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“Mar de Fora” é o novo single que junta Perigo Público e Sickonce. O produtor e DJ também ficou responsável pelo vídeo que acompanha a música.
Depois de lançar o EP de estreia, Jeans Monroe, em 2014, o rapper algarvio está de regresso ao activo com uma faixa com um statement bem patente. “Na minha opinião, vivem-se tempos de mudanças. Durante estas fases de transição, existem sempre vítimas, gente a abdicar daquilo que acredita com medo de não bater. Mas não é apenas no rap nacional, é uma questão global. O rap perdeu algumas das suas funções vitais e hoje em dia é basicamente música de entretenimento em que o mais importante deixou de ser acordar mentes e elevar comunidades, passando a ser uma constante preocupação ser o próximo fenómeno das redes sociais”, revelou Perigo Público em conversa com o Rimas e Batidas. Rafael Correia acrescenta: “A meu ver, a nível sonoro, é um colocar dos pontos nos i’s. A densidade quase incomodativa do beat e da mensagem tem como objectivo transmitir a nossa ideia do que é fazer música com toda a sua intensidade, sem que haja necessidade de a adaptar ao que usualmente as pessoas querem ouvir.”
O novo tema não é a primeira vez que Sickonce e Eltón Mota colaboram: por exemplo, “Rua da Paz”, faixa do EP lançado em 2014, já contava com o dedo dos dois artistas da Kimahera. Perigo Público conta como funcionou o processo de criação de “Mar de Fora”: “Em primeiro lugar é preciso salientar a vontade, que já há algum tempo nos acompanhava de podermos transformar uma das nossas colaborações num trabalho visual. Então, quando decidi voltar a escrever, achámos que esta febre quase surreal em busca visibilidade seria um tema pertinente e, como bons algarvios, decidimos baptizar a faixa de ‘Mar de Fora’ como uma analogia ao mar quando está revoltado, que chega cheio de força e é difícil de navegar”. Gijoe, o outro pseudónimo de Rafael Correia, adiciona: “Esta foi uma música cuja ideia do beat já existia e eu sabia que fazia sentido passar uma mensagem forte com ele. Marcar o ‘regresso’ ao Perigo Público mais afiado fez todo o sentido para mim.”
Numa altura em que os artistas se medem cada vez mais pelos números que as plataformas digitais ditam, a dupla procura recuperar, de certa forma, os valores que serviram como base para o rap. “O rap não foi sempre, nem tem de ser só mensagem, mas sinto que tem de ser sempre sincero. A forma como chegamos ao público torna a coisa demasiado leve. Seja qual for a mensagem que queremos passar, é essencial que seja sincera e transmitida com a densidade e a intensidade necessária”, afirma Sickonce. Para finalizar, Perigo Público deixa uma mensagem sobre a temática: “Hoje em dia, a palavra perdeu valor, o ritmo matou a poesia e o rap é cada vez menos dependente ou ligado aquilo que é a cultura hip hop. Mas acho que o rap só perderia a necessidade de passar a mensagem se não vivêssemos tempos difíceis a nível social, político e económico. Temos de perceber os fenómenos e as ambições de cada geração.”