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Texto: ReB Team
Fotografia: Renato Cruz Santos
Publicado a: 08/05/2023

Continua a romaria do Gótico Português.

[Estreia] Glockenwise mostram o videoclipe para “Margem”

Texto: ReB Team
Fotografia: Renato Cruz Santos
Publicado a: 08/05/2023

Ana Mariz assina a peça visual que acompanha “Margem” naquele que é o novo videoclipe dos Glockenwise, cuja estreia acontece por cá, no Rimas e Batidas, umas horas antes do lançamento oficial, marcado para as 15 horas.

Em Fevereiro passado, Nuno Rodrigues, Rafael Ferreira, Rui Fiusa e Cláudio Tavares deram vida a um novo disco em nome da banda de Barcelos, Gótico Português, que tem estado a gerar ecos um pouco por todo o país e está neste momento a fazer estrada para ir ao encontro dessa demanda. O rock maduro e alternativo dos Glockenwise já se fez escutar ao vivo no Courage Club (Guimarães), Carmo 81 (Viseu) e GRETUA (Aveiro) e está agora em vias de invadir a Culturgest (Lisboa, 12 de Maio) e gnration (Braga, 20 de Maio), havendo ainda no horizonte dos próximos meses datas para Ílhavo, Porto e Cabeceiras de Basto, com uma passagem pela edição deste ano do Super Bock Super Rock pelo caminho.

Num comunicado enviado à imprensa a realizadora Ana Mariz fala sobre a concepção desta peça audiovisual:

“Pareceu-me que esta junção, entre as imagens documentais e as filmadas neste espaço místico – que nos trouxe o Museu de Lamas -, poderia ser uma forma interessante de falar sobre este processo de tentar encontrar uma memória coletiva específica. Se por um lado tentei retratá-la a partir de ações (e não bibelots), por outro tentei retirar aos objetos utilitários a sua função e assim transformá-los em ícones, são objetos emocionais.”

Já o quarteto, na voz de Nuno Rodrigues, tirou algum tempo para falar com a nossa redacção a propósito do sucessor de Plástico (2018), que assinalou a estreia do selo independente criado pela banda, Vida Vã.



Glockenwise chegam ao quinto disco já com mais de uma década de actividade nas lides da música. Que balanço fazem deste vosso já considerável percurso?

Bom, esta é uma pergunta um pouco difícil de responder. Por um lado, porque é difícil definir métricas que permitam olhar para o percurso e avaliá-lo. Por outro, porque francamente nem demos por ela que já tinha passado tanto tempo. Como nunca houve interrupções e somos fundamentalmente os mesmos desde o primeiro dia, é muito fácil sentir que cada momento é um acrescento a essa génese. E, por isso, sentir que ainda foi ontem que começámos a tocar. Diríamos talvez que estamos num sítio em que nos sentimos confortáveis e não conseguimos imaginar as coisas feitas de outro modo.

Surgiram no seio da Lovers & Lollypops, passaram pela Valentim de Carvalho, mas hoje operam e editam o vosso material sem estar associados a nenhum selo discográfico. Vivemos um bom momento para se ser artista/banda independente? Que vantagens encontram em estarem dependentes apenas de vocês mesmos?

É natural sentir que, em termos de recursos puramente técnicos, hoje é mais fácil ser artista independente. É possível gravar com qualidade em contexto caseiro, utilizar plataformas de distribuição digital de música e, enfim, fazer chegar muito diretamente a música às pessoas que a querem ouvir – o problema pode residir, também, em conseguir encontrar pessoas o suficiente, num oceano de oferta musical sem grande critério de distinção, para suportar fazer música como um modo de vida. As grandes editoras ainda oferecem ferramentas muito úteis, como recursos humanos capazes de trabalhar a comunicação, distribuição, a parte negocial e burocracia associada. Ser artista independente é concentrar todas essas funções num reduzido número de pessoas, que com muito boa-vontade e (normalmente) reduzida remuneração tentam corresponder a padrões estabelecidos por entidades que dispõem de infinitamente mais recursos. São poucas as pessoas a fazer música que conseguem verdadeiramente romper com estes padrões e inventar outras formas de se destacarem. Neste sentido, nós não inventámos a pólvora. Mas ser independente tem significado para nós – poder decidir que o primeiro avanço do disco é uma música com quase oito minutos, trabalhar a comunicação exatamente como queremos, e lançar uma música nova amanhã, se nos apetecer.

