pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Matilde Quintela
Publicado a: 26/05/2023

Experimental e artesanal.

Faixa-a-faixa: MONA & CIA 1985 de MONA LINDA explicado pelos seus intervenientes

Texto: ReB Team
Fotografia: Matilde Quintela
Publicado a: 26/05/2023

Foi hoje lançado pela Biruta Records um novo projecto de MONA LINDA. MONA & CIA 1985 reúne 10 temas inéditos do rapper e produtor portuense que, conforme indica o título, foram criados em colaboração com vários convidados.

O artista que antes respondia por Logos vestiu uma nova pele já na recta final do ano passado, com “sr. robado” a servir de primeiro single assinado enquanto MONA LINDA. Dessa primeira amostra até ao disco de estreia deste seu novo projecto foi um tirinho e leonardo trouxe-nos um Edgar Correia em formato a solo, após vários anos a servir de cúmplice de David Bruno em Conjunto Corona, tendo pelo meio contracenado com Kron Father em Bioudabalex Vol.1.

Desta vez, chega mais acompanhado do que só. Kapataz, Argonauta, Stray, ASURI, Tricla, JC e layfebuoy são os nomes que vemos creditados num trabalho que foi “gravado no passado, encontrado no futuro e ouvido no presente,” conforme nota um comunicado enviado ao Rimas e Batidas. A essência de MONA & CIA 1985 tem tanto de hip hop como de punk e recorre a técnicas de colagem sonora para criar ambientes pouco dóceis de pura experimentação e devaneio.

Num documento endereçado à nossa publicação, os artistas envolvidos debruçaram-se sobre as 10 faixas que surgem compiladas nesta obra de “protorap”, que foi apresentada em conjunto com um uma animação criada através de inteligência artificial que podem encontrar no final desta peça.


[“GLUP”]

“Este é o primeiro interlúdio da compilação 1985. Podem-se ouvir as primeiras sirenes do arranque da Revolução Industrial, misturadas com gritos e devaneios do ser humano no seu estado mais selvagem. Por esclarecer, se no seu estado primitivo ou final…”

— MONA LINDA


[“HMMM”] feat. Kapataz

“Converso regularmente com o Kapataz, é alguém que tem sempre um forte ponto de vista a partilhar. Com interesse! Aproveitei, no final da música, para partilhar um trecho de uma mensagem áudio de uma dessas muitas conversas que temos. O conteúdo da música? Kapataz numa reportagem verbal e visual dos acontecimentos distópicos mais primordiais da espécie humana. Parece que estamos a vê-lo a caminhar pelas ruas do Porto e a descrever meticulosamente em 32 barras os seus pensamentos.
Honestamente, ele enviou-me uma gravação por Whatsapp, gostei tanto que usei esse áudio original. POW POW POW!”

— MONA LINDA


[“SCREEECH”] feat. Argonauta

“A minha música não é tanto sobre uma realidade distante mas mais uma descrição amplificada e acinzentada do que já vou sentindo no dia-a-dia. Não foi escrita com a pretensão de falar da especulação imobiliária, da prisão do trabalho ou do negócio da saúde, mas em retrospectiva acaba por ser um pouco sobre isso tudo. É, sobretudo, sobre a impotência que às vezes sinto perante essas coisas. Ao pensar no distópico, estas foram as sucessões de imagens que me vieram à cabeça. É um tributo à Iniciativa Liberal, ao Trofa Saúde e aos senhorios, não necessariamente por esta ordem.”

— Argonauta


[“URGH”] feat. JC

“Individualismo como máscara do egoísmo, humanidade que se fechou à sua própria natureza e renuncia tudo o que a faz. Não queria escrever muito, imaginei uma terra devastada, na qual dispersas figuras, eternamente moribundas, arrastando a pele que as cobria, murmuram e gritam o desespero de uma mente que habita uma carcaça que nunca vai parar, em incessante fuga de sentir. As marcas de um passado vivido há demasiadas dezenas de anos, são agora menos de um refúgio, sacrificado foi o futuro, e o presente nada é. Não muito diferente de colar no telemóvel horas a fio, mas filtrado num prisma sci-fi perturbado, e este foi mais ou menos o enredo. Foi a primeira vez que gravei vozes rasgadas num beat, espero que a malta curta, é sem dúvida brutal ter a minha javardice no meio destes grandes artistas. Gratidão ao Edgar por me ter colocado o desafio. Da ‘Mona’ deste rapaz saem divinos beats. Um pouco do poço em 1985!!”

