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Fotografia: Margarida Ribeiro
Publicado a: 19/08/2020

Uma refeição completa.

Fatspoon: “Esforçamo-nos para que a nossa música seja direccionada para a mente e ancas dos ouvintes”

Fotografia: Margarida Ribeiro
Publicado a: 19/08/2020

Apanhámos os Fatspoon no rescaldo de um concerto no Mel :: Piquenique das Artes, em Famalicão, no dia 13 de Agosto. O palco exterior, à imagem de um festival de Verão, com sete músicos a tocar, afirma-o como um evento raro por estes dias. “Sentimos que as pessoas tinham saudades de ouvir música ao vivo, bem como nós próprios”, confessam-nos. E se bem que as saudades justificam parte da dança vivida no Parque da Devesa, o resto é mérito da música.

A mistura de funk, jazz, rock, hip hop e mais que nos servem foi lançada numa edição de autor, o seu álbum de estreia que, para já, só pode ser ouvido através da encomenda da versão física por mensagem privada. Mushgrooves concentra toda a musicalidade, energia e interesse do seu som com uma produção fantástica, servindo de mote para esta entrevista com a banda do Porto.



Com Mushgrooves, vocês pretendem oferecer uma “refeição equilibrada, fresca e variada”. De onde surgiu a ideia de misturar jazz instrumental com comida?  

O nome original da banda era Fapoon, que já nos remetia para a culinária.  Depois do nosso primeiro concerto, um amigo nosso disse-nos que achava que o nome deveria ser Fatspoon, baseado na imagem de uma colher gorda a mexer uma panela cheia de sopa. A partir daí, fizemos questão de dar nomes alusivos a comida a cada uma das músicas. Tal como uma boa dieta ou refeição, o nosso álbum combina vários ingredientes e sabores de toda a música que ouvimos.  

Musicalmente falando, o que distingue as “entradas” (“James Jamon”) dos “pratos  principais” (“Mushgrooves”, “Funky Seaweed”) e das “sobremesas” (“Scone Fields”, “Space  Bagel”, “Biscuits” e “Disco Sheet”)?  

Como entrada para esta refeição musical escolhemos a “James Jamon”. O nome deste prato provém do alucinante James Brown, por ser uma malha mais rápida com acentos em contratempos. Os pratos principais são para degustar, devido aos grooves e tempos moderados, variedade de solos e algumas texturas sonoras e elementos que introduzimos em pós-produção, como as palmas e o triângulo na “Mushgrooves” ou a melodia cantada no final da “Funky Seaweed”. Quanto às sobremesas, temos várias categorias. A “Scone Fields” traz uma composição mais extensa com várias partes, e o nome vem de uma grande referência para nós, o John Scofield. A “Space Bagel” tem um jeito de mantra, procurando levar o ouvinte a um estado de transe com o seu padrão de 14 tempos. A “Biscuits” é um doce dançável inspirado na música electrónica, com uma intro que lembra o rock progressivo britânico dos anos 70, e a “Disco Sheet” é uma mistura de música disco, funk e hip hop.  

Na versão ao vivo da “Disco Sheet”, a boa disposição do público parece fazer parte da performance. Como é a vossa relação com a plateia?

Para nós, o público é sempre parte integrante da performance. Se as pessoas estão bem dispostas e se soltarem ao som da música, essa energia sente-se em palco e cria um feedback loop com a banda, elevando assim toda a sala a um next level de consciência. Em relação à nossa música, esforçamo-nos para que seja direccionada para a mente e para as ancas dos ouvintes, ou seja, que os leve numa boa viagem de sensações ao mesmo tempo que os ponha a dançar.

A versão física de Mushgrooves vem com um token especial. Querem-nos falar sobre a edição?

Mushgrooves é o nosso disco de estreia, baptizado com o nome do nosso primeiro single. Foi algo muito especial para nós, com muito DIY à mistura e colaboração de amigos e artistas que admiramos. A capa foi desenhada pelo artista mexicano Güerogüero, e o design da contracapa, do CD e do token ficou a cargo do nosso amigo João Miro, em colaboração com a FabLab Porto. As cópias em formato físico acabaram de chegar e estamos neste momento a iniciar a sua distribuição.

Estamos muito gratos com as dezenas de pessoas que fizeram a pré-reserva do CD, pois contribuiu para que conseguíssemos lançar o disco de forma independente. Para brindar este grupo restrito fizemos um token de apreciação, construído à imagem do nosso CD, que vai ser oferecido juntamente com o mesmo. As pessoas que tiverem o token podem esperar surpresas para o futuro.

Antes do álbum, lançaram duas live sessions no estúdio Master Tape. A par do áudio, o vídeo é tratado com cuidado, e tanto o cenário, os figurinos e a vossa postura parecem ser parte essencial do projecto. Porque não lançaram o álbum neste formato?

Por motivos logísticos, até porque a ideia de lançar música acompanhada de vídeo agrada-nos. É sempre interessante ver a performance dos músicos, de forma que queremos apostar no formato live session sempre que consigamos. Achamos que potencia a nossa forma de criar música, com muito recurso à improvisação e à interacção entre os músicos. Hoje, as pessoas partilham mais do seu dia-a-dia com o público e os músicos não escapam à tendência, existindo uma maior exposição do que que acontece em estúdio, salas de ensaios, backstage ou em viagens.

Iniciativas como a de Jazzego pretendem dar espaço a um “novo jazz”, modernizado, que vive da convivência com outros géneros, como a electrónica ou o hip hop. Tive uma sensação semelhante a ouvir a vossa música, mas não me ocorrem projectos portugueses que representem assumidamente esta mistura de estilos. Identificam- se com a necessidade de dar voz a este som?

Estamos por dentro do trabalho que a Jazzego está a fazer e identificamo-nos imenso com este tipo de iniciativas. Inclusive o nosso percussionista, Manu Idhra, gravou no  primeiro disco lançado pela Jazzego, a revisão do Sérgio Alves (AZAR) do Bitches Brew, e conhecemos o trabalho de todos os músicos que entraram no álbum. A cena musical neo-jazzística portuense é um meio pequeno, o que acaba por aproximar os músicos e o seu processo criativo.

Identificamos uma enorme necessidade de dar voz, palcos, e projecção a este tipo de bandas, que tocam jazz e o fundem com outras estéticas, e há artistas nacionais que o fazem muito bem, como os Orelha Negra, Groove Quartet, Bruno Pernadas, João Barradas, Mané Fernandes, Eduardo Cardinho, João Mortágua, Triciclo Vivo ou Mazarin, só para nomear alguns. O “novo jazz” português está de boa saúde e recomenda-se!


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