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Fotografia: caodenado
Publicado a: 09/06/2021

No Brasil com os ouvidos postos na Europa.

Febem: “A minha ascensão começou porque decidi voltar para o meu bairro e ficar mais próximo da minha raiz”

Fotografia: caodenado
Publicado a: 09/06/2021

Em Abril passado, Febem chegou com JOVEM OG. O quarto álbum do rapper de São Paulo é uma viagem à história de um jovem como tantos outros que, segundo Felipe Desidério, tiveram que, por um ou outro motivo, crescer mais cedo do que o expectável. 

Membro da grande família que é a Ceia Ent. (Djonga, Don Cesão ou Jamés Ventura, entre outros), Febem tem vindo a construir o seu lugar no rap, com o trap ou o grime à brasileira – ou brime! – na bagagem em escadinhas visíveis de evolução e trabalho feito. 

Com um projecto para o qual chamou nomes como Tasha & Tracie, Vulgo FK ou Jean Tassy, Febem entrega 10 faixas com potencial de hit para puxar as saudades do club em que a energia e a lucidez na lírica se misturam. A propósito deste seu último lançamento, o rapper brasileiro falou, a partir de São Paulo, com o Rimas e Batidas. 



Olá, Febem! Tudo bem? Como estás?

Tranquilo. Um pouco de frio aqui.

Já está a ficar?

Sim. Não que nem aí, não é, mas… 

Certo. Ainda andei a ver umas viagens, mas o frio e tudo o resto, não é? Talvez lá para Setembro.

Nossa. Não vem! [Risos] Quer um conselho? Não vem! Aproveite o Verão da Europa… Mas aqui é o Brasil, não é? A gente acha que está tudo fechado, mas para quem tem dinheiro as coisas vão sempre funcionar, sabe?

Como está o ambiente na rua? Os espaços estão realmente fechados? Há um confinamento, de facto?

Não. As coisas fecham durante 15 dias e depois abrem. Até porque aqui não é como em Portugal. Se ficar sempre fechado… O Governo não dá auxílio de nada. A gente tem que ficar trancada sem poder trabalhar, tendo que pagar contas e acaba que todo o mundo se revolta e acaba indo para a rua, mesmo. Agora abriu de novo depois de um mês quase fechado. O pessoal voltou para as ruas, bares funcionam até às 20 horas e lugares tipo bistrô, com música ou com DJ, já começam a funcionar também. A galera começa a ir e é isso aí. 

Por uma questão de necessidade, mesmo, porque segurança é zero, imagino.

Brasil! Não tem jeito, não. É o que eu falo para algumas pessoas, algumas com estudos mesmo: não adianta ficar reclamando e falando que o povo está se aglomerando. O meu tio trabalha a semana inteira, entendeu? Pega um ônibus lotado e chega ao final de semana e você vai falar para ele que não pode aglomerar? Ele vai falar: “Foda-se, uma semana inteira no ônibus e agora você vai falar que eu não posso beber?” Para servir os outros, estar trabalhando, tem que estar correndo risco. Para se divertir, não pode. Então vira essa bola de neve, gigante, horrível. Que sempre é e sempre vai ser.

Na tua família, toda a gente está bem?

Sim, todo o mundo está bem. Já passou por esse vírus toda a minha casa… Eu é que estou vendo de ir para Portugal, viu? Se você for ver na Inglaterra eles já estão fazendo festas. Tudo lotado! Tenho uma amiga que foi para Portugal, trabalhar, e talvez em Julho já dê para começar a fazer algumas coisas. Se der eu vou para aí fazer show. A intenção é essa porque no Brasil não vamos fazer shows tão cedo.

Tem acontecido alguma coisa?

Às vezes, num ou outro Estado aqui, dá a doida no Prefeito e o pessoal vai lá e corre o risco, sabe? A gente faz o show e volta, faz o teste e já era. Foi o que aconteceu em Florianópolis no começo do ano. Mas até então só fiz esse e mais nada.

Entendo. De qualquer forma tens um óptimo álbum este ano, o JOVEM OG. Gostei muito, tem estado por aqui a passar em loop. Tu vinhas de um álbum e de um EP colaborativo incrível e chegamos aqui. Contas-me como foi esse processo?

Foi difícil desenvolver este projecto. Eu já vinha de dois trabalhos bem falados, consistentes e estava naquela pausa, um certo bloqueio criativo por ter feito muita coisa. E aí veio a pandemia. Bloqueio criativo total. Mas foi pegando no trampo, sabe? Demorou um ano para ser feito, eu acho. A música “Vai Pensando” tem um ano. 