— JC


[“TIC-TAC”]

“De fundo, neste interlúdio, podem ser ouvidas várias notícias televisivas emaranhadas, de 2023. Do Zelensky, ao secretário-geral da ONU, passando pelos concorrentes do Big Brother Portugal’23 e muito mais. Crepitavam mudanças…”

— MONA LINDA


[“VA-VOOM”] feat. Stray

“Para ilustrar aquilo que a distopia representa para mim, construo, neste tema, um cenário de tom pós-apocalíptico, descrito em termos do fantástico e imaginário. No entanto, esses elementos servem não tanto como advertência para um futuro cruel, mas mais como metáfora para aquilo que já vivemos hoje nas sociedades modernas. A ‘hélice’, à volta do qual a narrativa se desenvolve, é a máquina que exige continuamente mais e novos corpos descartáveis para propelir a pequena minoria que a dirige… Minoria que, maquiavelicamente, aproveita a sua posição para sinalizar publicamente ser contra a própria existência da hélice — ‘falam contra a hélice, mas vão na hélice.'”

— Stray


[“CHOMP”] feat. Tricla

“tu sais para a rua sem ver onde pões os pés >:((( esmagas os chapéus e não vês por onde vais!!!!
nesta dIsToPiA o cogumelo tá mel, e o resto cada um que pense pela sua cabeça……….. mas sejam rapidinhos porque a decomposiçao é iminente e nem todos temos a sorte de estarmos vivos e mortos em simultâneo”

— Tricla


[“TUM TUM”] feat. ASURI

“Nesta participação, tentei, sobretudo, soltar-me das amarras – tantas vezes subliminarmente impostas pelos géneros musicais. Seguindo algumas diretrizes que me foram dadas pelo Edgar, sendo uma delas a de tentar ‘fluir’ em cima do beat ‘sem pensar demasiado’, tentei interpretá-lo à luz da temática da compilação: a Distopia. A ideia base era criar um conteúdo disruptivo, que fizesse as pessoas questionarem os padrões sociais em que se movem, numa sociedade em que a palavra de ordem é cada vez mais ditada pela máquinas. Um sistema onde a tecnologia é rainha da colmeia e o tempo de que dispomos é a moeda de troca.

Aquando do conteúdo lírico, debrucei-me sobre os ciclos mecânicos que impressionam a nossa consciência — dormente e doente — e que parece cada vez mais caminhar rumo a uma tecnocracia onde o Ego é o intermediário perfeito, em oposição à fomentação do pensamento crítico. A música fala sobre a total alienação da consciência em prol da satisfação das necessidades básicas de sobrevivência, que giram sobretudo em torno do Culto do Ego, em detrimento da existência do real — sendo que o real é cada vez mais um reflexo das extensões regidas pelos avanços tecnológicos, a custos do consumismo insano dos recursos planetários, dos abusos induzidos sob os ecossistemas do nosso planeta, e da luta pelos recursos que garantem a nossa sobrevivência e a de todos os seres sencientes — tudo isto sem nada questionar, e delegando as responsabilidades a uma minoria no topo de pirâmide cada vez mais tecnocrática.”

— ASURI


[“TU-TU-TU-TU-TU-TU-TU-TA”] feat. layfebuoy

“Para mim, filmes de terror onde crianças são parte integrante do fator medo, funcionam sempre! Ao ouvir este instrumental desde logo fiquei com vontade de escrevinhar uma cantilena. Imaginei coros de crianças a relembrar todos os Humanos, ao longo do caminho em direção à hélice (descrita pelo Stray na faixa seis), que desde o nascimento somos ensinados e motivados a preocuparmo-nos apenas com nós próprios. Olha mas é por ti! Aproveitei para mandar dois beijinhos para um querido casal de amigos emigrados nos EUA.

PS: esta guitarra é mesmo grunge!”

— layfebuoy


[“BBRRZZ”]

“Neste último interlúdio ouve-se uma ingénua melodia, da última caixa de música a corda existente. Uma lembrança mecânica de algo ainda com ‘mão humana’. Até já!”

— MONA LINDA


pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos