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Publicado a: 16/03/2017

[Estreia] Já podem ouvir Pruridades de Ângela Polícia

Publicado a: 16/03/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTOS] Miguel D’Almeida

Ângela Polícia é o primeiro artista a editar um trabalho pela Crate Records em 2017. Pruridades vai chegar ao público na próxima segunda-feira, 20 de Março, mas os nossos leitores já podem ouvi-lo antecipadamente aqui, no Rimas e Batidas.

Há praticamente um mês, o ReB publicava em primeira mão o single de Fernando Fernandes – primeiro e último nome de Ângela Polícia, vocalista da banda Bed Legs que viu no hip hop uma espécie de salvação para esvaziar os pruridos que habitavam na sua mente. O álbum demorou a tornar-se numa prioridade para dar asas à sua criatividade e expor, sob o formato de temas, os vários obstáculos que enfrenta numa sociedade a que apelida de “babilónia”. Mas, para o bem do artista – e do ouvinte, claro – , o resultado final já está à vista. Prurido + Prioridades. É daí que surge o termo que criou para apelidar o seu primeiro trabalho a solo: “São pruridos resultantes da não concretização das minhas prioridades. Tive de os curar, concretizando-as.”

Do exercício a que se propôs quando idealizou o álbum, 7 temas emergem que misturam as mais distintas sonoridades que a música guarda na sua história. “Houve um rapper que disse que ‘o hip-hop não inventou nada, mas reinventou tudo’”. As palavras são de Grandmaster Caz e Fernando cita-o para resumir numa bela explicação esta arte que é mesclar sons distintos aos olhos de uma cultura que nasceu nos subúrbios.

 


ângela polícia


“Na minha cabeça andam à solta heranças de toda as culturas musicais que fui absorvendo ao longo da minha vida. Comecei a ouvir hip-hop quando tinha 11 anos (General D, Black Company, Boss AC e Gabriel, o Pensador) na mesma altura em que comecei a aprender poesia nas aulas de português. Na altura, tudo fez sentido. Estrofes, rimas cruzadas, emparelhadas e interpoladas, batidas em que tinha de descobrir uma forma de encaixar os meus escritos. Desde aí nunca parei de escrever, mesmo desenvolvendo projectos de outros estilos. Desde criança, o meu pai (locutor de rádio) sempre me mostrou muitos estilos musicais diferentes, desde os sons de Angola, o seu país, até ao resto do mundo, nas suas características próprias e também globais. Foi ele que na rádio começou a gravar-me em cassetes todos os sons que eu queria ouvir e também tudo o que saía de novo nas mais variadas cenas musicais. Desde puto foi educado a ter um espectro musical alargado. Foi muito fácil para mim integrar-me em meios diferentes, em que a música era uma das formas mais entusiastas de criar afinidade com as outras pessoas. É normal, que os meus sons tenham elementos de estilos diferentes, que no fundo não diferem assim tanto entre si, pois provêm da mesma raiz e difundem princípios muito comuns como amor, união e ‘faz por ti e pelos outros’. É comum no teu bairro, escola ou hobbies teres amigos com gostos distintos que te mostram clássicos ou novidades do seu habitat musical. Em relação ao hip hop, é natural que se inclua o meu som no movimento porque rimo, faço batidas e contribuo para a difusão do mesmo. O próprio movimento mostrou-me que há formas quebrar ou ultrapassar barreiras para concretizar os teus sonhos e projectos, fazendo com o que tens, com o que te aparece, nem que seja uma MPC em vez de uma bateria. Começas a samplar todos o tipo de músicas ou sons e conferes que a mistura de músicas e sons opostos resulta.”

 


ângela polícia


O que hoje podemos ouvir é o produto final de várias mutações, um processo que resultou de uma intensa experiência onde Ângela Polícia pôde puxar ao máximo pela criatividade até chegar à formula definitva. Um álbum curto, mas com muito sumo. “Acontece que quando comecei a preparar os primeiros concertos ao vivo reparei que só iria ‘rappar’ e cantar em cima dos temas e mais nada. Seria um karaoke dos meus temas. Fiquei frustrado. Então comecei a desligar elementos dos temas para os tocar ao vivo com instrumentos, samples e efeitos. Aí reparei que as músicas podiam ter uma componente sónica que complementasse a temática da música. Nessas experiências progressivas, descobri uma forma de explorar a minha musicalidade em cada tema”, conta-nos o música, revelando ainda alguns dos pormenores que certamente contribuíram para toda esta orgânica que se sente pelo desenrolar do álbum: “Na composição dos temas toquei, samplei, programei, estraguei, melhorei, misturei, acabei. Convidei amigos músicos, e não só, para fazer experiências em cima das minha batidas, que correram lindamente. Até o meu sobrinho participou no disco.”

Pruridades é um projecto aliciante, até mesmo pela enorme carga emocional que carrega. Algo que vai de encontro à imagem que Fernando tem sobre si e, até mesmo, da sociedade que o rodeia. “Eu sou um paranóico e desesperado. Quem não o é na Babilónia? Tudo o que é oprimido e reprimido é urgente de alertar e exprimir”. Para rematar, deixa um apelo: “A ideia disto tudo é a expansão, a libertação, o equilíbrio, a união.”

 


 

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