E tanto a pandemia como o lance de querer fazer um álbum, não é? Porque é um álbum. É uma obra que tem que ter começo, meio e fim, alguma história, alguma coisa. Não é só fazer um single, fazer uma mixtape e falar sempre das mesmas coisas. Ou falar das mesmas coisas de forma diferente, não é? Mais delicado e demorou muito. Mas rolou e deu certo.

Acho que tivemos ambos os resultados nas pessoas: alguns deixaram-se ir mais abaixo que outros, alguns conseguiram ser mais criativos que outros. Vivemos de tudo durante este período.

Para mim foi viver um bloqueio criativo, sim. Eu ter feito este álbum, no meio do que se está a passar, para mim, foi um milagre. Não tinha muita intenção, nem vontade.

Quando é que isso começou a mudar?  

Não lembro bem, mas o JOVEM OG ele é meio que uma leitura do que está acontecendo aqui. Uma revolta, também, em relação a todo esse lance de cancelamento, selectividade no cancelamento, sobrevivência… Então, não sei quando foi mas foi no decorrer, não é? Dentro de casa ou, às vezes, na rua a tentar sobreviver para fazer as coisas, vendo muita gente assim. E vendo que a Internet estava um lugar bizarro, mano. Um monte de gente, sei lá… As pessoas querem só o pódio, às vezes, ‘tá ligado? 

Sim…

Até a pessoa que está protestando com alguma coisa você vê que, no fundo, a base da ideia dela é a elevação dela mesmo. Foi basicamente isso daí. É sobre isso. O estalo veio de tudo isso. Todo o mundo em casa, então o bagulho ficou louco! Com todo o respeito às pessoas mas, a partir do momento em que o maior pico de entretenimento e discussão e tudo é o Big Brother Brasil, eu não estou entendendo mais nada! Pelo amor de Deus. Agora não dá para reclamar com quem gosta de futebol. Porra. Pelo menos no futebol estão 22 duas pessoas correndo atrás de uma bola. Ali é um monte de gente desfilando ódio, criando intriga, reclamando e o dono do programa brincando de Deus. 

Sentes esse peso, quase geracional, das redes, e de ter que estar lá e do que provoca?

Sinto. Mas às vezes é só um desabafo, mesmo. Deixa a coisa estar lá, quem quiser que veja, e é isso. Cada um que faça o que quiser. Mas tem hora em que é inevitável parar para pensar e questionar para onde a gente vai. 

Falaste também na questão do cancelamento. Sentes que te limitas de alguma forma?

Com certeza. A gente anda com um fantasma. O fantasma do fiscal está sempre atrás. A gente tem que pensar muito no que a gente fala. Mesmo que o meu álbum tenha alguns assuntos que quase geraram cancelamentos e tal. Mas é isso, tem que chegar uma hora que você tem que dar uma segurada. Calma! Vamos debater os assuntos. Essa parada de cancelamento é muito doida, não que eu tenha propriedade para falar sobre, mas tenho pessoas próximas que foram presas. Um ficou anos preso e isso é um cancelamento de verdade. A família se afasta, a pessoa não tem oportunidade de nada, ‘tá ligado? Bagulho sério. Se meu irmão não tivesse a família dele, a gente perto para ele se regenerar, não se regeneraria. Como é que, hoje em dia, as pessoas brincam assim tão fácil de Deus na Internet? É estranho. É bizarro. Já fui uma pessoa que ajudou os outros na Internet, mas hoje em dia eu paro e penso. Independente do que está rolando, é um ser humano. E eu não quero o rótulo de quem vai pôr alguém na cruz, não. Não quero carregar esse bagulho nas costas e se eu tiver que o fazer vai ser por vontade própria. Por influência não vou carregar não. Há muita gente que faz isso por influência, mas eu não quero carregar esse karma. De estar querendo carregar algum lado que é a bola da vez. Eu sei qual é o meu lado na parada e ficou do meu lado sempre. É uma onda, né? Todo o mundo vai lá na onda. Eu não preciso não… Se eu for na onda eu vou porque eu quero, mesmo. 

