Lázaro rompeu com o passado e estreou-se no final de Maio com o EP eu nem queria falar de amor. Neste novo capítulo — mais cru, mais íntimo e mais verdadeiro — despede-se do caminho pop que vinha a trilhar desde o sucesso de “Camomila”, canção com que se apresentou ao público em 2022, depois de ter participado no programa The Voice um par de anos antes. Aqui mergulha de cabeça no R&B, sua paixão de sempre, e apresenta um conjunto de quatro faixas que expõem, sem filtros, as dores do amor que preferia não sentir.
A obra, composta e gravada inteiramente no quarto do próprio artista, com recurso a produções de Lou Xtwo (que já trabalhou com Russ ou Tory Lanez), Monksmith, Cozy e DevilDog, é tanto uma confissão como um manifesto. “Este EP é finalmente o início de tudo o que realmente quero fazer”, afirma Lázaro, revelando que, após uma reunião decisiva com a sua manager Teresa Lemos e o produtor Bruno Mota, percebeu que estava a trair a sua essência ao tentar agradar às massas. A partir desse momento, decidiu voltar-se para o que realmente lhe corria nas veias: um som mais urbano e com alma, influenciado por nomes como Drake, 4batz, T-Rex e The Weeknd.
Ao Rimas e Batidas, o cantor passa uma lupa sobre os quatro temas que compõem este ponto de viragem na sua carreira.
[“Onde é que vais?”]
Foi uma música que tinha perdida no meu dictafone desde 2022 se não estou em erro. A versão original não tinha tanto power como esta versão final, era muito mais crua só com um piano lá atrás. Se bem me lembro, era de um “Billie Eilish x Frank Ocean Type Beat” que tinha encontrado no Youtube, mostrei-a ao Monksmith e no mesmo dia construímos uma ideia que ainda demorou algum tempo a estar como a realmente queríamos, mas felizmente chegámos ao que imaginávamos. Esta música fala de abandono, fala sobre não querermos deixar alguém ir embora, mas não ver outra janela para abrir depois de tantas portas fechadas. Nesta música tenho versos daqueles que dão mesmo gosto ter sido eu a escrever, tais como:
“Toma conta do espaço
Peço as estrelas pra brilharem contigo
Eu já fiz o passe
Marca golo mas não faças um dois com mais ninguém”
[“Olhos”]
Foi a quarta música que nasceu de uma procura que tenho tido desde Novembro do ano passado. Quando falo de “procura”, se calhar o termo mais acertado seria “exploração”, tanto do meu timbre, como da minha escrita e também muito da intenção com que digo cada palavra e cada verso, pensando sempre no que quero que o publico sinta quando digo algo — hoje em dia penso muito mais nisso do que há uns meses atrás. Juntei dois grandes amigos para produzir, nomeadamente o Bege e o Teni (Cozy), conhecemos-nos há 10 anos num casting de A Tua Cara Não Me É Estranha e mais tarde voltamo-nos a encontrar no The Voice Portugal em que o Bege participou, tal como eu, em 2020. Foi como um brinde à nossa amizade, que culminou numa das minhas músicas favoritas do EP. Juntaram-se a nós o Solium (guitarrista) e Monksmith (pianista) para dar os últimos retoques para chegarmos à versão que podem ouvir em todas as plataformas digitais. Facto engraçado sobre a “Olhos”: a versão original da música tinha um sample da “we’ve been loving in silence” da Maro.
[“Soldier”]
É uma música que escrevi enquanto estava numa relação amorosa bastante longa, que tinha medo de acabar, por todos os motivos possíveis — por medo do que poderia vir depois desse termino, o incerto, o “estar tudo encaminhado e agora vou deitar tudo fora”. Todas essas incertezas fizeram-me escrever esta música que foi a minha carta de despedida dessa relação, que acabou. Falo sobre ser um porto de abrigo desse par mesmo depois do término, sobre como amar muitas vezes não chega para que uma relação sobreviva no tempo (é um clichê, eu sei) e que muitas vezes amar é deixar ir, para que nos descubramos a nós próprios, vivamos sem pensar em mais ninguém sem ser em nós, na nossa vida e nas nossas próprias decisões. O beat desta música foi feito por um produtor de Los Angeles, chamado DevilDog, descobri-o no Youtube e comprei os direitos do beat para que o pudesse usar neste projeto. Ele tem muito poucos seguidores e faz-me pensar que até desistiu ou meteu de lado o beatmaking (talvez por pensar que não tem talento por os números não estarem a corresponder às expectativas), porque não responde às mensagens no Instagram, nem a nenhuma publicação em que o identifiquei, se calhar nem sabe que alguém em Portugal lhe comprou um beat e fez uma das músicas mais sinceras que já lhe sairam da caneta. Isto é a prova que há sempre alguém que vai compreender e acolher a tua arte, mesmo que seja do outro lado do planeta. Just keep pushing.
[“Admite”]
Das músicas que mais me orgulho de ter feito, seja pela escrita, seja por todas as formas como explorei o meu timbre, mas também por ser o fechar de um ciclo que deixei aberto durante muitos anos — a dor da rejeição por parte daquele primeiro amor que nunca vamos esquecer, aquela pessoa que passado tantos anos ainda te dá borboletas na barriga quando passa por ti na rua, mesmo que saibas que não queres nenhum tipo de relação com ela. É algo estranho e difícil de explicar, mas é assim, o ser humano é algo muito complexo. Lembro-me de estar no quarto a fazer as toplines no beat do Low Xtwo e estar completamente histérico, parecia que estava a descobrir algo completamente novo na minha voz, e na realidade estava mesmo, esta música abriu as portas para muitas coisas que hoje em dia faço nas músicas que tenho feito nos últimos tempos e ainda bem que me encontrei, explorei o meu timbre e vou continuar a explorar para conseguir cada vez mais ter uma identidade só minha, que impacte quem me ouve, por ser algo novo e fresco.