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Fotografia: Felipe Kido
Publicado a: 25/04/2025

Uma de quatro datas dos brasileiros em Portugal.

Febre 90’s no Musicbox: a febre revivalista está saudável e recomenda-se

Fotografia: Felipe Kido
Publicado a: 25/04/2025

Tem sido mesmo uma febre. Desde que, há quatro anos, o produtor SonoTWS e o rapper pumapjl apareceram em cena como a dupla Febre90’s, que se tornaram num fenómeno de culto no hip hop brasileiro, contribuindo para aproximar as novas gerações da golden era desta cultura. Esgotam concertos e merchandise, somam quase um milhão de ouvintes mensais no Spotify, e tudo sem editoras por trás nem grandes artifícios. Aliás, os dois músicos nem revelam a cara (ou a identidade), envergando balaclavas como um símbolo de contracultura e resistência, numa era em que a imagem tantas vezes se sobrepõe à música.

A febre também se fez sentir em Lisboa, onde os brasileiros esgotaram um Musicbox esta quarta-feira, 23 de Abril o que motivou a abertura de uma data extra, dia 22 —, sendo que ontem, dia 24, foi a vez de tocarem na Sala M.Ou.Co, no Porto, onde hoje repetem a dose. Com uma comunidade brasileira tão expressiva no nosso país, não é surpresa.

O que também não é novidade para ninguém é a dimensão do país sul-americano e da sua população, com mais de 211 milhões de habitantes. Isso torna o mercado brasileiro, que também consome muito a própria cultura, num território em que os nichos são amplos o suficiente para serem economicamente viáveis. 

E só isso explica, na abertura da noite com um DJ set sobretudo dedicado a boom bap norte-americano que é como quem diz a matéria-prima que inspirou os Febre 90’s —, que vejamos tantos jovens na casa dos 20 e poucos anos a abanarem entusiasticamente a cabeça ao som de clássicos nova-iorquinos da década de 90. Não é uma imagem muito frequente em Portugal; a nós pareceu-nos transportar no tempo precisamente para essa época.

Assim que SonoTWS e pumapjl subiram ao palco, euforia entre a multidão e muitos telemóveis ao ar. Eles fazem a autodenominada “música popular da selva de concreto brasileira”, e poucas definições seriam mais acertadas. Falamos de canções que reflectem essas vivências, que são diversas e por vezes até contraditórias, que evocam problemas sociais, alienação escapista, histórias de encruzilhadas ou o desfrutar dos pequenos prazeres da vida.

Com uma entrega pujante e enérgica, pumapjl e SonoTWS encaixam estas narrativas por cima de instrumentais contundentes, feitos em máquinas analógicas específicas, como as E-mu SP-1200 & Akai S950, de forma a fazer um revivalismo autêntico dos anos 90. Se o vinil voltou às prateleiras e a fotografia a rolo vive um momento de maior fulgor, por que é que o hip hop dos anos 90, 30 anos depois uma era tão associada a uma certa essência, a uma crueza típica, que definiu grande parte dos cânones e sempre permaneceu como referência não poderia também estar de volta?

Autodomínio, editado em 2023, esteve em destaque ao longo do alinhamento. Mas não faltaram outras faixas por parte da dupla e até houve espaço para revelar um breve trecho de uma canção que será lançada no próximo mês, a 16 de Maio.

Sono TWS e pumajpl são particularmente eficazes ao vivo — o som estava cristalino e irrepreensível, o que é raro para um concerto de DJ + rapper de boom bap no Musicbox — e o público acompanhou-os como mereciam ao longo de cerca de uma hora. A febre continua e Lisboa foi mais uma capital tocada pelo vírus, num ciclo saudável e refrescante (é importante quando surgem novas referências que revitalizam uma determinada estética ou subcultura) que se recomenda e se adivinha que veio para ficar.


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