Falaste lá atrás na “VAI PENSANDO”, que é uma das minhas músicas preferidas do JOVEM OG, e é engraçado o refrão “vai pensando que está bom” vir depois de uma “nunca estive tão bem”.  Mostra um pouco do percurso deste JOVEM OG

O álbum é uma história, não é? Nos clipes existe, também, uma história fictícia que é do JOVEM OG. No álbum é um pouco mais próximo e nos clipes existe mais essa ideia de ficção. O lance de ser preso, e tal. A primeira música é um sonho. A segunda música, a “MÉXICO”, já sou eu acordando para a realidade. E a terceira, “VAI PENSANDO”, é explicando que não é porque eu sou um artista, que tenho patrocínios, que tenho 100 mil seguidores, que estou milionário, que sou Jesus Cristo para vocês. Que eu tenho que ser o exemplo para vocês a toda a hora, ‘tá ligado? Eu sou um ser humano. E essa é a real do sonho: acordei, sem dinheiro, o meu amigo me colocou num trampo de uma entrega de droga e, depois disso, eu tenho que fazer show. Estou explicando que a realidade não é uma brincadeira. É isso que eu estou querendo explicar ali. No CD inteiro! É isso que eu estou querendo explicar. Que não é bem do jeito que as pessoas vêm a gente. Vamos errar, dar mancada, vamos acertar. E é difícil isso. Talvez este álbum seja até uma terapia. Tudo o que eu queria falar para um terapeuta, só que o terapeuta é todo o mundo. Ao mesmo tempo que ajuda eu também estou tentando me ajudar com ele. Acho que quase todas as minhas paradas são assim, talvez o rap tenha muito disso, tá ligado? Vem como conselho, ou parece que as pessoas pegam como conselho, mas muitas vezes é um desabafo. Acho que na maioria das vezes é isso. 



Ainda nessa música tu dizes “não sei qual é o sentido da minha arte”. Se calhar já sabes. Será que é um pouco esse, também?

“Não sei se sei até agora qual o sentido da arte. Mesmo ouvindo alguém me chamando de artista” porque a polícia está perguntando qual o significado das minhas tatuagens, que também são arte. Não adianta. Se eu tenho a arte no corpo e, para o polícia, é bagulho de ladrão, o que é que estou fazendo, então? Sou artista? Sou ladrão? O que é que eu sou? É tipo meio confuso e complexo, ao mesmo tempo. Todo o mundo sabe qual é a parada que estou falando, na verdade. Mas é sobre a confusão que isso gera na nossa cabeça.

Colocando este JOVEM OG lado a lado com o RUNNING, como os verias? Eles são diferentes, em termos de sonoridade, e devem ser em termos do lugar também onde estavas, do que querias fazer, não?

O RUNNING é mais popular. Ele carrega a identificação de muito mais pessoas. Por mais que seja muito ácido, ele é muito mais leve. O JOVEM OG  já é muito na cara, na lata, mesmo. É um pouco mais denso. Até porque fala mais sobre mim do que sobre o contexto geral. O RUNNING já engloba muita coisa. 

Como foi a incursão no grime e estas experiências com o funk através da construção do BRIME!? Como começa o teu interesse no género?

O grime foi a porta do meu interesse, mas, hoje em dia, todo o mundo quer brincar com esse lance de grime só que já evoluiu. Eu me inspiro mais no rap, no contexto geral e na música negra que é feita na Europa. Só isso. Eu prefiro essa sonoridade. Todo o mundo prefere a cultura dos EUA, é aí que vai buscar as suas referências e eu também gosto muito, mas, hoje em dia, eu sou muito mais influenciado pelo que se faz na Europa. A porta de entrada foi o grime. O lance do BRIME! foi isso aí. A gente teve a oportunidade de viajar até lá para gravar um documentário e pensamos que seria uma oportunidade para fazer alguma coisa. Mas não adiantava a gente fazer algo e, sei lá, pegar os beats, rimar nos beats e chegar lá e mostrar para eles. Tem uma fila enorme de outros países. Falei, “então a gente vai ter que meter a nossa cara na parada”. E o grime sempre teve aquele BPM, aquele ritmo da música que é feita na Inglaterra, o garage, isso lembra muito o funk. Então foi isso. Mas já existiam coisas feitas aqui. Ninguém tinha feito um álbum inteiro disso, mas eu já tinha visto em algumas faixas de cypher e tal. Eu acho que todos eles lá sabem que nós aqui no Brasil fazemos a parada do nosso jeito. Todas as matérias que saíram sobre… já deu espaço para uma cena inteira. 

