação do seu ouvido. Foi bonito ouvi-la cantar e sobrevoar a música que os seus companheiros ali conjuraram, com classe e imaginação. Bernardo Tinoco, numa peça da sua própria autoria, por outro lado, soou quase litúrgico, numa passagem por território de pronunciada espiritualidade.

Quero crer que não foi o bar aberto e o generoso serviço da Simplesmente Vinho que deixou tantos sorrisos nos rostos dos presentes, antes a tal energia contagiante que esta gente distribui sem pedir quase nada em troca. Talvez apenas os aplausos, que ontem ninguém negou, pois claro. E palpita-me que o mesmo há-de acontecer hoje, amanhã e domingo, os três dias em que a Porta-Jazz se relocaliza no Rivoli para apresentar à cidade um banquete sob a forma de 16 concertos. Este caldeirão vai certamente continuar a ferver e a saciar muita gente por muito tempo.


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