pub

Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 02/09/2022

Talento nacional e a a Ria Formosa como pano de fundo.

Festival F’22 – Dia 1: loucos e bons

Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 02/09/2022

O sol ainda raiava quando as portas para uma das últimas grandes festas do Verão se abriram para a sétima edição do Festival F, realizado na Vila Adentro em Faro. Se o recinto só por si já é digno de uma visita — encontra-se no centro histórico da capital algarvia –, este ano a simbologia é ainda maior: três anos depois do último festival a todo o gás, resultado de uma paragem pandémica, que deram lugar a um formato diferente e reduzido durante 2020 e 2021 – as Noites F – focadas na segurança do público e no apoio ao sector cultural e todos os seus profissionais. Para 2022, o regresso à normalidade trouxe novidades: nove palcos (mais um que em 2019), uma programação paralela com tertúlias recheadas de pensamento crítico e debate para os três dias do festival e, claro, muita música portuguesa.

Se o característico calor e sol algarvio iam perdendo força com o chegar da noite, o primeiro concerto do dia fez questão de garantir que a energia e o ambiente não se desvaneciam: em pleno Museu Municipal de Faro, A garota não deu o pontapé-de-saída com as suas rimas palpitantes e carregadas de significado, debruçando-se sobre os mais variados temas sociais, desde a política ao feminismo, acompanhada em palco pelo baterista Diogo Sousa e o guitarrista Sérgio Miendes. Num concerto intimista com algumas dezenas de pessoas bem atentas às palavras que iam sendo debitada, o Palco Museu não só nos ofereceu este concerto, mas também exposições de arte que fizemos questão de visitar durante o primeiro concerto do dia — que foi composto por alguns dos temas já conhecidos da artista e também novidades ainda no “forno” , como o caso de “422”.

Uma das novidades deste ano é o Palco Arraial, obviamente preenchido com cantores de música popular portuguesa, bem à porta de onde A garota não tinha acabado de actuar. Com tanta densidade de programação e concertos, é caso para dizer que em cada esquina do festival o F preenchia-se com muita festa e animação!



Com o chegar da noite, também uma multidão de gente ia começando a preencher o recinto e caso disso foi uma das novas localizações deste festival, o Palco Magistério, que recebeu o produtor/rapper Lhast. Batiam as 22 horas quando o autor foi “Pa’Cima” do palco e de rompante fez chegar o seu “Safe” – um dos grandes hits da sua carreira enquanto cantor – e a vibração do público elevou a energia e definiu o tom para os cerca de 40 minutos de concerto: muita intensidade, celebração e sobretudo satisfação de Lhast, acompanhado apenas por Young Boda nas suas costas a disparar hit atrás de hit, como são os casos de “Render”, “Tou Bem”, “Es7ádio” e “Bossy”. Mas um dos picos da sua performance ficou reservado para quando o rapper disse “Já Não Dá”, e os presentes mostraram o contrário com a já contagiante energia que foi pautando a performance, até se despedir ao som do interessante tema “Saturno”, que arrancou a felicidade de alguns acompanhantes mais acérrimos do seu trabalho.

Logo de seguida, um dos momentos altos da noite: a Sé de Faro encheu-se para receber NENNY, que apesar dos seus tenros 20 anos deslizou até palco com uma performance bem graúda de “21”, primeira faixa da noite que aguçou o apetite dos milhares bem atentos ao que fazia. Entre dedicatórias a todas as mães presentes com a faixa “Dona Maria” a alturas bem dançantes, a “Tequila” da jovem de Vialonga serviu como forma de brinde metafórico — e a ementa não podia ficar completa sem “Sushi”, cantada em uníssono pelo mar de gente que compunha a plateia… ou atrevo-me a dizer, o “Mar Azul” de gente; lançado há pouquíssimas horas, o novo single foi uma das bonitas surpresas da noite, demonstrando-se agradada pela recepção do público, que não se mostrou desatento ao trabalho da artista e acompanhou-a em plenos pulmões durante a estreia desta homenagem às suas raízes cabo-verdianas em palco. Destaque para uma breve passagem pelo intemporal “Bitch Don’t Kill My Vibe” de Kendrick Lamar, uma passagem digna devido à prestação dos músicos que subiram a palco com NENNY. Performance bem afirmativa da artista que se demonstra cada vez mais refinada e profissional.



Sem momentos para pausas, a ida para o concerto de LON3R JOHNY foi feita com alguns minutos de atraso e à distância entendemos o que nos esperava: um verdadeiro caos, mas dos bons! Dito e feito: chegámos a meio de “Safe”, acompanhado em palco por um “velho” conhecido da noite, Lhast, com quem divide a faixa. Se a intensidade e clima absolutamente positivo que havíamos sentido até aqui era constante, aqui isso foi elevado a um ponto quase incomparável, culpa de um público de “malucos” como LON3R lhes chamou nos raros lampejos de tranquilidade entre músicas, seguido de vários pedidos para tornar os vários focos de moshpits do público do Quintalão num gigante: pedido aceite! A nave de LON3R deslocou-se até ao ponto mais a sul do país para mais uma paragem da sua tour num ambiente de loucos em que ninguém arredou pé em nenhum dos momentos do concerto e até proporcionou encore, como foi o caso de “Damn/Sky”.