Há uma toada melancólica presente nas 11 faixas do vosso mais recente disco, que soa ainda à ressaca dos estranhos tempos que atravessámos ao longo dos últimos três anos — e nem por acaso, foi apenas há um par de dias que a OMS “oficializou” o fim da pandemia de COVID-19. Esse período teve influência na sonoridade e nas temáticas abordadas no álbum?

À semelhança da experiência de tantas pessoas, a pandemia foi um período que nos impôs enormes problemas. Em parte, estávamos ainda a rodar bem o Plástico e ficámos subitamente sem poder tocar. Por outro lado, o facto de não podermos ensaiar obrigou a uma troca de ideias à distância e estabelecimento de novos métodos de trabalho. A melancolia é algo que nos vem acompanhando de há uns tempos, e que começa a ser uma espécie de idiossincrasia nos nossos temas. Ao partir para este disco com a ideia assente de trabalhar o Gótico Português, a pandemia obrigou a um longo período de fermentação deste tema, e inculcou um desencanto mais profundo na nossa abordagem lírica e sonora.

Pondo o Gótico Português lado a lado com o vosso anterior Plástico, esta nova fornada de música parece exigir mais da atenção do ouvinte — não é tão in your face como o que tinham editado antes e, se calhar, até promove uma experiência de degustação que se prolonga mais no tempo. Na vossa perspectiva, esta visão é correcta? Sentem que esta é uma obra mais densa?

Podemos dizer que achamos que o Gótico Português não será o disco ideal para incluir alguns dos seus temas numa playlist de ginásio ou para tocar de fundo enquanto se cozinha. E num período em que a música serve cada vez mais como banda sonora de vida, que se comprova com a popularidade de playlists intermináveis de música sem personalidade para se pôr a tocar enquanto se estuda ou trabalha, é interessante receber reações que promovem esta ideia – de que o disco tem de ser “escutado”, ou que não “entra à primeira”, que é menos generoso ou mais exigente do ouvinte. Bom, seguramente tanto a abordagem temática como os arranjos destas canções distanciam-se da maior imediatez e voluntarismo radiofónico dos temas do Plástico. Há menos amarras e menos contenção – se gostávamos da forma como uma progressão de acordes soava, podíamos tocá-la ad nauseam, ainda que em detrimento da perfeição formal da canção. Alguns coros tentam evocar algum desconforto e também há uma maior economia de meios e uso intencional de sonoridades parecidas que dão consistência estética a canções que até são bastantes distintas umas das outras. Mas nada disto é muito consciente, e só em retrospetiva podemos tratar estas questões com maior clareza.

Já com quase três meses passados desde o lançamento, como têm sido a recepção ao LP? Qual foi o comentário mais inesperadamente certeiro que já receberam?

Talvez não um comentário em particular, mas uma coisa menos palpável que foi perceber a forma como muita gente se relacionou com o Gótico Português. Isto é, houve muita gente a manifestar um alinhamento ou familiaridade com estes temas, com a ideia de margem, com a difícil identidade de quem lhe deve tudo, e que ainda assim é no centro que faz a vida, e de quem entende como se pode ter uma posição crítica em relação às nossas margens – louvar-lhes as qualidades, reconhecer-lhes os problemas, ter delas saudades e fazer juras de que lá nunca mais voltaremos. E, também, de que a identidade portuguesa é mais diversa, mais criativa, mas inventiva e em constante mutação e apropriação do novo, do que aquela que foi cristalizada em termos folclóricos ao serviço de uma ideologia estética política do Estado Novo, e que ainda hoje tomamos como garantida e que é largamente adotada de uma forma acrítica em muita da nossa produção artística e cultural contemporânea.

