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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 24/05/2022

Tem como propósito fazer com que "tradição e inovação coabitem", cuidando "das raízes" e lançando "rebentos". Um "autêntico reboliço criativo no Alentejo".

Festival Giacometti 2022: o ano em que a tradição é mais electrónica

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 24/05/2022

Por coincidência ou nem tanto assim, calha que este ano o programa musical (tem outras vertentes, designadamente a dança, as artes plásticas, o cinema, a gastronomia e, claro, a etnologia) do Festival Giacometti assinala uma grande incidência na electrónica, tanto em termos processuais como de tendência estética, designadamente a da música experimental electroacústica. Assim chamado em homenagem ao etnomusicólogo corso que fez recolhas de cante, e não só, na região de Ferreira do Alentejo e quis ser sepultado na pequena e branca aldeia de Peroguarda, a sua (de Michel Giacometti) preferida, o evento equaciona este ano, mais do que nunca, a tradição com as práticas musicais mais exploratórias.

Logo no primeiro dia, 2 de Junho, é de assinalar a participação de Cláudia Alves (baixista das bandas Frik.são e Matriarca Paralítica e acordeonista das Panelas Depressão) no espectáculo Pimpinella, protagonizado pela palhaça Eva Ribeiro. Será no Museu Municipal de Ferreira do Alentejo, às 18h30. 

À noite (21h30), na Praça Prof. Joaquim Roque de Peroguarda, a violinista e compositora/improvisadora Maria do Mar (que, por sinal, costuma tocar nos concertos das punkeiras Matriarca Paralítica) apresenta o seu projecto Grão : Contra_Tempo, misto de concerto, performance e instalação em que field recordings, montagens e processamentos por computador, imagens vídeo e assemblagens de objectos que preservam a memória das populações locais se associam ao seu trabalho com o violino e a violeta. Entre a improvisação livre, o experimentalismo sonoro, a electrónica com beat e a música popular o propósito é “desenhar os rastos de algo que, como o tempo, é efémero”.

A 3, pelas 18h, no Núcleo de Arte Sacra de Ferreira do Alentejo, apresenta-se o EME – Ensemble de Música Electroacústica, numa composição conjunta de Süse Ribeiro (percussão e electrónica em tempo real), Rui Rodrigues (percussão), Vítor Rua (o mesmo dos Telectu, guitarra eléctrica) e Helena Inverno (vídeo). Dois factores-chave estarão envolvidos: por um lado a “performatividade da improvisação” e por outro a “espacialização sonora” no local escolhido para o efeito. O mesmo em que, de manhã (11h), Suse Ribeiro realiza uma masterclass com o tema Composição e Tecnologias da Música.

Pelas 21h, no Café João Lota, também em Ferreira do Alentejo, apresenta-se um dos derradeiros representantes do cante de “timbre e modulação antiga”, o próprio João Lota em dia do seu 85º aniversário, cantador do Grupo Coral e Etnográfico “Os Trabalhadores”, fundado em 1947. A agenda do dia continua às 23h30 na Casa do Vinho e do Cante, com as Vozes d’Encante de João Caldas, André Silva e Artur Silva, representantes do “novo cante ferreirense”.

O segundo dia do Festival Giacometti termina no mesmo espaço, o da antiga e lendária Adega do Zé Lelito, pelas 00h30, com Diástase, performance audiovisual de João Maia Henriques e Eva Barrocas que equaciona o cante ancestral, tal como documentado por Giacometti, com as paisagens do presente.

No que à música respeita, o dia 4 de Junho está reservado, sobretudo, para as contribuições de outros países em termos de recuperação de patrimónios e suas reformulações. No Jardim Municipal de Ferreira do Alentejo actua primeiro, às 18h30, o duo Dafka e Doneff, da Macedónia, com a sua música de reconciliação do tradicional e do inovador, também com uma vertente improvisada. No mesmo sítio, mas às 21h30, estarão Marta Pereira da Costa e a sua guitarra portuguesa e depois, pelas 23h, a italiana La Banda del Comitato, conhecida pelas atmosferas irónicas que cria.

A meia-noite e o fim do festival chegam, sempre ao ar livre, com um DJ set de Bruno Salgado Zayas, se bem que diferente dos habituais: em passagem estarão os ritmos cholulteka do México, simultaneamente autóctones e techno, ou seja, duplamente “bailangueros”.


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