[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Daniela K. Monteiro e Sebastião Santana [VÍDEO] Alexandra Oliveira Matos e Luis Almeida
Tranquilidade foi a palavra de ordem no início do segundo dia do Festival Iminente. Várias famílias a tornar o certame no seu programa de fim-de-semana — aposta acertada — num dia fortemente suportado na tropicalidade e africanidade, assumindo de forma clara a multiculturalidade que existe em Portugal.
Depois de um ligeiro atraso que nos impossibilitou de ver Cachupa Psicadélica a abrir a pista, NBC foi o primeiro nome no alinhamento diário. Com Toda a Gente Pode Ser Tudo como base do alinhamento, o artista de Torres Vedras improvisou, atirou-se a “Ésluz” no meio do público e cantou Michael Jackson, mostrando argúcia e sensibilidade em cada momento do espectáculo. Tudo isto com o acompanhamento exemplar da sua banda, todos vestidos de branco.
Pelo meio, houve tempo para um agradecimento especial a Vhils pelo convite e pela forma como recebe os artistas. Timóteo Santos continua a sua demanda pela paz no mundo através da música. Não é tarefa fácil, mas dificilmente existiria um homem mais indicado para fazê-lo.
Do palco para a pista, Vado Más Ki As colocou a energia nos píncaros com o rap crioulo como arma de arremesso. Apesar de ter actuado relativamente cedo, a moldura humana era considerável e os bangers que tem lançado no seu canal de YouTube oficial foram o combustível para um actuação intensa. Se ainda não decoraram o nome, podem tirar nota: Vado veio para ficar.
Tal como na edição do ano passado, Chullage teve direito a uma plateia recheada de saudosos fãs para assistir ao seu concerto, algo raro nos dias de hoje.
Como prometido no cartaz, os convidados fizeram-se ouvir ao lado de Nuno Santos. Bdjoy, Bambino, Praga, J.Cap e B Skilla trouxeram um sabor mais clássico ao concerto, enquanto Landim, acompanhado por Fumaxa, foi o representante da nova escola. “O hip hop está bem entregue”, rematou Chullage logo após a actuação do autor de Leonardo.
Com uma paleta sonora abrangente que tem salpicos de drum and bass, reggae ou hip hop, “Eles Comem Tudo” e “Já não dá” foram algumas das faixas mais celebradas, deixando ainda um momento para satirizar as declarações de André Ventura, o candidato do PSD à Câmara Municipal de Loures, sobre a comunidade cigana.
Para fechar a actuação, Chullage homenageou o malogrado Beto di Ghetto, afirmando que a última vez que o MC tinha actuado ao vivo foi no Iminente’16. “Nasci na Ghetto” encerrou uma belíssima actuação com todos os intervenientes em palco.
De veterano para veterano, Karlon pegou na batuta e deu um espectáculo fortíssimo, que entra facilmente na lista de melhores concertos desta edição do Festival Iminente.
Depois de X-Acto colocar a apresentação de Karlon pela voz de Carlos Cardoso (rádio Oxigénio), a actuação passou por Passaporti, grande disco que nos deu pérolas como “Mamá Tchiga Portugal” ou “Foi Sodade”, temas que meteram todos a mexer a anca e a bater o pé.
Num dos grandes momentos do concerto, o co-fundador dos míticos Nigga Poison pediu “Paranóia” ao seu DJ e colocou em prática o seu fast flow, tendo uma reacção automática do público, que, prontamente, se atirou a uma salva de palmas desenfreada.
A segurança, a qualidade e a frescura do som de Karlon foram metidos à prova e sobreviveram com nota máxima. Alguém precisa de um Passaporti?
A Linha da Azambuja preparava-se para invadir Oeiras com a liderança de Holly Hood. Depois de deixar uma mossa no panorama nacional com O Dread Que Matou Golias, o rapper e produtor está a preparar o seu sucessor, Sangue Ruim, e tivemos a oportunidade de ouvir música nova no Iminente.
Antes disso, o cenário habitual: Here’s Johnny nas costas e Stones Jones ao lado. Os convidados foram, na verdade, as pessoas do seu círculo: No Money, um dos parceiros inseparáveis nesta jornada, apresentou o single “Veneno”, um novo tema e ainda fechou a actuação com “Cúmplices”, música do produtor da Superbad. A ele, juntou-se Bigg Favz, o cantor que dá voz ao refrão de “Cobras e Ratazanas”.
Depois de interpretar “Qualquer Boda”, “Spotlight”, “Fácil” ou “Ignorante”, o artista atirou-se a “Cala a Boca”, faixa nova que ainda não foi editada. Pelo que pudemos ouvir, está um novo hit na calha. Aguentem essas listas de melhores do ano…
Com o público com as letras na ponta da língua, a conquista está feita e a promessa de mais e melhor está para breve. A jornada de Holly Hood pode estar apenas a começar…
Antes da chegada de Regula ao palco, DJ Big tocou para uma pista a transbordar e fez o que sabe melhor: misturou o novo com o velho e fez a festa sem pedir licença.
“Todo o santo dia para mim é payday”. E foi desta forma que Don Gula começou o seu concerto, atirando a primeira dose de grime à portuguesa para o público agarrar. Acompanhado por DJ Kronic e Bacar Sanó, Tiago Lopes reclamou, novamente, o estatuto de estrela no hip hop nacional, dono de um dos percursos mais interessantes no panorama português.
O público correspondeu à presença possante do MC e compareceu em força — foi muito provavelmente a maior enchente do Festival Iminente. Com um sem número de hits na mala, Regula tocou “Casca Grossa”, “Gana”, “Tarzan”, “Langaife”, “Nada a Ver” ou “Nívea”, deixando ainda espaço para “Bar Aberto”, tema em que aproveitou para afirmar que os Da Weasel eram a sua maior inspiração.
A grande surpresa foi a entrada de Dillaz em palco, a cereja no topo do bolo. Espectáculo de nome grande a abrilhantar o Festival Iminente.
Para fechar o segundo dia, Shaka Lion, Branko, os representantes da Enchufada na Zona e Xinobi + Moullinex mostraram o porquê de Portugal estar numa ebulição criativa tão grande: Graves e ginga, disco e África. Enchufada e Discotexas são os nomes da praça, cantaria Regula.
O terceiro dia está aí e a despedida de gala já está em andamento. Ainda bem que não ficámos em casa.