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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 10/02/2022

Saltar à vista lá fora antes de se estabelecer cá dentro.

[Estreia] Kiko Mori: Game Over e um “Afterthought” que pediu emprestado a Joji

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 10/02/2022

Kiko Mori é o alter-ego de Frederico Medeiros, músico e produtor natural e residente em Lisboa. Através deste pseudónimo, Frederico assume uma identidade musical onde r&b, city pop, hip hop e música de videojogos coabitam em igual medida, culminando num dos resultados mais idiossincráticos da pop electrónica produzida actualmente a nível nacional.

Em estreia no Rimas e Batidas está uma “cover da música original de Joji (George Miller)”. Segundo o autor da versão de “Afterthought“, esta é “uma canção melancólica e introspectiva sobre uma relação falhada, embora ainda haja sentimentos de afecto, e o desejo de não se esquecerem um do outro”.

O Rimas e Batidas falou com Medeiros de modo a desvendar o universo intercultural que define este projecto. 



Quando e como começou o teu percurso artístico enquanto Kiko Mori?  

Começou, mais ou menos, em Janeiro de 2018. Como muita gente, eu comecei por fazer uma beat tape com beats lo-fi, foi a primeira coisa que eu fiz quando descarreguei o primeiro DAW (acho que foi o FL Studio, mas agora já não uso esse). Foi uma beat tape só com samples de uma série anime japonesa da Netflix que tinha saído na altura, chamada Devilman Crybaby, onde cada episódio tinha um rap acapella, e eu retirei isso e mais sons da série para fazer os beats, e esse foi o meu primeiro projecto [risos]. Até ficou pseudo-viral no Facebook e no SoundCloud, teve algumas centenas de centenas de milhares de visualizações e ouvintes nas duas plataformas, que foi sorte, mas foi fixe por ser uma coisa assim tão, sei lá, lo-fi e pessoal, que eu fiz na altura [risos]. 

O meu projecto, mais como é agora, com os géneros que eu estou a incorporar actualmente na minha música, começou em 2019, quando eu comecei a estudar produção na Holanda; porém, até 2021, não fiz nada com tanto sucesso como aquela beat tape que eu fiz do Devilman Crybaby… Mas sim, foi mais ou menos isso, comecei em 2018.  

Todo o trabalho que disponibilizaste online até ao recém-lançado EP Game Over apresenta, inegavelmente, uma estética influenciada tanto pelo r&b e pelo hip hop, como pela city pop e por bandas sonoras de videojogos. O que te motivou a conjugar linguagens estéticas tipicamente associadas à cultura pop americana e japonesa?  

São os tipos de música que eu mais ouço: gosto muito de r&b e hip hop, adoro Frank Ocean, Joji, Still Woozy, mas também gosto imenso de ouvir bandas sonoras de videojogos e city pop, como Tatsuro Yamashita e Junko Ohashi. Como disse anteriormente, o meu projecto começou por ser lo-fi e hip hop apenas porque era o que eu conseguia fazer na altura, mas, à medida que eu fui aprendendo mais e começando a ficar melhor a produzir e a ser capaz de trazer as minhas ideias musicais para algo concreto, consegui começar a fazer algo mais de acordo com a música que eu ouço; para além disso, eu tento sempre não me prender a um só género ou a uma só ideia e explorar o máximo de ideias e de géneros que eu gosto. Mas a resposta mais curta é porque são os géneros de música que eu mais ouço e com que mais me identifico. 

De acordo com os dados do teu perfil de Spotify, a tua música parece ter uma boa adesão fora de território nacional — saltando à vista os 1004 ouvintes que tens em Sidney, segundo estes mesmos dados. Para lá destes números, sentes este tipo de feeback positivo a nível internacional manifestado de forma mais pessoal?

Eu penso que sim, aliás, o meu projecto só começou a ganhar maior adesão cá em Portugal quando comecei a enviar a minha música às rádios e a passar nestas… Mas desde o início que senti mais sucesso, por assim dizer, internacionalmente, e eu tenho a sorte de poder trabalhar em full-time como produtor: trabalho remotamente, todos os meus clientes são internacionais, e apenas este ano é que comecei a ter clientes portugueses e a colaborar com pessoas portuguesas, o que tem sido excelente e óptimo, mesmo. Muitos dos meus clientes encontraram-me devido ao meu Spotify, por acaso, ou às redes sociais, e vice-versa — também tive pessoal que me encontrou de outra forma e começou a ouvir-me porque trabalhou comigo. 

Obviamente, não posso dizer que seja por causa disso que tenha tido tantos ouvintes fora de Portugal, mas sinto que tenho muito mais gente a contactar-me de fora… Não sei se são maioritariamente da Austrália, porque eu não tenho ideia de onde é que são as pessoas que me vêm falar [risos].

Existem planos para levar Kiko Mori e Game Over a palco? Se sim, pretendes manter a mesma postura DIY em termos de lineup, ou planeias apresentar o projecto numa configuração de banda?

Eu tenho andado a pensar nisso nestes últimos meses, desde que planeei o lançamento do EP. Tinha planos para começar a actuar ao vivo este ano, e a meu ver, seria preferível para mim — e para toda a gente que me fosse ouvir — tentar manter a mesma postura DIY só para me manter o máximo fiel possível à experiência original, só que seria sempre um pouco difícil de o fazer, a menos que fizesse uma espécie de karaoke [risos], que não é nada do que eu quero, visto que sou eu a tocar os instrumentos todos e a gravar tudo no meu estúdio – é algo difícil de replicar, não é? Por isso, neste momento, o que eu acho que será mais provável que aconteça é tocar com mais uma ou duas pessoas, no máximo — eu quero manter isto na mesma, muito pessoal e com pouca gente, mas tentar ter talvez um baixista e outra pessoa em teclados e sampler, não sei… Portanto, acho que a resposta é: tentar manter-me o máximo fiel a DIY enquanto possível, ou seja, tentar manter pouca gente, tentar ser eu a fazer o máximo tal como nas gravações, mas é possível que precise de mais alguém, mais uma ou duas pessoas no máximo. 

Sempre foi essa a minha ideia, o nome que eu escolhi, Kiko Mori, tem parcialmente a ver com isso: foi retirado da palavra japonesa hikikomori, que são pessoas que vivem com ansiedade social extrema e isolam-se nos próprios quartos e a minha alcunha é Kiko desde que nasci [risos]. Tive a ideia de misturar esses dois conceitos, porque realmente faço a música toda sozinho e isolado, e eu queria manter mais ou menos esse aspecto, mesmo a tocar ao vivo.


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