Agora lançam o videoclipe para a “Margem”. O que vos fez escolher este tema para abordar um novo capítulo visual?

Os avanços anteriores do disco tiveram funções muito distintas. A “Vida Vã” foi uma espécie de carta de intenções, e a “Besta” uma música com maior potencial de promoção do Gótico Português – mais convencionalmente single, digamos. Por diversas razões, estas duas músicas não tiveram direito a um vídeo. Tendo surgido a possibilidade de criar um vídeo, estando o disco cá fora e mais liberto das pressões de ter um single forte, pensámos que seria interessante fazê-lo com uma música que tivesse um grande poder narrativo e simbólico, pelo que a “Margem” nos pareceu a escolha óbvia.

Na peça da Ana Mariz surgem vários cenários e planos de acções distintas, desde o subir a um telhado ao que parecem ser os preparos para uma sessão de fogo de artifício. Destas gravações resultaram alguma história mais caricata que gostassem de contar? Olhando para trás, lembram-se de contratempo ou imprevisto que hoje vos faça rir? 

Será difícil responder a essa questão sem a ajuda da Ana Mariz: nós não estivemos presentes durante a rodagem e produção do vídeo. Ainda o disco estava em preparos e nós já sabíamos que queríamos fazer um vídeo com ela. A Ana é de Barcelos, como nós, e achámos que iria perceber bem aquilo que estávamos a tentar retratar, e traduzi-lo visualmente. Além da Ana, também sabíamos que não queríamos aparecer no vídeo e que seria interessante ter uma personagem interpretada pela Juliana Julieta, uma jovem artista também de Barcelos. Ambas, muito generosamente e para nossa sorte, acederam ao nosso convite. A ideia era algo vaga e consistia em tentar retratar gestos, ações, objetos que tivessem uma qualidade semiótica associada a este espaço físico tão próximo da nossa identidade. Tal como a letra da música, que tem vários elementos simbólicos, sugerimos à Ana que pudesse ser um percurso, não necessariamente coeso, por estes espaços e gestos, a partir do espaço onírico do Museu de Lamas. Dito isto, a Ana teve, no fundo, toda a liberdade para imaginar este vídeo, concebendo-o como uma espécie de sonho desta personagem que é refém da “Margem”. Talvez um paralelo entre o interior, a identidade, o carácter e o espiritual, e o real, o físico, as vivências e as pessoas que compõem este espaço.

Apesar de já terem apresentado o Gótico Português ao vivo, estão agora prestes a partir para aquela que será, provavelmente, a tríade de datas mais importantes desta vossa série de concertos, com passagens em Lisboa, Braga e Porto. Que balanço fazem dos primeiros espectáculos? E preparam alguma coisa de especial para estas próximas subidas aos palcos?

A receção tem sido, francamente, surpreendente. Para uma banda habituada a lidar, por vezes, com salas pouco concorridas, os concertos que demos até agora têm tido a lotação completa, com muita gente a procurar-nos e com vontade de assistir aos concertos. Sentimos que demos já alguns dos nossos concertos mais importantes, que foram fundamentais para ajudar a moldar o som do Gótico Português ao vivo. Estamos, é claro, com muita expectativa para tocar na Culturgest, pelo reconhecimento e responsabilidade que isso implica, mas também com muita vontade de regressar ao gnration, que sempre nos apoiou, e ao Plano B, uma casa a que já não vamos há muitos anos. Para os próximos fizemos algumas alterações ao alinhamento e temos um ou outro truque na manga, que fica para quem nos vier ver.


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