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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/10/2020

Às armas.

Fancy Weapons: “Uma pessoa nunca é totalmente adulta a não ser que o decida ser”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/10/2020

O novo alter-ego de Paulo Zé Pimenta (PZ) faz dos sintetizadores as suas armas para compor “viagens espaciais”. Estes instrumentais, em produção há vários anos, foram publicados agora, libertando a sua mistura de estilos e referências electrónicas.

Editado pela Meifumado, selo gerido por Paulo e o irmão, Zé Nando Pimenta, Ringatoinus Amen foca-se nas suas “avarias puramente instrumentais”, deixando a voz de lado. É o primeiro registo de vários, assim como um meio para se realizarem live sets nas redes sociais enquanto não conseguirmos ver o músico ao vivo.



Disseste numa entrevista que os teus primeiros projectos, PPelectro e os instrumentais de Anticorpos, surgiram da tua brincadeira com instrumentos e DAWs, como o FL Studio. Regressas à infância e adolescência quando compões para Fancy Weapons?

Em parte nunca saí. Quero continuar a surpreender-me, e a música é um dos meus principais meios para isso. Acredito que as pessoas tendem a procurar essa surpresa ainda que não tenham consciência disso. É óbvio que estou mais maduro agora do que quando editei o Anticorpos, mas tento manter-me consciente de que há sempre momentos para crescer e de que uma pessoa nunca é totalmente adulta a não ser que o decida ser. Portanto, inevitavelmente mas também conscientemente, procuro regressar a estas memórias. Eu vou fazer música até morrer, e acho que vai ser uma permanente reciclagem do que fui vivendo até agora.

Sempre que te ouço, tanto em PZ como agora em Fancy Weapons, sinto que a tua infância se expressa no som, através de referências, dos timbres que escolhes, dos ambientes sonoros…

Isso parte de uma escolha minha. No caso de Fancy Weapons, queria um ambiente espacial, que vive da minha ligação com a ficção científica e cultura gaming, universos a que me sinto muito ligado. Eu tive a infância dos anos 80, com desenhos animados, Spectrum, Sega Mega Drive e bonecos do Star Wars. Já nessa altura decorava as músicas do genéricos. Penso que foi essa a minha iniciação musical.

Para além disso, eu gosto muito de brincar com instrumentos, é exactamente aquilo que quero fazer. Eu gosto mais da expressão “play music” do que “tocar música”, porque play é brincar. Eu brinco com sons e exploro novas formas de os criar como uma criança brinca e constrói com legos. Em Fancy Weapons, não brinco com a voz porque a mensagem está na estética do projecto. Contudo, este acto de brincar é essencial no projecto, e expressa-se tanto nos álbuns como no formato ao vivo.

Por serem ambos electrónicos e viverem dessa brincadeira, ”Ringatoinus Amen” relaciona-se de alguma forma com o teu projecto de electrónica pré-PZ, PPlectro?

Sim, porque há músicas que compus na altura de PPlectro que transitaram para este projecto. Ambos vivem da electrónica, mas ao contrário de PPlectro, onde só produzi com o Fruity Loops, em Fancy Weapons também compus músicas com sintetizadores. Neste álbum em específico utilizei somente o FL, mas em futuros lançamentos utilizarei outros instrumentos.

Quando ouvi a “Bugaloo Boing” imaginei automaticamente a tua voz por cima do instrumental. Essas pontes serão possíveis?

Não, neste projecto quero-me desligar da voz. Quero viajar nos instrumentais e tecer peças electrónicas do início ao fim. Não penso em falar ou cantar, as peças são viagens espaciais contidas e para serem imaginadas sem o ruído da voz.

Em sequência? Tu pensaste em álbuns que vêm a seguir neste projecto, numa identidade que se divide entre vários lançamentos.

São mostras diferentes que reflectem fases diferentes do projecto. Quero fazer lives com as máquinas no Facebook e no Instagram, com os meus sintetizadores ou beats, e não ter presença nas redes sociais somente para publicar música e entrevistas.

Por isso, o próprio projecto e os seus canais são diferentes de PZ. É virado para as máquinas e não tanto pensando na cena pop para a qual o PZ me remete. Tenciono também em me apresentar ao vivo. Não sei ao certo com que formato, mas vai ter que fazer uso dos meus sintetizadores. Será uma mistura de hardware e software.

Falando de vídeos, essa parte é integral na identidade de PZ…

Tornou-se integral.

Diria que eras um artista audiovisual.

Foi a minha formação, sim, mas eu faço a música sem pensar no vídeo. Este surge porque sinto a necessidade de acrescentar algo [à música]. Tornou-se num destaque natural mas não foi pensado. Foi um efeito secundário que entretanto se assumiu no projecto. Para Fancy Weapons, não estou a pensar fazer videoclipes neste momento.

Imagino videoclipes bastante diferentes do que ofereces em PZ, animações ou experiências visuais.

Se calhar. Aliás, para PPelectro cheguei a fazer umas animações, a par do website, onde eu desconstruía a música com uns robôs que dançavam ao som das diferentes partes. Poderão surgir vídeos assim em Fancy Weapons, mas não penso nisso para já.

Sinto que o foco do projecto é ser uma caixa de areia para ti, um espaço de criação divertido e descomprometido.

Foi mais o abrir uma gaveta. Eu tinha comigo muitas peças instrumentais e decidi dar-lhes um nome e um propósito. Para já veio este álbum, e não sei o que daqui virá.

Escreve-se no copy que acompanha o lançamento do álbum que “Fancy Weapons (…) vai lidar com (…) experiências instrumentais que testam os limites da música electrónica”. Como assim?

É isso que eu estou a fazer no álbum. Tanto aqui como em PZ não quero fazer uma música fácil de ouvir, standard ou perfeitamente enquadrada num género. Quero ter uma identidade própria e, lá está, testar os seus limites. No caso de Fancy Weapons, o género é a electrónica. Abordo-a à minha maneira e tento dar sensações diferentes do que será expectável com música electrónica mais standard.


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