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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 21/07/2023

Rap para gunas que também sabem curtir.

Esquadrilha Pastilha: “Somos um livro de Gondomar que nunca foi escrito”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 21/07/2023

Diretamente de Gondomar chega-nos Gondo, o EP de estreia da dupla nortenha Esquadrilha Pastilha. Carregado de regionalismos e folclore da zona, a esquadrilha mais temida da “Capital da Ourivesaria” nacional rodeou-se de amigos de naturalidade próxima (Logos e DB ou Homem do Robe, que abrirá o seu primeiro espetáculo ao vivo, por exemplo) para criar e uma sonoridade que, apesar de nova, nos soa extremamente familiar, muito próxima do universo dos type beats da cena trap.

O trabalho final é um curto projeto de cinco temas originais — onde contam com a solitária colaboração de LayfeBuoy, também conhecido por Logos — liderado por Pika e Some, que revisitam a recente história do concelho a que chamam casa e ressuscitam uma das personagens mais icónicas das presidências camarária e do futebol nacional, mesmo que nunca tenha pisado um relvado. “Valentim Loureiro”, que mereceu videoclipe a ser divulgado hoje pelas 19 horas, conta com uma interpretação digna de Óscar para David Bruno.

Quem nos dera que, tal e qual Valentim Loureiro distribuía eletrodomésticos aos seus votantes, Pika e Somar presenteassem quem os ouve com uma cópia física de Gondo. Talvez no próximo projeto, porque para já o objetivo é mesmo “espalhar a palavra de Gondomar” e trabalhar em novos temas que hão de ver a luz ainda antes do final do ano.



Antes de mais nada, se calhar apresentamos os Esquadrilha Pastilha. Quem são?

A Esquadrilha Pastilha são um coletivo de artistas e pessoas de Gondomar. Neste momento contamos com o Pika e o Somar, que se encarregam de dar a cara por este grupo, mas contamos com mais de 10 pessoas ligadas a este projeto. Sejam elas artistas urbanos (como é o exemplo do Jamal e do Gael), videografos (como o Al Capelas) ou mesmo tropas Gondomarenses que se identificam com o nosso lifestyle. O nosso percurso parte desde a nossa juventude. Nascemos todos no mesmo concelho, mas de freguesias diferentes. Mas temos todos a mesma vontade, trazer Gondomar de volta para a ribalta.

A nível de papeis, são também vocês os dois (Pika e Somar) responsáveis pela produção?

Não. Apesar de trabalharmos com diferentes produtores, como é o caso do Briga e do Taye do coletivo Cara Podre, que se encarregou da mistura e masterização neste nosso novo disco Gondo, temos sempre uma forma de trabalhar que parte do que está disponível na net — ou seja os type beats. É algo que muitos artistas nacionais e internacionais, atualmente tentam “esconder”, mas nós acreditamos que é um trabalho que flui bem com o que queremos. Isto não significa que fechamos portas a produtores locais ou nacionais. Mas achamos que a estética dos type beats traz um brilho que ninguém quer assumir.

Gondo é o título do EP e uma palavra que nunca tinha ouvido antes, mas que parece uma clara alusão a cidade de Gondomar, várias vezes invocada nos vossos temas. É esse o principal mote do disco, que lhe dá nome? 

Gondo é uma sub-camada de Gondomar. Gondo é a forma como nós e algumas pessoas de Gondomar olham para o concelho por um todo. Falamos de algo mais do que 7 freguesias ou de 165 mil pessoas. Queremos dar voz a todos por um só e isso é o que está na essência da nossa música. É que Gondomar tem muito mais do que o valor que lhe é dado e nós estamos aqui para mostrar isso. Gondo é, mais do que tudo, um lifestyle de quem tem sangue Gondomarense.

A vossa música enquadra-se perfeitamente numa onda recente e ligada ao hip hop que parece explorar o folclore do norte do país em particular, mas sempre sem o levar muito a sério. Um pouco na onda de nomes como o Chico da Tina e os vossos conhecidos DB e Logos, do Conjunto Corona. Concordam com isto? 

Não negamos que quem nos ouve pode vir de outros artistas. Acho que essa nova onda que está a ser criada ainda tem asas para poder voar ainda mais e nós queremos estar aqui para a progredir. E queremos ser pioneiros de um tipo de música que em Portugal deixa alguns ouvidos mal-habituados. Quanto ao hip hop, não acreditamos nisso de “não o levar muito a sério”; é algo que para nós não existe. Nada deve ser levado demasiado a sério ou demasiado não a sério. Mas entendemos quem pensa dessa forma e estamos aqui para mudar isso.



Está o norte a criar uma subcategoria de hip hop inspirado num certo regionalismo? 

O regionalismo no hip hop sempre esteve presente, já desde a altura dos anos 90 em Portugal. Mas acredito que daqui para a frente os artistas de hip hop terão mais influência na zona de origem, ou conseguirão mesmo assumir de onde vieram. Mas acredito que o que acontece neste momento é que as pessoas ainda sentem vergonha, ou medo, de se identificarem com as suas próprias regiões. Eu [Pika] sou de Rio Tinto e na minha zona não existe quase ninguém que se identifique com Gondomar. O mesmo acontece com outras freguesias no mesmo concelho ou fora dele, e o nosso objetivo é a unificação das zonas para um propósito maior — Gondomar. 

Quem são alguns dos artistas que vêem não necessariamente com uma inspiração, mas alguém com quem pudessem partilhar o palco? Ou seja, que combinem bem com a vossa música.

Apesar da nossa música ainda ser “estranha” para alguns, acreditamos que nos encaixamos bem com alguns artistas nacionais, que nos trazem ou não influências. É o caso de Corona, $tag One, Sippinpurpp, Homem do Robe ou mesmo Álcool Club. Sentimos que qualquer um destes artistas seria um bom encaixe, mas isto não significa que estejamos limitados nem a estes exemplos ou mesmo na cena hip hop/rap. Quem sabe um dia partilhamos palco com o Toy.

Como descreveriam a vossa música e o vosso estilo musical? 

A nossa música trata-se de uma vasta influência de rap e hip hop nacional e internacional (old school e new school). Mas o mais importante para nós é a influência das ruas de Gondomar, de onde nascemos e crescemos e observamos o desenvolvimento das nossas tropas e da zona. É isso que está descrito na nossa música. Somos um livro de Gondomar que nunca foi escrito. Sempre com um toque carismático. Fazemos música para gunas que não curtem estar de cara séria todo o dia e sabemos que um guna também sabe curtir. Mas neste momento se tivéssemos que nos categorizar num estilo musical seria “TRAP GUNA DE GONDO”. 

Que podemos esperar de Esquadrilha Pastilha num futuro proximo? Concertos e atuações? Mais musica nova?

Neste momento temos apontado um concerto de apresentação do EP, no Pérola Negra no Porto, no próximo dia 28 de Julho, juntamente com o Homem do Robe dos Conjunto Corona. Esperamos entrar em tour ainda este ano com o objetivo de espalhar a palavra sobre Gondomar. De resto, podem esperar por mais música ainda este ano, algumas com novas sonoridades, mas nunca deixando de parte o que realmente importa para nós, que creio que está mais do que explícito — Gondomar.


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