E correu bem, em termos de promoção. Chegou a muitos lugares, novos. Em relação às participações, foste chamar a Tasha & Tracie, o Vulgo FK que eu não conhecia e me impressionou muito. Como chegaste até estes nomes?

Geralmente, eu penso em quem eu coloco e depois construo o álbum. Eu organizo a parada dessa forma. Bizarro, mas é isso. Eu penso em tudo antes… Às vezes eu penso no título do álbum e no nome das músicas antes. Roteirizo o clipe até antes de ter a música. É um jeito de organizar, de alguma maneira, de trazer alguma criatividade. Porque escrever é algo mais difícil. Mas eu visualizo, “isto vai se chamar tal bagulho, vou estar falando tal parada e a participação vai ser fulano”. Daí você começa a criar alguma coisa. Pensei nas participações antes, até porque tinha alguns esboços de encaixe. E a maior parte das pessoas é tudo do time. Tirando o Jean Tassy, que acabou de lançar um disco foda, também. É louco porque as vertentes do rap que a gente faz é como se fosse água e azeite. 

Completamente.

Totalmente uma parada jazz lá e eu gosto de fazer esses crossovers. E o Vulgo FK é um moleque que veio da cena do funk. Trap-funk que os moleques estão fazendo. E ele é bom para caramba! A Tasha & Tracie, para mim, são a revelação do Brasil. Na minha opinião, tem dois anos já que elas são a revelação. Falando como ouvinte, que gosta e consome rap, faz dois anos que não vejo nada que as tenha superado. 

E em termos de representação, referências. Cada vez que surgem pessoas como elas lá também é uma benção para nós, aqui. 

É! De Portugal eu já recebia mensagens das pessoas. Muitos brasileiros e muitos portugueses também. Mas agora eu recebo mensagens do pessoal de Angola, mano! Muita gente de Angola mandando mensagens. Eu escuto vários rappers daí. Tenho que fazer conexão com os caras. Uns moleques que fazem drill. Pika, por exemplo. Gosto de ouvir. Minguito! Bom. Eu tenho muita vontade de fazer essa conexão, cada vez mais. Fazer esse eixo girar. Tem muita cultura dentro desse eixo e nós temos que o fazer girar. A conexão Brasil e Portugal está cada vez maior. Tem um monte de amigos meus indo embora e construindo vida aí. Já tenho amigos que têm bar, amigo que tem restaurante, que consegue fazer uma balada. Estou quase indo embora para aí, também! Eu não quero muito, mas se for para acordar e ir trabalhar do mesmo jeito eu prefiro fazer num país que me dá dignidade. Aqui o cara não tem isso. O cara vai embora para o trabalho, demora três horas para chegar em casa num bagulho lotado para durante uma pandemia ganhar uma mixaria. Com 100 reais compra cinco itens no mercado. 

Fora outros problemas não-relacionados com a pandemia, lembro-me da falta de água, por exemplo.

Sim. Aqui no meu bairro, todos os dias, às 23 horas, a água acaba. É o que eu falo na música “ME PAGA”. Eu faço uma crítica porque todas as pessoas acham que eu estou fazendo uma diss para o cara que fez aquela rima em si. Mas é algo maior que isso. É rap. É uma crítica social à parcela de fãs que se desenvolveu a partir daquela música. A partir daquela música se desenvolveu uma parcela de fãs hipsters, que moram em outro lugar. Que vivem outra parada. Que está dentro de um apartamento regando planta e ouvindo música às 10 horas da noite. E não tem água para eu tomar banho aqui, ‘tá ligado? A pessoal tá lá na Santa Cecília e rega planta e tem boné do PT e do Movimento Sem Terra, mas aí, parça? Você atravessou a ponte quantas vezes na vida? Quanta cesta básica você deu? O que é que você fez? Além de ficar na Internet postando “direitos humanos”? As pessoas têm medo de vir aqui. Não vêm. Porque tem tudo lá. Tem a Internet para passar essa visão aí. A crítica é essa. É sobre isso. É muito louco porque a gente precisa desse público, também, eles consomem muito. 

É quem acaba por poder pagar serviços e tal. 

É… Mas é o que eu digo. Não fica me colocando num pedestal não porque eu sou pecador. Eu estou pagando os meus pecados aqui. Essa é a minha missão. E vocês aí, também, vocês gostam do nosso som, ouçam por favor. Mas se é você que está aí desse lado e está “do outro lado da ponte” vai ouvir mesmo. Às vezes nem é sobre vocês, pode ser sobre os vossos pais. Mas tem que ser dito. Se não quiser tem várias raves aí! Fica doidão, ouves uns negócios só áudio. É bom, também. Eu gosto! Por isso é que eu quero ir para a Europa! 

Espero que sim. Queremos ter-te cá. Estás orgulhoso do teu percurso? Vê-se que tens evoluído de álbum para álbum, que estás a fazer um caminho sólido.

É a escada, não é? Cada dia um degrau. É lógico, não vou falar que não vejo. Eu vejo a minha evolução. O aumento dos números, dos seguidores, de falação, de status de tudo. Só sei que a minha ascensão começou porque eu decidi voltar para o meu bairro, para os meus amigos, e ficar mais próximo da minha raiz. Parar de querer ir para os cocktails onde está todo o mundo pousando para o Instagram, que é o que todo o mundo começa a fazer para querer ser aceite, fazer parte de alguma coisa, ‘tá ligado? Quando eu fui fazer o RUNNING foi quando sentei com o CESRV, o meu produtor, e falei que, de agora em diante, eu não ia mais para Pinheiros, não ia mais para a Void, ia ficar na Vila Maria na Adega da Tia ou vou ficar na Favela Marconi. Se vocês quiserem beber comigo, vocês colam lá. Então eu vejo tudo, sou grato mas também sei que tanto faz. Eu estou aqui. O que é mais da hora para mim, hoje em dia, de verdade mesmo, é que no meu bairro as pessoas me reconhecem. Desde o polícia até ao mano do crime e a tia do mercado, o moleque que ouve rap ou o tiozão que quer tirar uma foto para mostrar para filha. É como o Djonga falou: “Você só vai ser grande quando você for grande na sua rua”. Então eu vejo, sim, e sou grato a tudo. Mas é bem natural, eu não tenho noção das coisas. Não tenho bem noção de quantas pessoas eu ajudo ou deixo de ajudar. Quantas pessoas me amam ou quantas pessoas me odeiam. Porque eu prefiro [estar] aqui, vivendo o meu quotidiano de sempre. Com os meus camaradas, a família, bebendo na porta de casa ouvindo um samba e é isso aí. Buscar a nossa naturalidade sempre. Se tem uma coisa que eu peço todos os dias antes de ir dormir é que esse bagulho não suba à minha cabeça. E que não entre na zona de conforto. Sempre esteja disposto a apostar em coisas novas. É porque eu escuto música, não é?

O que é que tu ouves? O que é que tens ouvido agora?

Estou ouvindo uns caras de Madrid. Estou pirando! Aquele que fez o Tiny Desk, C. Tangana! Morad… E escuto bastantes coisas de Londres. Deixo rolar o dia inteiro. Pa Salieu. Ia cantar aí em Portugal mas foi cancelado. Queria muito ter ido… Estou achando isso bem louco, essa música cigana. Mas isso é em modo pesquisa, né? Em horário de lazer eu só escuto rap dos anos 2000. 50 Cent, Nipsey Hussle. Esses caras, Freddie Gibbs ou Vince Staples são caras com quem eu me identifico em tudo. Não são super gigantes na cena mas têm a sua relevância. São os rappers favoritos dos seus…

Rappers favoritos? [Risos]

Isso! [Risos] Tipo Don L. Don L é muito louco, ser amigo dele ia ser da hora. Nós sempre tivemos uma boa relação, não somos amigos, mas sempre que nos encontramos é uma coisa sadia e é isso aí. O rapper favorito dos seus rappers favoritos. 

Quem sabe, um dia, colaborem?

Esses são o tipo de artistas que só deles estarem aí a fazer coisas, já vale muito. Independente de nos encontrarmos musicalmente, ou não, a existência dele já torna o sentimento o mesmo. 

É isso mesmo. Bem, não te vou perguntar “Porquê Febem?” [Risos], acho que muita gente já te perguntou isto, mas “Porquê JOVEM OG”?

Graças a Deus! [Risos] Obrigado! Do JOVEM OG posso falar: ele não é só inspirado em mim. Ele é inspirado em todos os jovens que estão aí, caras que tiveram que virar adultos antes de tudo. Às vezes a pessoa tem um conflito com alguém assim e chama de moleque, mas nem sabe o que foi a infância da pessoa. Ela não sabe se é adulto ou se é criança porque ela viveu tudo misturado. É o cara que tem que aprender a fazer coisas que não tinha que aprender. Saber coisas que ele não tinha que saber. Antes do tempo. É sobre isso. 


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