Disposição bastante tradicional, sozinho em palco com Cripta à rectaguarda (o responsável pelos instrumentais e dobras), a performance do rapper contrastou com isso, já que as várias camadas de efeitos vocais, instrumentais disruptivos e peculiaridade na sua música colocam-no numa esfera quase única comparativamente a todo o cartaz deste festival, mas nem por isso teve menos celebração, já que o Palco Quintalão estava praticamente lotado para o concerto do artista que actualmente é agenciado pela 808. A finalizar, o rapper trouxe a palco um tema inédito que promete fazer abanar a cultura hip hop portuguesa, seguindo uma linha cada vez mais perto do rock/punk, com um instrumental recheado de guitarras e 808 distorcidos, numa vibe ainda mais agressiva do que o seu mais recente tema “Rock”, lançado em Maio deste ano. Aguardamos com expectativa este novo passo na carreira de LON3R JOHNY, que promete ser verdadeiramente inovador comparativamente à música que tem feito nos últimos anos.

O relógio marcava 1h20 e, apesar de bem tarde, nem por isso os presentes iam abandonando o primeiro dia do festival por uma razão muito simples: uma das actuações mais esperadas do dia ainda estava por acontecer no Palco RIA, cortesia dos Wet Bed Gang. À sua espera estava um mar de gente que mais parecia uma extensão da esplêndida Ria Formosa colada às costas deste que é o maior palco do F — e todos entusiasmados com um dos maiores nomes de todo o cartaz da sétima edição do festival. Os poucos minutos de atraso até ao início da performance só electrizaram ainda mais os milhares que se iam fazendo ouvir pontualmente, gritando pelo quarteto de Vialonga. Entraram em palco ao som de “Mesa Oito”, cujo videoclipe foi curiosamente gravado em Faro, acompanhado de uma boa falange de pessoas a cantar todos os versos e refrões da música, estabelecendo um ambiente absolutamente espectacular que entusiasmou o grupo de rappers que arrancou para uma performance de gala ao lado da banda composta por guitarrista, El Conductor (que puxou pelo público momentos antes da entrada da WBG em palco), baixista, baterista e teclista. O show foi sendo composto por diversos timings e diferentes fases efusivas com um público a grande ritmo e intenso, como aconteceu no caso das faixas “iNrresponsável”, “Faço a Minha”, “Sai do Meu Hood”, até a milhares de luzes/isqueiros no ar para o épico “3,14” protagonizado por Gson com um piano arrepiante a acompanhar.

A recta final do concerto foi dividida com NENNY numa verdadeira homenagem à V-Block ao som de “Bairro”, acabando abraçados e com um público totalmente rendido a este quarteto que fez questão de o cantar a plenos pulmões.

Foi “Devia Ir” que levou boa parte do público ao delírio, um highlight deste concerto que durou praticamente 1h30, recheado das faixas mais aceleradas e agressivas que levou algum do público a mexer-se e muito até a momentos mais leves e descontraídos para desfrutar de toda a versatilidade e multiplicidade de argumentos que o grupo lisboeta leva a palco. Se por um lado o carisma e atitude de Zizzy puxam pela vivacidade do público, a precisão e intensidade de Kroa e Zara G a espaços agarram-nos, enquanto a voz cristalina de Gson conquistou os milhares que marcaram presença. Nas costas do quarteto, uma banda competentíssima que acabou por fazer jus à musicalidade original dos múltiplos temas da WBG com arranjos bem acertados e que acrescentam valor à arte dos mesmos, sem desvirtuar aquilo que podemos ouvir em qualquer plataforma digital. 



Minutos depois do arranque dos Wet Bed Gang no Palco Ria, o Palco Magistério preenchia-se, depois de Lhast e Viviane, para o último concerto da noite de Pedro Mafama. Com grande parte do público reunido no Palco Ria, os presentes eram dos verdadeiros e fizeram-se ouvir em vários momentos do espectáculo, fosse a cantar os vários temas ou em pequenas interações com Mafama. Muito para dançar e desfrutar das vibrações positivas Por Este Rio Abaixo do artista ou, neste caso, “Ria Formosa abaixo”. Vestido absolutamente a rigor para uma ocasião de gala, num azul bebé contrastante com a já sua bem graúda presença em palco, foi um concerto em que demonstrou todo seu o talento e qualidade. Ao centro, como o verdadeiro íman de atenções que demonstrou ser merecedor, Faro acabou por “mimá-lo” bem, reagindo às várias ocasiões em que foi esboçando sorrisos e demonstrando a sua gratidão com o público presente. A escuridão do seu “Lacrau” foi verdadeira luz que o público absorveu e quase que num uníssono dançante se fez ouvir, acompanhando um também dançante e descontraído Mafama a anteceder o fim que se aproximava com temas como “Contra a Maré”. 

E foi ao som destes artistas lisboetas que terminámos a primeira noite do Festival F… mentira, que ainda pudemos visitar o camarim dos Wet Bed Gang para uma pequena conversa que em breve estará disponível por aqui.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos