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Texto: ReB Team
Fotografia: Joana Sousa
Publicado a: 17/05/2023

Ludicamente punk.

Faixa-a-faixa: WHERE’S THE GROUND? dos Unsafe Space Garden explicado pelos próprios

Texto: ReB Team
Fotografia: Joana Sousa
Publicado a: 17/05/2023

Saiu hoje WHERE’S THE GROUND?, quarto disco dos Unsafe Space Garden, que contempla 11 novas canções por parte do conjunto de Guimarães e é apresentado ao vivo já amanhã, dia 18 de Maio, no Maus Hábitos, passando de seguida pelos palcos do GrETUA (dia 19) e Musicbox (dia 20).

Depois de terem editado os primeiros dois registos no formato de longa-duração em plena pandemia, a banda reune agora melhores condições para promover um novo trabalho sem todo aquele clima de insegurança e escassez de oporunidades que reinou ao longo de 2020 e 2021. É, por isso, caso para que Alexandra Saldanha, Nuno Duarte, Filipe Louro, Diogo Costa, José Vale e Pedro Vasconcelos (aka Cat Kin Cool) surjam de redobrado sorriso nos rostos, algo que se nota logo pela música que apresentam no sucessor de Bro, You Got Something In Your Eye – A Guided Meditation.

Da atitude satírica e não-conformista de Frank Zappa à série animada da Disney Recreio enquanto fontes de inspiração, o sexteto vimaranense apresentou a sua nova fornada de composições à Lusa como um “caos divertido”, uma espécie de processo transcendental que lhes permite observar o que se passa ao redor de forma leve e irónica: “Este disco explora muito isso. O mundo está um caos, existir é caótico, muito assustador e estranho, [é] estar sempre em confronto com coisas que nos assustam. [Quisemos] trazer essa inocência de criança, de olhar para tudo com entusiasmo,” concluem nessa mesma conversa.

WHERE’S THE GROUND? nasce de uma edição conjunta entre a gig.ROCKS! e a Discos de Platão e está agora ao alcance de todos através das plataformas de streaming. A versão física está também neste momento à venda e consiste num combo de CD + banda desenhada — a capa é da autoria de Elleonor, enquanto que o “cosmic book” reune ilustrações da própria Alexandra Saldanha, ela que é co-autora de todos os temas do álbum juntamente com Nuno Duarte.

Desafiados pelo Rimas e Batidas, os Unsafe Space Garden rubricam por aqui uma espécie de guia oficial que vai ajudar na navegação por entre este passeio ludicamente punk de 11 faixas.


[GROUNDBREAKING!]

Imaginem que são de uma espécie consciente, que habita um planeta redondo a flutuar num sistema solar com mais planetas flutuantes, numa galáxia onde caberiam milhões de triliões de gaziliões de trampolins, num Universo possivelmente infinito com quem sabe quantas galáxias. Mas a capacidade de percepção dessa espécie está maioritariamente confinada ao seu próprio planeta, e por norma confinada a cada um de si. O chão é um termo vago que se refere ao sitio onde se pousam os pés, ignoramos que o Universo não tem cima nem baixo. E de repente esse chão parte. HOLY SHIT! Partindo o chão parte-se tudo aquilo que consideramos certezas e resta apenas uma só coisa: WE’RE ALIVE!


[ISN’T THIS IDEAL?]

Todos os seres deste planeta estão à mercê do tempo, e quando ele passa, crescem! Chegados à idade adulta, são forçados a levar tudo tão a sério que questionar a importância de certas coisas é insultuoso! O planeta adulto está envolto de conflito e tensão. Mas alguns dos habitantes começam a questionar esta seriedade: querem preservar o espanto que tinham por tudo à sua volta como quando eram crianças. Querem olhar para tudo com entusiasmo, com alegria, sem se identificarem demasiado com nada porque a identificação é um crime que se comete contra a própria premissa de raíz do estar vivo: vimos sem nada e vamos sem nada. A única coisa que permanece é mais vida. Identificarmo-nos é como que pesos que usamos para nos mantermos firmes num chão que independentemente de nós insiste em sair-nos dos pés. Num mundo em que sabemos vestir e despir identidades, o conflito dissipa-se com facilidade. Oh, que idílico!


[GROWN-UPS!]

