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Texto: ReB Team
Fotografia: piētÁ
Publicado a: 16/09/2021

À procura do feeling de outros tempos.

Faixa-a-faixa: Tranquitape da Tranquilow explicada pela equipa e pelos artistas

Texto: ReB Team
Fotografia: piētÁ
Publicado a: 16/09/2021

A Tranquitape nasceu de uma vontade da equipa da Tranquilow em divulgar novos artistas nacionais no espectro do hip hop. No início de 2020, quando se deu a primeira quarentena, o Afonso Ventura (CEO da Tranquilow) entrou em contacto comigo para se fazer algo diferente e original para divulgar novos artistas, que não passasse apenas por um simples post no Instagram.

Como a página recebia várias mensagens de newcomers a pedirem para se partilhar o seu trabalho, sentia que havia essa necessidade. Dei-lhe esta ideia, reunimos para alinhar alguns pormenores e assim nasceu esta iniciativa. Passava por, semanalmente, divulgar um artista (quatro por mês), entre todos os que recebíamos por e-mail (foram mais de 200), e no final de cada mês os nossos seguidores decidiam qual o artista que iria fazer parte da tape, num sistema de votação: a primeira escolha contra a segunda, e a terceira contra a quarta; o vencedor de cada meia-final voltava a ir a votos para se decidir o escolhido desse mês para entrar na compilação.

Assim, o plano era fazer um ano para chegarmos às 12 faixas finais (que acabaram por ser 13 — a faixa bónus foi a escolha da nossa equipa, de todas as 48 que foram selecionadas por nós ao longo das semanas). Depois, meti a minha veia de coleccionar de rap português à mistura e sugeri a edição física. E assim nasceu a Tranquitape, na qual eu tenho esperança que seja a nova compilação de rap tuga que honre outras compilações como a Hip Hop Nation ou a Hip-Hop Series.

– Miguel Varela (Tranquilow)



[Rodo] “Quarentena”

“Como o próprio nome indica, este som foi feito durante o período em que estivemos enclausurados, entre quatro paredes… 

Fechei-me no meu quarto e peguei neste beat, que já tinha guardado há bastante tempo. Sabia que o iria usar, só não sabia quando. Este instrumental, desde o primeiro dia que o ouvi, senti uma energia quase transcendente, sempre soube que o usaria para escrever num momento de tensão. Traz aquela sensação de alarme, de um ambiente dramático.

Escrevi em dois dias, gravei no dia seguinte, na GoBigStudio, com o Pack, e durante o processo de mix e master, comecei a trabalhar no clip com o Pedro Moscovo. Passada uma semana, foi carregado no nosso canal ‘5DM’. 

Quanto ao conceito da música, quando pensei em como queria abordar este tema, tinha a intenção de trazer ao ouvinte um som que despertasse a consciência, mas que ao mesmo tempo servisse como uma motivação. É importante lutarmos por nós próprios, mas nunca devemos esquecer que o mundo é carregado coletivamente, e a falha de um afeta o próximo. Por vezes temos de ver além do nosso próprio horizonte e praticar o bem comum. Tempos difíceis requerem sacrifícios, e grandes sacrifícios levam-nos ao nível seguinte…

‘O mundo é um todo, lembra que não estás a sós’.”



[KrazyDread] “Johnny Blaze”

‘Johnny Blaze’ surgiu num dia em que estava a sair do meu curso e tinha na cabeça o som do Method Man com o Busta Rhymes, ‘What’s Happenin”, e cheguei a casa e comecei a procurar uns beats do estilo Wu-Tang. O processo de escrita foi muito rápido, senão uma das faixas mais rápidas que fiz em termos de escrita, gravação, mix e master.

Nesse dia estava à conversa com a minha crew FlashRap, e estávamos a falar por mensagens de voz no nosso grupo do Messenger. Então, aproveitei e tirei duas/três falas das nossas conversas para o final da faixa, para dar mais power à mesma. Acima de tudo é uma celebração e um momento de festa, daqueles em que estás em cima do palco e apetece-te puxar mais carroça no microfone. Uma homenagem ao Method Man, e um estilo de rap que encaixa totalmente na minha voz e no meu modo de estar no dia-a-dia.”



