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Texto: ReB Team
Fotografia: Filipe Feio
Publicado a: 06/10/2023

A espera terminou.

Faixa-a-faixa: Brilho de Inês Monstro explicado pela própria

Texto: ReB Team
Fotografia: Filipe Feio
Publicado a: 06/10/2023

Passaram 13 anos desde que a sua voz entrou na vida dos portugueses por intermédio da 3ª edição do Ídolos. Inês Laranjeira até teve um certo culto em torno dos cânticos que lhe saem das cordas vocais, mas optou por não navegar nessa onda e reservar o talento em bruto que tem dentro de si para uma fase mais madura.

Hoje, dia 6 de Outubro, exibe todo o seu Brilho num primeiro projecto de curta-duração composto por 8 temas, 4 deles previamente disponibilizados enquanto singles. Envolto numa toada que vai da pop à electrónica, este trabalho prima pela contemporaneidade do seu som e pela delicadeza da pena com que a cantautora rubrica os seus versos. Acompanhada por Choro na produção, Inês Monstro teve ainda as ajudas de Rita Onofre e Matheus Paraizo no processo de composição das letras e melodias deste conjunto de canções que será apresentado ao vivo no Musicbox — a data escolhida é o dia 19 de Outubro e, em palco, a artista terá um espectáculo com um conceito ligado à performance corporal, com teatro e dança em especial evidência.

Antes de se debruçar mais detalhadamente sobre cada uma das canções que integram Brilho, a autora lança ainda um olhar sobre a obra no geral, detectando as motivações que a levaram a edificar este projecto:

“Este é um projeto que demorou dois anos e meio a ver a luz do dia, um processo longo mas bastante intuitivo e natural. Na minha opinião foi bom ter tempo para trabalhar sobre as canções e deixá-las maturar. Foram escritas por mim, Rita Onofre e Choro na produção, sendo que a ‘Perto’ foi coescrita com o Matheus Paraizo, na Great Dane Studios. 

Cada faixa deste álbum tem uma cor e sonoridade própria mas vivem todas no mesmo universo. As músicas interligam-se, não só através da narrativa das histórias que estou a contar mas também pela repetição de certas palavras e ideias. A palavra ‘Brilho’ repete-se em algumas das letras, sendo que representa a procura de mim própria, da luz e daquilo que me faz bem mas também ficar em paz com aquilo que me atormenta.

É possível criar elos de ligação mas também acho interessante permitir ao ouvinte construir a sua própria narrativa. Podemos começar a escutar este álbum com a história de um amor falhado, como na ‘Tanto Tempo’; como com uma canção sobre desejo, como na ‘Perto’; a ‘Porque Te Quero’, para mim, é uma faixa bastante conclusiva que nos remete ao momento em que a ‘heroína’ da história vence as suas dificuldades e segue em frente; mas também há um momento de catarse com a ‘P’ra Deixar Tua Calma’ ou a ‘Sina’. No fundo, acabei por escrever bastante sobre amor e vulnerabilidade, não sobre uma história concreta mas sim sobre várias sensações que já vivi. 

É engraçado, também, que nunca penso sobre o que vou escrever, só percebo isso quando a canção está praticamente fechada e entendo do que é que se trata. Mas, lá está, a minha narrativa não será a do ouvinte então cada pessoa interpreta as canções da sua própria maneira. 

Trabalhar sobre a ideia de persona ou de pessoa que já viveu várias vidas também é algo que me interessa bastante e acabei por incorporar essa ideia nos videoclipes dos singles. Visualmente, há sempre uma época mais presente e a minha imagem vai-se também alterando, como se eu fosse esta personagem que sobrevive ao longo do tempo.”


[“Porque Te Quero”]

“A ‘Porque Te Quero’ abre este álbum mas, no entanto, também o poderia fechar. Acho que é uma canção que introduz os vários capítulos do Brilho, porém, apresenta também uma resolução/final, criando uma sensação de full circle moment. Trata com leveza temas como a perseverança, resiliência e amor próprio.”


[“Tanto Tempo”]

“É uma canção que fala sobre amor passional, manipulação, e descreve uma relação amorosa tóxica em vias de término. Quando de repente o silêncio é maior que tudo o resto, quando já todos os fantasmas que nos habitam e que nos impedem de continuar aparecem mas, no entanto, ainda nenhum dos dois teve verdadeiramente a coragem de terminar.”


[“Sina”]

“Este tema foi fundamental para mim, enquanto artista, para perceber que podia escrever aquilo que eu tinha realmente vontade de ouvir. Gosto muito de Björk, Sevdaliza e Arca e, por isso, a linguagem do hyperpop está presente nesta faixa. Esta canção está ligada à ‘Tanto Tempo’, como se fosse uma ‘segunda parte’. Liricamente, debrucei-me sobre a ideia de carregarmos a nossa história e os nossos traumas, mas também de sermos sempre nós quem decidimos quando largar o que nos pesa e prende.”


[“Nunca Te Esqueço, Meu Amor”]

“Quando comecei a escrever este álbum ouvia muito um bolero chamado ‘Espera-me En El Cielo’ (versão de Antonio Machin) que acabou por influenciar esta canção — inicialmente surgiu como uma intro para a ‘Sina’, porém, depois optámos por separá-las. Também andava a ver bastante os filmes do Pedro Almodóvar e acabou por ser um reflexo desse universo. Escrevi-a completamente de rajada numa noite, no meu quarto, e fala sobre a ideia deste amor desmedido por alguém, tão grande ao ponto de acreditar que se pode morrer de amor ou de desgosto quando somos abandonados. No entanto, não fala apenas de uma relação amorosa, mas também da devoção àquilo que se quer fazer o resto da vida.”


[“Voltar”]

“É a grande balada do álbum e que durante muito tempo me fez chorar sempre que a ouvia. Surgiu num momento bastante frágil e é muito especial e emotiva. Fala sobre procurar a oportunidade de voltar a um lugar que já existiu, mas também sobre abandonar aquilo que somos por alguém, por influência ou receio de abandono. É, no fundo, o momento conclusivo da decisão que é preciso ser tomada para reencontrar o nosso valor.”


[“Perto”]

“Eu procurava uma energia para este tema que o reggaeton/kizomba carregam e sabia que o Matheus Paraizo iria saber como me ajudar e convidei-o então para escrever a ‘Perto’ comigo. Na escrita deste tema não me levei tão a sério e simplesmente escrevi sem pudor sobre desejo. Acho que é uma canção que carrega sensualidade, no entanto também fala sobre não poder ter aquilo que se deseja, sobre traição e sobre toxicidade.”


[“Hipnose”]

“Este é um tema em que durante a sua construção pude brincar com as palavras e, com isso, abrir espaço para criar uma canção pop, sexy e divertida. Tive a oportunidade de não me levar muito a sério, como na ‘Perto’, e pude alimentar esse meu lado mais extrovertido. É uma canção sobre devoção e a ideia de estar hipnotizado por algo ou alguém.”


[“P’ra Deixar Tua Calma”]

“Considero a ‘Pra Deixar Tua Calma’ a canção mais experimental do álbum, também porque foi o último tema que escrevi para este projeto e sinto que pude explorar sonoridades que ainda não tinha explorado. O foco central da letra é a ideia de enlouquecer e procurei escrever sobre aquilo que somos capazes de dizer e fazer quando sentimos raiva e dor. Evoquei algumas referências como Deftones — uma banda que ouvi durante a minha adolescência — e, que no que toca à produção, enriqueceram bastante a canção, tornando-se numa das minhas preferidas deste álbum.”

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