pub

Publicado a: 29/03/2018

[Estreia] Dirty Bungalow lança duas beat tapes pela Língua Nativa

Publicado a: 29/03/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTOS] Direitos Reservados

Dirty Bungalow estreou-se recentemente com duas beat tapes pela Língua Nativa. A edição foi feita em cassete e o formato digital de Vegetarian Duck with Meat Salad aterrou hoje no YouTube, com direito a estreia pelo Rimas e Batidas.

 


dirty bungalow


António Almeida é um beatmaker de Leiria que actualmente se divide entre Praga e Lisboa. A sua primeira inscrição no extenso e diversificado mural da cultura hip hop foi através de Meat Salad, uma beat tape de 27 minutos que chamou a atenção dos cibernautas que praticam o diggin pelo SoundCloud. Com 33 anos, confessou à nossa redacção que o bichinho pela produção o poderia ter feito descolar há mais tempo, não fosse um vendedor enganá-lo na hora de adquirir o material necessário para mexer na massa: “Comprei uma caixa de ritmos Boss Dr-3, que é uma bela seca e aborreci-me passado uma semana.”

Em 2016 sentiu que estava na altura de esquecer o dissabor comercial e voltou a sondar o mercado à procura de um “sampler em condições”. A combinação entre o digital e o analógico, por intermédio do Ableton Live, resultou em Meat Salad, editado em Agosto passado numa primeira fase. O sucessor na linhagem das beat tapes, Vegetarian Duck, chegou recentemente ao catálogo da Língua Nativa — selo galego com ligações fortes a Portugal, tendo já editado material de Defski ou VULTO. & Secta.

A estreia do formato digital pela nossa plataforma não poderia ser melhor recebida, já que foi precisamente o ReB que, indirectamente, serviu de intermediário entre as duas partes envolvidas no processo. Dirty B explica: “Descobri aqui, no Rimas e Batidas, o EP do Defski, que foi editado pela Língua Nativa e adorei aquela onda. Falei depois com o Ricardo Cascalhar — a.k.a. Deloise — e enviei-lhe a beat tape Meat Salad. Ele gostou tanto que me pediu mais material.”

Vegetarian Duck with Meat Salad é o prato completo para uma refeição de instrumentais. A circular exclusivamente em cassete desde o dia 12 de Março, chega agora a hora de passar o registo para o mercado digital, que podem escutar já de seguida. A versão física conta com um artwork de André Ruivo e pode ser encomendada através da loja online da Língua Nativa ou nas lisboetas Louie Louie, Peekaboo Records e Flur Discos.

 


Serás certamente uma cara nova perante muitos dos nossos leitores. Fala-nos sobre o teu projecto. Quem é o Dirty Bungalow?

Dirty Bungalow é António Almeida, beatmaker nascido em Leiria com uma especial obsessão pelo sampling. Esta personagem nasceu de uma vontade antiga que eu tinha de fazer beats à lá Sam The Kid, que surgiu depois de ter ouvido o álbum Beats Vol.1: Amor do Sam, do ano de 2002, se não estou em erro. Nesse ano estava com a força toda mas fui enganado por um vendedor e em vez de comprar um sampler — na altura já se encontrava à venda a Sp303 — comprei uma caixa de ritmos Boss Dr-3, que é uma bela seca e aborreci-me passado uma semana. Nunca mais toquei em nada mas agora mais recentemente, em inícios de 2016, esta vontade voltou a crescer outra vez e não tive hipótese. Arranjei um sampler em condições, juntei-lhe o Ableton Live, tutoriais no youtube, um teclado MIDI e convidei alguns amigos a virem a minha casa dar-me umas lições de composição musical. Com o tempo e muitas experiências falhadas apareceu um conjunto de beats que eu achei fixes e achei que podia partilhar, aí nasceu o Dirty Bungalow.

Na cassete que editaste pela Língua Nativa aproveitaste para preencher o lado B com a tua Meat Salad — um projecto que havias já lançado no SoundCloud e que ultrapassou as 2000 plays, um número considerado positivo para uma faixa de 27 minutos. Como foi a recepção desse trabalho?

Foi muito fixe, tive excelentes comentários e malta que eu admiro passou a seguir-me e a dar-me apoio. Nunca pensei que o SoundCloud funcionasse tão bem, ainda por cima criei a minha página na altura em que eles anunciaram que iam fechar. É claro que não me descobriram do nada, passei algum tempo a enviar emails e mensagens, que é a parte mais chata disto tudo, mas acho que valeu bem a pena. Penso que a beat tape tenha funcionado bem porque não é aborrecida: tem 20 musicas durante os 27 minutos e está permanentemente a alterar o espírito. Vai do boom bap até ao future funk, tem cheirinhos lo-fi, vaporwave e ainda vai ao pimba!

 



Destacas na tua biografia a inspiração que vais buscar a produtores como Knxwledge, Kaytranada ou Samyiam, embora demonstres que os teus produtos finais se descolam das sonoridades típicas desses artesãos da batida. Como defines o teu som? Tens algum “ritual” de produção?

Não consigo definir bem o meu som. Sei que tem as bases do hip hop, gosto de estar horas a procurar o sample, trabalhar o loop, acrescentar a batida, meter efeitos, fazer cortes e costuras, acrescentar falas e por aí fora. E talvez seja aqui que me identifique com os produtores referidos. É claro que Knxwledge é mais lo-fi, o Kaytranada mais house e r&b e o Samiyam é uma coisa à parte que parece que faz tudo ao calhas e sai sempre bem. É mais no modo de fazer que me identifico. Também poderia referir Flamingosis, Devonwho ou os clássicos Madlid e Dibia$e e tudo isso me inspira. Também a malta de cá me anda a deixar de boca aberta: sigo religiosamente o DB, Oseias, Minus e Mr. Dolly, Maria, LYFE… Temos cenas tão fixes que uma pessoa acredita que também pode tentar a sua sorte.

Na Língua Nativa tens também um grande leque de músicos inovadores e experimentais. Como surgiu essa ligação à label?

Descobri aqui, no Rimas e Batidas, o EP do Defski, que foi editado pela Língua Nativa e adorei aquela onda. Falei depois com o Ricardo Cascalhar — a.k.a. Deloise — e enviei-lhe a beat tape Meat Salad. Ele gostou tanto que me pediu mais material. Fui-lhe enviando faixas e faixas até que a melhor maneira de as apresentar seria editar um projecto. A cassete foi sem dúvida o formato ideal. Não só por ser de produção barata mas também por ser um artigo que tem um som especifico e identifica-se com a tecnologia lo-fi dos meus beats.

Neste teu mais “fresco” Vegetarian Duck, qual foi a receita que seguiste?

Eu acho que a minha receita é sempre a mesma, divertir-me enquanto estou a fazer os beats. Adoro brincar com samples, mudá-los completamente, meter camadas de efeitos, experimentar todo o tipo de kicks, snares e hats, misturar com outros samples, acrescentar instrumentos tocados por um amigo ou sacados do YouTube e, eventualmente, chego a um ponto em que digo “isto parece-me fixe, então deixa-me por aqui de lado que qualquer dia logo se vê.” Assim que tenha alguns 30 ou 40 que acho bons organizo-os todos e tento encaixá-los de modo fazer um set que se oiça de uma vez e não se torne chato ou cansativo. Acabo sempre por escolher cerca de 20 musicas e não gosto de passar os 25 minutos. Acho que a receita tem que ser sempre a diversão!

 


dirty bungalow

pub

Últimos da categoria: Avanços

RBTV

Últimos artigos