Numa travessia íntima, feita sem mapa nem bússola, Matheus Paraizo estreia-se com um disco que soa ao folhear de páginas de um diário secreto, escrito entre a correria pelas ruas de Lisboa e os intervalos que foi tendo no meio dos vários afazeres que pautam os seus dias.
Na vdd, é uma celebração da imperfeição. Paraizo não se preocupa em maquilhar as suas emoções. Antes pelo contrário, expõe-nas através de um exercício de verdade quase violento pela sua honestidade. Há uma beleza desalinhada nas suas letras, como quem pinta um quadro com as mãos sujas de vida.
Neste álbum, Matheus Paraizo fez-se rodear de vários criativos que o ajudaram a alcançar este seu melancólico — mas colorido — R&B, com nomes como Kidonov, Luar, NED FLANGER ou Miguele a destacarem-se por entre a ficha técnica.
Num comunicado enviado à nossa publicação, o artista faz um retrato do seu estado mental aquando a concepção deste seu primeiro grande trabalho:
“Depois de anos a tentar construir-me como artista e pessoa, constantemente frustrado por não cumprir o que o propunha para mim mesmo, entendi que o que me faltava para crescer era verdade. Para uma melhoria, seja interior ou do nosso contexto, é necessário sermos violentamente verdadeiros connosco e com os outros. Perfeccionista como sou, tinha uma repulsa enorme de o fazer porque, embora perfeitamente humano, estava longe de bonito, polido e coeso. Tinha pré-concepções do que achava de mim, do mundo e das pessoas à minha volta que, Na vdd, revelaram-se muito mais complexas.”
Agora com os 12 temas todos disponíveis nas plataformas de streaming, o cantautor luso-brasileiro faz um resumo de cada um deles ao Rimas e Batidas, que podem ler já de seguida.
[“Messy/imaturo”]
Escrevi-a quando estava extremamente inquieto e instável, a apontar o dedo para todas as direções, à procura de solução. Tive de levar com um choque de realidade que me fez aperceber que, na vdd, o problema seja eu.
[“Gerir teu ego”]
Esta música é o meu desabafo sobre como, sim, o problema posso ser eu. Mas talvez não desta vez. Foi o meu apelo de tentar chamar a pessoa para a realidade da mesma forma como faço comigo mesmo.
[“Quieto”]
Esta música fala sobre a minha carência. Vivia frustrado por não ter durabilidade nas minhas relações românticas e senti-me na necessidade de concluir que, na vdd, tenho tudo o que preciso na minha vida para estar feliz e em harmonia.
[“Mais”]
Estava bastante insatisfeito numa relação quando escrevi isto mas, claro, sempre na dúvida se o problema pudesse ser eu, com as minhas exigências e a minha ingratidão a falar mais alto.
[“Nada muda”]
Esta música é uma conversa sobre estar na penumbra de procrastinação, sentir que nunca nada anda para a frente e que, na vdd, tenho eu de me motivar para mudar a minha vida e estar/ser melhor.
[“Padrão”]
Esta música relata a minha infância e o não me sentir visto pelas pessoas que me rodeavam.
[“Boas vibes”]
Escrevi esta como um discurso motivacional, na esperança que, ao forçar pensamentos positivos, pudesse parar de alimentar os negativos.
[“Não vale a pena”]
Esta música é sobre chegar à conclusão de que às vezes, por mais que hajam infinitas conversas na tentativa de que as coisas fiquem melhores, não vale a pena forçar. A verdade tem de ser aceite e levada avante.
[“Amor de cinema”]
Escrevi-a na frustração de ser percepcionado como um lunático por querer ter “a” pessoa de volta. É sobre idealizar uma relação e ter de ser constantemente relembrado que a realidade não é essa.
[“Virtude/suplício”]
Esta música é um pedido de ajuda ao divino. Para que possa ser mais virtuoso moralmente, para que consiga voltar a sentir um rumo, para que saia do abismo.
[“Dopamina”]
Escrever esta música foi a minha tentativa de me apaziguar com o que aprendi em todo este processo, embora extremamente magoado. Quis manter-me na esperança de que, se for honesto e tiver uma conversa interior saudável, um dia tudo pode ser curado.