[Benito] “23/23”

“A faixa ’23/23′ é nua e crua, sem muitos trocadilhos e de fácil compreensão. O refrão é das partes cruciais, sendo ‘a direcção ao pôr-do-sol’ o caminho do positivismo e boas energias que outrora não eram a realidade. Sempre relacionado com a amizade e de como ‘bons’ há cada vez menos. Estas são as mensagens principais da faixa. O beat foi escolhido pela calma e ‘boa vibe‘ que me traz, a faixa ficou como tinha idealizado e fiquei extremamente contente com o resultado final.”



[AËM] “Lume Brando”

“‘Lume Brando’ é uma faixa que representa, e de certa forma justifica, as duas faces que caracterizam o meu trabalho enquanto artista: uma delas são as dificuldades que fui ultrapassando em toda a minha vida, onde os meus objetivos nunca foram levados a cabo a ‘velocidade máxima’ devido a peripécias que a vida nos impõe, mas ao mesmo tempo nunca deixaram de ser cumpridos, ainda que cada música e cada projeto pessoal seja feito em ‘Lume Brando’, para que seja possível conseguir conciliar o tempo com toda a vida há para viver. 

A característica da música mostra também algo bastante retratado nas demais faixas que fomos produzindo durante este tempo, que é a eterna espera por uma suposta alma gémea que, no final de tudo, não passa de uma mentira sobrevalorizada e cozinhada, também ela, em ‘Lume Brando’. A produção explosiva de Dumas (que é também o produtor de todo o EP Horas Vagas, que está para sair) é capaz de trazer o AËM mais agressivo que há em mim, procurando um estilo que varia entre o melódico, noutras faixas, e o rap mais bruto, influenciado pelas correntes mais heavy vindas de Brooklyn.”



[MadMarcus] “Inércia”

“Um tema que acaba por ter um cunho um bocado mais sério e até motivador. A criação da faixa foi bastante genuína e natural: um dia à conversa com a AMAURA (artista com quem me dou muito bem e costumo trabalhar) tocou-se no assunto de algumas vezes as pessoas estarem presas no mesmo lugar por muito tempo — o que era o meu caso na altura, foi uma fase que passei da inércia para ação. ‘Inércia’ significa ausência de movimento, e durante a conversa a AMAURA diz-me “Inércia é um GPS partido”, e foi um clique instantâneo. Já tinha uma pasta com beats do meu go to producer Mil1, e foi só juntar as peças, letra, beat, mensagem. A intenção desta música é motivar o ouvinte a sair da inércia, correr atrás dos seus objetivos pessoais, tal como eu faço dentro da música.”



[Tsuki] “Luz”

“Este som representa o single de lançamento da Tsuki, no qual dei a conhecer ao mundo a artista que há em mim e a garra que tenho para fazer mais nesta área. Tem um peso importante na minha vida e fez-me sentido ser o som de lançamento, pois foi uma letra que tive a honra de compor com um amigo já falecido, na qual falamos de uma promessa que cada pessoa tem de fazer consigo — no meu caso é a promessa de seguir na música. É também neste som que dou a conhecer o meu nome artístico e o porquê do mesmo, bem como a linha que quero seguir e a mensagem que quero passar. Com beat do sylvester e produção do Gui Pontes, tornou-se possível lançar o som. 

Psicologia é a minha outra grande paixão, área na qual já estou a terminar o percurso académico, idealizando no futuro juntá-la ao hip hop. O hip hop é a minha terapia e o que dá estabilidade à minha saúde mental, e acredito que não sou a única assim. Falo tudo o que sinto e sinto tudo o que escrevo. Fico muito grata por o ‘Luz’ ter chegado à Tranquitape e aproveito para dar mega props a esta iniciativa e à Tranquilow. É importante dar a mão a quem está a começar. O hip hop sempre seguiu essa filosofia, e a psicologia não varia muito nessa base. Convido-vos a ouvir o som, e quanto às restantes explicações prefiro que as sintam. Muito obrigada.”



[Big S] “O Adeus Foi Breve”

“Num mundo conflituoso e reticente, ‘O Adeus Foi Breve’ retrata a história de uma ligação espontânea, embora efémera, onde o artista se vê dividido entre o seu amor e a musa. Onde, através das suas recordações, procura reacender  a imagem dum futuro improvável. E reviver, por um momento nostálgico, o que deixou partir. Antagonizado pelo que o rodeia, sabe que o amor simboliza uma esperança, ou até mesmo um sonho que evita a sua atual realidade. Da mesma forma que o declara e visiona, procura demonstrar que ambas as direções vão em rumos opostos, por decisões previamente tomadas. Incentiva, assim, a exigir de cada um o seu próprio caminho, na esperança maior de saber o que o futuro traz.”



[NastyBee Collective] “Wasabi”

“‘Wasabi’ é um dos temperos mais característicos da cozinha japonesa e é conhecido pelo seu forte grau de ardência. É basicamente visto como uma pasta picante que não é fácil de ingerir, principalmente para pessoas que a consomem pela primeira vez. A sonoridade que transmitimos nesta faixa é essa mesma, uma música forte, que arde, e que não é facilmente digerida na primeira toma. Mas no fim, o wasabi acaba sempre por ser servido à mesa.”



[Kitos] “Ganha Noção”

“O tema ‘Ganha Noção’ é uma egotrip onde falo um pouco sobre aquilo que não gosto que aconteça quer no rap, como no meu dia-a-dia, e tento explicar de que forma é que eu considero que estou a fazer as cenas de maneira diferente. E argumento sobre isso durante o som todo de forma a mostrar que estou a remar para o lado certo, e que quem diz que não estou, é porque não tem noção!”



[Primo] “Hubble”

“‘Hubble’ é o penúltimo som de uma compilação que fiz recentemente, e para fechar o livro decidi fazer uma música onde me libertasse mais a nível de ideias e escrita, ser um pouco mais criativo com o flow e brincar um bocado com tudo isso. O som, essencialmente o refrão, é uma crítica ao movimento e ao momento do hip hop visto da minha perspectiva.”



[Vlad] “GOD”

“‘GOD’ é uma música pesada, diferente do que se está a ouvir neste momento em Portugal, em que eu tento ir buscar vários duplos sentidos e várias métricas que contêm egotrip e punchlines que, de certa forma, demonstram o que sinto. Depois, queria também agradecer ao NetuH, porque eu sei que, se ele não me tivesse ajudado como me tem ajudado, nada do que já consegui, de certa forma, alcançar seria possível. Mal conheci o NetuH, tivemos logo grande química porque ambos gostamos de sonoridade dark — ele no beat e eu na letra. Daí o nome ‘GOD’ (numa forma de egotrip), dizendo que, se eu e o NetuH fôssemos um só, era ‘GOD’.”



[Calha] “Assinatura”

“‘Assinatura’ é o single de estreia do EP Egotr¡p. Como o nome indica, foi assim que assinei oficialmente o início do meu percurso musical e me apresentei a público como artista, querendo deixar notória a ‘fome’ de microfone com que entro no game. Esta faixa, apesar de não ter sido das primeiras concebidas para o projeto, enquadra-se perfeitamente no tema do mesmo, estando presente um discurso reflectivo e crítico do panorama musical. A música é a primeira impressão que quis dar do projeto devido ao seu discurso ser tão explícito e direto (não havendo espaço na faixa para sub-entendimentos), mas também por exprimir as minhas ideias sem filtros. Resumidamente, ‘sem papas na língua’.”



[Vácuo] “Estilo 90’s”

“Basicamente é uma ode aos anos 90, onde a sensação de viagem temporal é transmitida pelos vários ramos artísticos, desde a música, cinema, cultura portuguesa, etc. E isso nota-se nas inúmeras referências que faço. Eu sou dos 90s e vivo os 90s todos os dias, principalmente no estilo musical que represento.”

‘Style é Pulp Fiction, Vácuo Vince Vega’.”

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