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Texto: ReB Team
Fotografia: Pau Storch
Publicado a: 01/06/2023

Celebrar a vida ao jeito da electropop.

Faixa-a-faixa: Invisível de Isaura explicado pela própria

Texto: ReB Team
Fotografia: Pau Storch
Publicado a: 01/06/2023

Em Março, Isaura regressou aos álbuns com Invisível, o seu primeiro registo neste formato totalmente interpretado em português, conceito que já tinha aplicado em Agosto, projecto de dimensões mais reduzidas com que nos brindou em 2019. Através de uma edição independente, a cantora, compositora e produtora reuniu num novo disco 12 temas que nos falam de “amor e de esperança”, à boleia de uma electropop expansiva — que vai da bass music a swings mais latinos — que pretende celebrar “a vontade de dançar e a alegria de viver”.

Isaura Santos nasceu em Gouveia e estreou-se num LP em 2018, com Human, após uma passagem pela Operação Triunfo e um EP de apresentação, Serendipity, lançado pela NOS Discos em 2015. No seu percurso destacam-se ainda uma participação enquanto compositora no Festival da Canção (Cláudia Pascoal interpretou o seu “O Jardim“) e colaborações com vários artistas que se têm destacado no nosso país e que o ReB acompanha de perto, como ProfJam, Ivandro ou Pedro da Linha.

De momento, Isaura está a promover a digressão + Invisível, alicerçada em temas dos seus últimos dois trabalhos, Invisível e Agosto, e estreada no Musicbox, em Lisboa, a 21 de Abril. A próxima paragem é já hoje: o seu espectáculo sobe ao palco do Teatro Aveirense a partir das 22 horas.


[“Olhos em ti”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira, João Abrantes
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Esta canção apareceu já bastante tarde em todo o processo. Foi uma das últimas canções a ser compostas e produzidas para o disco. O Invisível é maioritariamente biográfico e, porque me predispus a ser muito honesta e transparente no que ia dizer, sabia que era inevitável falar de certos assuntos, mesmo que fossem desconfortáveis. Esta canção fala de passar por um momento difícil e traumático mas a essência é a vontade desmedida de viver. É tudo meio exagerado nesta canção: o beat, o bass, as quebras e as acelerações; tudo isto acontece para reforçar essa metáfora de querer viver cada milésimo de segundo. Acabei por achar ser o arranque mais lógico do disco por tudo isto e pela forma como brinca com o público, tenta ser surpreendente ao fintar as expectativas de quem ouve.


[“Viagem”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Esta canção é capaz de ser a minha favorita do disco (pelo menos na maior parte dos dias)! Fala de mudança: nossa, dos outros, do mundo; e fala também sobre sofrer por antecipação e sobre como todos nós nos tentamos aceitar melhor ao longo do caminho. A ideia do instrumental foi a construção de um momento de catarse e de energia que culmina na celebração da vida, mesmo com todas as suas imperfeições – a viagem. Eu apercebi-me logo no inicio do processo de produção que o disco que tinha dentro de mim era predominantemente alternativo, com espaço para duas ou três baladas que trazia dentro do peito – tive de ter a coragem de o deixar ser como era e este é um tema recorrente também por isso.


[“Fica mais perto”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Esta canção nasce de momentos de ansiedade e pânico que tive, principalmente à noite. As vozes que temos na nossa própria cabeça são as mais poderosas e perigosas. Esses momentos eram tristes e eram diferentes de tudo o que já tinha sentido; queria distrair-me deles e queria que me ajudassem nos dias em que o peso era demasiado para mim. Esse peso e esse desespero existem no piano e nos loops de voz e minha forma de lidar com tudo isso vem aligeirada pelo beat e pela tentativa de dançar para expulsar o que pensamos e que só nos “desajuda”. É um ritual de bem-estar, chamemos-lhe assim.


[“A noite não conta”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Há uns três anos ensinaram-me o que era positividade tóxica e percebi que, sem querer, também eu o era. Eu sou uma pessoa otimista por defeito, mas nem todas as histórias têm de ter um twist positivo, não temos de conseguir ver o lado positivo das coisas sempre, todos os segundos. Isso coloca-nos uma pressão gigante! Às vezes só queremos estar tristes e pronto. Esta canção é isso para mim, é onde me confesso sem me sentir culpada – toda a gente tem dias difíceis e isso é ok. Eu escrevo muitos fados, apesar de não os cantar – não foi deliberado, mas foi inevitável cantar desta maneira mais tradicional, mais portuguesa. Nós, portugueses, sentimos muitas coisas e tudo ao mesmo tempo, e eu gosto muito disso.


[“PHTGDM?”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos
Produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Porque hás-de tu gostar de mim? Não sou eu quem diz! Este disco conta muito dos três anos que o antecedem, conta a minha história; mas a minha história também tropeça na história das pessoas que vivem à minha volta. Esta canção é uma conversa entre duas pessoas, caso fosse possível conversar com versões das pessoas que existem em momentos passados ou futuros, em vez de conversarmos sempre com quem nos é contemporâneo.