Os seres carregam identidades como pesos e disparam palavras que reduzem a vida a ideias! A adultidade espalha-se rapidamente. Rebenta um conflito à escala do sistema solar. Os adultos são a favor da segurança (SAI DO BALOIÇO QUE VAIS CAIR!) e da guerra (POWPOWPOW A MINHA IDEIA É MAIS VÁLIDA QUE A TUA!) ao mesmo tempo! 


[WHERE’S THE GROUND?]

Faz-se um zoom in neste planeta. Um terráqueo de tranças no cabelo e cara pintada de vermelho é encontrado num parque abandonado, sentado num baloiço, com uma guitarra acústica. Canta uma cantiga de reminiscência da existência na terra antes dos ADULTOS, antes de abrir atividade na Segurança Social, e ter responsabilidades e capacidade de analisar os seus progenitores. 


[TREMENDOUS COMPREHENSION!]

Os adultos recrutam novos membros todos os dias, espalha-se uma nova epidemia: a incompreensão. Um super grupo de terráqueos cria a resistência, pintam a cara e dançam, e lutam pela TREMENDA COMPREENSÃO entre todos os habitantes no planeta. Apelam à destruição momentânea de tudo aquilo que achamos ser, para conseguirmos albergar o outro e compreendê-lo o suficiente, possibilitando uma coexistência pacífica no planeta!


[TRÁGICA ADMISSÃO DA FALSIADADE!]

O grupo de terráqueos encontra muitos obstáculos na luta pela compreensão, e exploram o caminho da admissão da falsidade. A promessa de cada um de nós de que tentaremos sempre o nosso melhor, a admissão de que o que há de mais humano é o errar, revoluciona a percepção dos seres que abraçam a TRÁGICA ADMISSÃO, tornando-os mais capazes da compaixão pelos seres à sua volta!


[DONDE ESTA EL SUELO?]

O grupo da resistência embarca numa viagem em busca do chão, e na sua nave o GPS está avariado, diz que a melhor maneira de chegar ao destino é indo. E nessa viagem para dentro abanam o esqueleto porque dançar e cantar é a melhor cura contra a ADULTIDADE. 


[PUM PUM PUM PUM TA TA!]

Uma das consequências da adultidade que ameaça destruir este planeta é a incapacidade de processar E aceitar e compreender as emoções. As crianças são ciclicamente ensinadas a suprimir raiva e tristeza e êxtase e alegria e efusão, e em adultos promove-se a dormência. Os adultos convencem-se uns aos outros de que as emoções são algo de indecente e embaraçoso, mas o grupo da resistência avança sem medo, e agrega mais membros diariamente! Aos poucos, mais seres acordam para a possibilidade de que as emoções cumprem um propósito e não são necessariamente aliáveis a algo factual, mas que para serem desenriçadas, devem ver a luz do dia! 


[WAVE OF COMPASSION!]

Em qualquer batalha por algo que valha a pena há um momento em que se questiona se vale sequer a pena. Mas a compaixão não é uma causa, é a expressão de tudo o que existe, e a única forma de garantir a continuidade desta espécie neste planeta. 


[HOW BEAUTIFUL LIFE IS!]

Neste planeta os oceanos tendem a subir às escondidas para o oposto do chão e depois caem em pequenas gotas. Os oceanos são tomados pela onda de compaixão e relembram muitos adultos de que a vida no planeta está para além da seriedade dos adultos, para além da renda e da inflação e do resultado do derby e do que o vizinho disse e o colega fez. A chuva cai e relembra os humanos do quão bela a vida é. 


[WE ALL HURT ONE ANOTHER!]

A resistência vence!!!!! A conclusão planetária a que se chega é de que vivermos em conjunto implica erros e falhas e algum conflito, mas através da compreensão e da compaixão e da ALEGRIA os conflitos decrescem em 7 mil milhões de porcentos! É inevitável que nos magoemos uns aos outros, porque só conseguimos viver em nós mesmos, no entanto a compaixão permite que nos transformemos nos outros por momentos, que sejamos capazes de abraçar qualquer pessoa! E o humano mais ranhoso do planeta é sempre consequência do ser humano! Deixam de haver seres ranhosos! O planeta celebra e acabam com o IVA e toda a gente dedica o tempo livre a dançar e cantar e conviver! O mundo passa a ser um abraço gigante! HURRAY! Cantemos juntos: WE ALL HURT ONE ANOTHER!

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