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Texto: ReB Team
Fotografia: Isabel Cordovil
Publicado a: 10/05/2023

Abracem-lhe a dor.

[Estreia] ela li enfrenta as suas sombras em “Choradeira”

Texto: ReB Team
Fotografia: Isabel Cordovil
Publicado a: 10/05/2023

“Choradeira” é o primeiro single de ela li em nome próprio e é agora desvendado em primeira mão pelo Rimas e Batidas.

Cantar é necessário. É o que nos diz ela li numa breve troca de impressões sobre a sua “Choradeira”, que apesar de se tratar de um tema de apresentação teve impacto imediato na nossa escuta. Aqui as lágrimas pingam num alguidar instrumental cuidadosamente moldado por Tayob J., com quem já tinha trabalhado no final do ano passado (em “Canto da Lisa“), e que soma ainda adornos por via das cordas (das guitarras e do tres cubano) dedilhadas por Nuno Melo.

Apesar de este ser o single inaugural da cantora e compositora, o seu percurso na música não começou apenas “ontem”. Na conversa com o ReB, a artista recorda o trabalho que desempenhou em projectos como Mirror People, Maria Reis ou na banda do veterano Flak, músico que a convidou a interpretar uma composição sua na edição de 2019 do Festival da Canção — assinou como Ela Limão em “Mais Brilhante Que Mil Sóis“. O futuro? Esse reserva, certamente, música nova e uma enorme vontade de ela li conseguir levar o que cria em estúdio para cima dos palcos – façamos figas.



O primeiro registo que encontrámos teu é o “LEVE“, de 2021. Já cantavas antes? Fala-nos sobre o teu percurso.

Sempre cantei. Acho que o ato de cantar é algo que pertence ao ser humano, como a corrida ou a dança. Acho que não é só uma coisa bonita esta de fazermos sons com a boca e garganta, é uma coisa necessária fazermos sons com a boca e garganta. Cantar é uma libertação da alma, alivia ansiedades e traumas presos dentro de nós, e pouco importa se alguém considera que cantamos bem ou mal.  

A minha primeira banda na escola foi uma banda de covers dos Metallica. Depois disso cantei em coros, tive outras bandas, cantei bossa nova em casamentos, até cantava música clássica no conservatório. Depois comecei a cantar em bandas mais profissionais — Pedro de Tróia, fui vocalista dos Mirror People, Maria Reis, cantava na banda do Flak e um dia ele convidou-me para interpretar uma música dele no Festival da Canção em 2019.

Entretanto, sempre fui escrevendo e compondo para mim, mas sem nunca publicar nada. Andei ocupada estes anos a viver e a fazer outras coisas que foram igualmente importantes. Vivi em Itália, vivi no Uruguai, lá trabalhava como fotógrafa de cannabis, e viajei bastante sozinha. Acho que esta mistura de vivências e experiências na minha vida me deu vontade de finalmente, aos 30 anos, pôr para fora o que vai cá dentro.

Desse teu primeiro registo partiste para uma colaboração com o Tayob J., na “Canto da Lisa”, e agora tem-lo enquanto produtor do teu novo single. Como é que tem sido trabalhar com ele?

O Tayob além de um profissional muito talentoso e criativo tem um coração de ouro. Não julga, não tem preconceitos, está sempre pronto a ouvir e a aprender com o outro. Trabalhar com alguém assim só pode ser um privilégio. É uma emoção chegar ao estúdio e dizer “bora fazer uma música com uma guitarra inspirada no tema dos Narcos, mas eletrónica, com bolero no meio, uma bridge meio falada em que o tema é a fuga à dor mas que seja dançável e upbeat”. Ele entende tudo o que eu disse e tudo o que não disse e ainda faz melhor. Eu confio-lhe tudo e tenho a certeza que ele também confia em mim. 

Apesar do produtor ser o mesmo, os resultados do “Canto da Lisa” e da “Choradeira” são bastante distintos. Lembras-te do que é que lhe pediste para fazer na canção quando estavam a trabalhar nela? Deste-lhe algum tipo de input?

O “Canto da Lisa” é uma canção dele, ele convidou-me juntamente com o YA SIN para fazermos algo, ele tinha o beat e nós os 3 juntamo-nos no estúdio dele e fizemos a letra e melodias. Foi muito divertido. A “Choradeira” é um tema meu, passei alguns anos até chegar a esta sonoridade. Absolutamente tudo o que está neste tema e nos outros temas que fiz para o meu álbum vêm de mim, das minhas experiências, foi tudo pensado antes, o tipo de instrumentos que queria, as melodias, os coros, o tipo de beat, as influências que queria em cada música e como elas se iriam ligar entre si. Quando cheguei ao estúdio eu já sabia o que queria, a ideia da música já vivia na minha cabeça. É claro que, sem o Tayob, teria sido diferente ou até impossível. Outra pessoa importante de referir é o Nuno Melo que gravou as guitarras e o tres cubano — é outro músico muito talentoso. O que acontece sempre que estamos em estúdio, eu e o Tayob, é que ele me ouve, começa a fazer o beat e eu começo a escrever a letra, vamos trocando ideias e em dois ou três dias temos a música, produzimos em conjunto. 

Fala-me do teu novo tema: como é que nasceu esta composição e que dores e sentimentos quiseste veicular nestas palavras e melodias?

Eu sempre tive tendência a fugir das emoções, daí o viver fora, desaparecer às vezes, passar muito tempo sozinha. Sempre foi difícil para mim processar sentimentos, é muito mais fácil apenas ignorar. Esta música fala sobre isso em parte. É sobre fugir à dor, deixá-la com alguém — “Abracem a minha dor, que fique alguém com ela. Prometo que um dia eu volto, pra buscar o que resta dela.”  Eu sempre achei que se a ignorasse e se fosse para o outro lado do mundo podia viver sem dor, como abrir um livro em branco e começar a escrever uma nova história. Mas o que demorei alguns anos a entender, e o tempo no Uruguai foi muito importante para isto, foi que não dá para fugir a algo que faz parte de nós. Aprendi a lidar com as minhas sombras e a minha dor. No dia em que a aceitei, que processei o que tinha a processar e fiz as pazes comigo, ela adormeceu. Cumpriu o seu papel de professora e eu aprendi a não fugir tanto. Acho que conseguimos passar esta ideia na música. A letra é forte e profunda e podia ser parte de uma balada triste, mas o beat e melodias de guitarra e voz contrastam e trazem uma sensação de alegria e movimento. Ou seja, é triste, mas a dor faz parte da vida. E a vida torna-se muito mais bonita se a aceitarmos como ela é.

O que se segue de ela li a seguir a este single? Tens algum plano mais ou menos traçado?

A seguir a este single, seguem-se outras músicas, outros singles e um álbum que me saiu do peito. O plano é continuar a fazer mais e mais música e começar a dar concertos, que é tudo o que mais quero. O meu ego gostava muito de saber que a minha música chega a outras pessoas e que elas gostam muito dela, mas tirando o ego da equação (um exercício importante de praticar), tudo o que quero é fazer sons com a boca e garganta, libertar a alma e aliviar ansiedades dentro de mim. Se o puder fazer com outras pessoas, então melhor. Como diz no filme Into the Wild, “A felicidade só é real quando partilhada.” E é isso que quero fazer. Ser feliz a partilhar com os outros o que mais gosto de fazer, cantar.


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