[“Só quero que te sintas bem”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Apesar de ter uma abertura de disco com uma série de canções que falam sobre estados de espírito algo complexos, eu diverti-me à descarada a fazer este trabalho e foi tudo muito simples, até. A minha relação com a minha própria música foi-se desgastando ao longo dos anos, e este foi um álbum de reabilitação. Paralelamente, também a minha vida e as minhas relações passaram por um período de mudança e foi preciso intervir; só quero que te sintas bem é sobre dar espaço e tempo a quem gostamos. (A nós, inclusivamente).


[“Anda dançar”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

“Anda dançar / o sofá é o palco / e o gato vira a cadeira por nós”. Estes versos são sobre um cenário imaginário em que o gato é um jurado do The Voice que, ao ficar fascinado com tamanho talento para a dança a pares, “vira a cadeira por nós”! Todos nós fomos forçados a um período de clausura durante a pandemia. Desde fazer pão, treinar pilates na sala e abusar do pijama, tudo nos aconteceu e vimos a nossa relação com a casa, e quem nela habita, posta à prova. Em “Anda dançar” tento encontrar a harmonia no caos e lembrar-me de que o amor existe nas coisas mais simples.


[“Salto”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Ruben Monteiro
Produção: Isaura
Co-produção: Ben Monteiro
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Esta canção tem o poder de me fazer levantar e dançar desenfreadamente! É uma canção que é mágica e transforma o meu estado de espírito. Podia ser a música do Timon e Pumba, tal é a alegria e a inocência da melodia! Começa por reconhecer a inevitabilidade de haver coisas na vida que correm menos bem; paralelamente há uma certa insatisfação por parecer que o mundo não quer falar do que não corre bem. No refrão, “salto na corda que parte (…) só paro às nove” é um relato dos meus treinos, em que saltava à corda até anoitecer – só aprendi a saltar à corda aos 31 anos! No fundo, esta canção faz-nos acreditar que depois de um dia mau, podemos fazer uma coisa parva como saltar à corda e garantir que o dia seguinte é sempre melhor.


[“Leve”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Esta foi a primeira canção que lancei depois de cerca de três anos sem editar música. De alguma forma, tanto na música como na vida, trago uma sensação de leveza – talvez por ter ganho perspetiva e capacidade de relativização. O instrumental é muito despido, muito minimal, e diverti-me muito a escrever um refrão cheio de trocadilhos em inglês. Esta é a única música que não é exclusivamente em português; talvez tenha precisado disto, para pôr o inglês na prateleira por uns tempos. No videoclipe, gravado no Planetário de Marinha de Lisboa, dancei tanto, mas tanto, mas tanto, que houve quem não me reconhecesse à primeira! “Esta é a Isaura?”


[“Fora de pé”]
Letra: Isaura Santos, António Graça
Música: Isaura Santos, António Graça, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Esta canção foi escrita com o António Graça (LEFT.) depois de umas horas de conversa sobre quanto ambos sentíamos uma vontade de nos reconectarmos com a natureza, com viver com menos na procura de maior profundidade real. Acho que este é o momento Alberto Caeiro do disco que, para além da ode à natureza, tem um refrão que me faz subir e descer os ombros, como se esta paz fosse inabalável.

“Troco os dias por mais anos
Troco serões por manhãs de sol (hum hum hum)
Laranja de manhã é ouro
A luz em mim já não me pesa
Cor que alegra acalma o campo
E o campo acalma a sede de ter mais”


[“Isso (brevemente)”]
Música: Isaura Santos, Ruben Monteiro, Alex Teixeira
Produção: Isaura, Ben Monteiro
Mistura e Masterização: Filipe Survival

Há uma canção chamada “Isso” e que não é esta passagem instrumental. Foi a primeira canção a ser escrita para o disco, apesar de ter sofrido transformações consideráveis. Ao longo do processo de produção, fui percebendo que esta canção era sim um diálogo e precisava de outra voz. Propositadamente, ficou de fora de edição digital e há-de ser lançada ainda em 2023. Quis encontrar a voz perfeita – e encontrei.


[“Glória”]
Letra: Isaura Santos
Música: Isaura Santos, Filipe Oliveira
Produção: Filipe Survival
Co-produção: Isaura
Mistura e Masterização: Filipe Survival

A minha mãe é uma das minhas pessoas favoritas no mundo inteiro. Tem uma generosidade desmedida e um carisma só dela. Já tinha pensado várias vezes que gostava de fazer uma canção sobre ela e sobre a nossa relação, mas sempre que tentava sentia não ser por ali. Até que cheguei a esta canção, a esta forma de cantar mais old school e uma produção menos eletrónica e meio natalícia. Como quando se dá um presente, queria fazer uma canção que achasse que a minha mãe ia gostar.

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